Vinte e três alunos estão a catalogar os animais e plantas da Maia

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Têm entre 16 e 17 anos, fotografam e identificam as plantas e animais que encontram no município da Maia e mantêm um catálogo digital que já tem mais de 200 espécies. Estes 23 alunos estão assim a promover a biodiversidade local.

A borboleta almirante-vermelho (Vanessa atalanta), o gaio (Garrulus glandarius), a salamandra-de-pintas-amarelas (Salamandra salamandra) e o fungo cauda-de-peru (Trametes versicolor) são quatro das 205 espécies que se sabe viverem no município da Maia.

Anas platyrhynchos. Foto: Sara Faustino

Foram registadas pelo projecto Biodiversidade nos Espaços Verdes da Maia, uma história naturalista que começou em Setembro de 2021.

Nesse ano, “aos alunos de uma turma do ensino secundário do Curso de Ciências e Tecnologias do Agrupamento de Escolas de Águas Santas, na Maia, foi lançado o desafio, na disciplina de Biologia e Geologia, para o seu envolvimento ativo na promoção da biodiversidade da região”, explicou à Wilder o coordenador do projecto Biodiversidade nos Espaços Verdes da Maia, Pedro Pimenta.

“Cada aluno regista fotograficamente e identifica a biodiversidade que encontra nos espaços verdes do município”, acrescentou o professor do Agrupamento de Escolas de Águas Santas e licenciado em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

Até hoje, estes 23 alunos, com 16 e 17 anos, já registaram 205 espécies diferentes. “O destaque vai para os invertebrados e para os vertebrados. Observaram-se um total de 82 espécies de invertebrados pertencentes a 10 ordens. Os lepidópteros e os coleópteros foram as ordens com maior contributo para o projeto”, especificou Pedro Pimenta. A lista dos vertebrados tem 77 espécies, das quais 61 aves, cinco anfíbios, cinco répteis e seis mamíferos.

Pararge aegeria, Jardim da Pícua, Maia. Foto: Matilde Duborjal

Mas este catálogo não ficou “escondido” entre as paredes da sala de aula. Em Abril de 2022, o projecto passou a ter uma conta no Instagram seguida, principalmente, pelo público estudantil, mas também por encarregados de educação e pela comunidade local. Ali, “diariamente, publicamos uma foto com o nome científico da espécie, o nome comum, o local onde foi observada, a data e o autor da fotografia.”

Mantis religiosa. Foto: Catarina Faria

A equipa do projecto submeteu em Fevereiro deste ano o artigo “Borboletas diurnas (Lepidoptera, Rhopalocera) da Maia” que se encontra em processo de revisão, para a revista Ciência Elementar. “Estamos neste momento a concluir mais um artigo sobre as Aves do município da Maia.”

E em Março inauguraram um conjunto de exposições fotográficas junto da comunidade local.

O grande objectivo deste projecto naturalista é “contribuir para o aumento do conhecimento sobre a composição da biodiversidade no município da Maia e sensibilizar, sobretudo o público estudantil, para a sua valorização e conservação”, explicou Pedro Pimenta.

Leonor Pereira

O coordenador do projecto acredita que com este catálogo de espécies, os alunos estão a ajudar o público estudantil a mudar atitudes e comportamentos em relação aos espaços verdes da cidade. Além disso, registar as espécies que temos à nossa porta “desenvolve um sentido de pertença em relação à biodiversidade local, encorajando a sua defesa através da participação cívica ativa e informada,” e ajuda a aumentar o conhecimento sobre a biodiversidade da região.

Paralelamente, estimula-se o gosto pela fotografia da natureza.

Mas como fazem para identificar todas as espécies que fotografam?

Segundo Pedro Pimenta, recorre-se, quando necessário, a guias de campo, atlas, aplicações, plataformas como a BioDiversity4All e a Flora-on.pt e à audição de vocalizações para identificação de algumas aves.

Raphanus raphanistrum. Foto: Beatriz Balbi

“Os vertebrados e a flora são mais fáceis de identificar. No caso das aves, a sua identificação é feita muitas vezes visualmente no local. Nos invertebrados, temos alguma dificuldade em determinadas ordens, pelo que recorremos por vezes ao apoio da plataforma BioDiversity4All e à revista Wilder“, mais concretamente o “Que Espécie é Esta?”.

Para já, “as observações estão registadas em formulários e as fotografias catalogadas (com nome científico, local, data e autor) e armazenadas”.

Calopteryx virgo. Foto: Sara Faustino

Para o futuro, um dos desafios é lançar uma base de dados da biodiversidade da Maia.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.