Borboleta noturna grande-pavão-noturno (Saturnia pyri). Foto: Velela/Wiki Commons

Porque é que as borboletas nocturnas são atraídas pelas luzes artificiais?

Um dos pequenos grandes mistérios do mundo natural continua a ser a atracção das borboletas nocturnas, ou mariposas, pela luz artificial. Sónia Ferreira, entomóloga, revela as explicações dadas pelos peritos.

Candeeiros de rua ou de jardim e luzes nas varandas das casas são focos de atração e concentração para estes insectos. 

Actualmente, estão inventariadas cerca de 2.600 espécies de borboletas nocturnas em Portugal – como a borboleta-grande-pavão-noturno (Saturnia pyri) e a borboleta-esfinge-das-tílias (Mimas tiliae) –, um número esmagador quando comparado com as 135 espécies de borboletas diurnas.  

Borboleta Grande-pavão-nocturno. Foto: Velela/Wiki Commons

Mas só algumas borboletas noturnas voam de noite e nem todas as que voam de noite são atraídas pelas luzes artificiais. Então, o que está por detrás do comportamento de algumas mariposas? 

“Ainda não há nenhuma teoria oficialmente aceite”, explica Sónia Ferreira, entomóloga e investigadora do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos). 

No entanto, a especialista refere que há algumas teorias que, ao longo dos anos, têm sido defendidas por vários peritos. 

Borboleta-esfinge-das-tílias. Foto: Emanresu/Wiki Commons

Uma dessas teorias diz que tudo se resume a uma questão de “orientação destes insectos pela luz da Lua”. De acordo com esta ideia, as borboletas nocturnas usam a luz brilhante e distante da lua como um farol de navegação, voando sempre transversalmente a essa luz. Mas como a luz da lua está mais distante, as borboletas voam na direcção das luzes artificiais, o que, frequentemente, significa o seu fim. 

Sónia Ferreira refere ainda outra teoria: a de que “as borboletas ficam demasiado estimuladas pela luz artificial e perdem o controlo, voando à volta de candeeiros, por exemplo”. 

Mas ninguém sabe ao certo. Até pode ser que cada teoria seja verdadeira para borboletas diferentes. Afinal de contas, há cerca de 160.000 espécies conhecidas em todo o mundo com comportamentos diferentes. 

Outra pergunta impõe-se. Quais os impactos da poluição luminosa sobre estes insectos? Segundo a entomóloga, “muita luz pode alterar os hábitos das espécies, mas ainda não há dados que o provem”.  

A investigadora acredita que a poluição luminosa “pode aumentar drasticamente a mortalidade de insectos nos candeeiros de rua”. E há aqueles que estão atentos e tiram proveito da situação: os morcegos, que “não hesitam em tirar partido deste ponto de atracção. É comum vermos morcegos entretidos a caçar borboletas noturnas à volta dos candeeiros.” 


Ao longo do ano, a cada mês, a revista Wilder desvenda-lhe alguns dos fenómenos que estão a acontecer no mundo natural, incluindo no Jardim Gulbenkian.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.