Cobras-de-água-de-colar bebés (Natrix astreptophora). Foto: Daniel Farinha

Cobras e víboras: Saiba o que estão a fazer agora e como distinguir espécies perigosas das inofensivas

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Estamos a entrar numa das épocas do ano mais importantes para as cobras: os nascimentos. Davina Falcão, coordenadora do projeto Cobras de Portugal, ajuda-o a compreender melhor o que pode encontrar nestes próximos meses e como distinguir espécies perigosas das inofensivas.

É de Agosto a Outubro que em Portugal ocorrem os nascimentos das cobras.

Cobras-de-água-de-colar bebés (Natrix astreptophora). Foto: Daniel Farinha

“As serpentes em Portugal aproveitam espaços seguros, com condições ideais de temperatura e humidade para depositarem os ovos, podendo assim estes incubar com sucesso”, explicou Davina Falcão à Wilder. “Geralmente locais abrigados, com matéria orgânica, são o ideal. Por exemplo, palheiros, eiras, montes de madeira morta, tocas de mamíferos desocupadas, estrume, etc. As espécies ovovivíparas procuram um local seguro para poderem dar à luz sem serem incomodadas por predadores.”

É de esperar que possa encontrar “mudas de pele pequeninas” perto dos locais onde as serpentes eclodiram dos seus ovos. “Geralmente eclodem quase todas ao mesmo tempo e, pouco tempo depois, precisam de fazer a muda. É um sinal evidente de que um local de postura se encontra por perto.”

No entanto, lembrou Davina Falcão, “é preciso lembrar que em Portugal existem espécies ovovivíparas – estas não depositam ovos, mas sim dão à luz várias crias”.

Quando nascem, as serpentes são “completamente independentes” dos seus progenitores. Na natureza, uma cobra vive, em média, entre 10 a 15 anos, apesar de existirem variações consoante a espécie.

E como podemos ajudar as cobras “bebés” nesta época do ano?

“Um dos apelos principais que tenho para as pessoas que querem ajudar estes animais nesta época é manter os seus gatos dentro de casa”, disse Davina Falcão. “Infelizmente, este pequeno felino é responsável por muitas mortes desnecessárias de pequenos animais selvagens.” Além disso, “as pessoas podem espalhar a informação sobre as espécies de serpentes que ocorrem nos seus bairros, de modo a diminuir a hostilidade da vizinhança para com estes animais. Por fim, se tiverem jardins, podem construir pequenos abrigos para elas”, acrescentou.

Perigosas ou inofensivas?

Se algum dia encontrar uma serpente pode ficar descansado. O mais provável é que seja uma espécie inofensiva.

“Em Portugal apenas as víboras são consideradas perigosas. Devo salientar que este termo se aplica apenas no caso de mordedura. Ser perigoso não quer dizer que elas irão nos perseguir para nos morder, ou atacar sem qualquer razão.”

Víbora-cornuda (Vipera latastei) bebé. Foto: Daniel Farinha

No nosso país apenas existem duas espécies de víboras: a víbora-cornuda (Vipera latastei) e a víbora-de-Seoane (Vipera seoanei). “A víbora-de-Seoane tem uma população restrita, principalmente na zona do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Já a víbora-cornuda pode encontrar-se virtualmente em qualquer parte do país.  Há zonas que têm uma densidade maior que outras e diria que o centro e norte do país será mais fácil encontrá-las”, informou a especialista.

E, à primeira vista, é possível perceber se o animal é uma cobra ou uma víbora. Segundo Davina Falcão, “As víboras (consideradas perigosas) têm uma pupila vertical, as restantes espécies têm pupila redonda. Sublinho que se trata de diferenciar “perigosa” de “inofensiva”, e não “venenosa” de “não venenosa”. Por exemplo, a cobra-rateira, com pupila redonda, é venenosa mas é considerada inofensiva. Esta técnica funciona para Portugal e maior parte dos países europeus, mas não se aplica ao resto do mundo.”

Segundo Davina Falcão, “a melhor ferramenta, até agora, para lidar com o medo, tem sido o conhecimento. A maior parte das vezes as pessoas encontram espécies inofensivas. Ensinar a população a saber distinguir as espécies perigosas das inofensivas ajuda imenso a diminuição do medo e a ‘vontade’ de matar serpentes”.


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Descubra aqui as cobras e outros répteis vistos pela comunidade de leitores da Wilder.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.