Que espécie é esta: Argiope lobata

O leitor José Mota fotografou uma aranha a 2 de Setembro em Santo André, Santiago do Cacém, e pediu ajuda para saber a espécie. Sérgio Henriques responde.

Trata-se de uma fêmea de aranha-cesteira-dos-matos (Argiope lobata).

Espécie identificada e texto por: Sérgio Henriques, líder do grupo de especialistas em aranhas e escorpiões da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e especialista da Sociedade Zoológica de Londres.

Esta é uma fêmea de Argiope lobata, uma das maiores e mais belas aranhas da nossa fauna.

A sua coloração prateada pode parecer estranha, mas na natureza a sua forma em roseta permite que passe despercebida por uma planta, enquanto que a sua cor reflete muito bem a luz (e por conseguinte o calor) do sol nos nossos longos dias de verão.

É uma espécie que costuma ser encontrada no meio da sua teia. Mas neste caso parece que foi perturbada e teve de mudar de casa.

São animais muito desastrados no chão (como um leão seria desastroso numa corda bamba), mas na sua teia são rápidos e ágeis predadores que conseguem capturar, paralisar e enrolar as suas presas em poucos segundos.

A sua teia tem a forma característica que estamos habituados a ver em filmes como o homem aranha, ou em decorações do dia das bruxas, a que chamamos na literatura científica de teia orbicular. Esta espécie em particular constrói ainda um zig zag de seda mais espessa no meio da sua teia a que chamamos de stabilementum, por se pensar que serviria para estabilisar teia. Hoje sabemos que as teias são extremamente estáveis sem esta estructura e que o stabilementum serve, na verdade, para evitar que as aves colidam contra a teia, enquanto simultaneamente atraem insectos voadores, como os mosquitos, que pensam ser uma pista de aterragem, no que acaba por ser o seu último voo.

Os machos são muitíssimo mais pequenos que as fêmeas, com uma forma quase afilada e padrão com duas linhas escuras que os fazem parecer membros de uma outra espécie totalmente diferente. São mais frequentemente encontrados a viver nas margens da teia da fêmea, onde ficam a tentar garantir que são o único amor da sua vida. Quando a relação é bem sucedida o resultado é muito bem guardado num saco de ovos em forma de cesto, feito com seda cor de ouro, que também é bastante distinto nesta espécie.

São animais extraordinários de observar e, para mim, é sempre um privilégio poder encontrá-los na natureza.


Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie para o nosso email o seu nome, a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.