Foto: Gilles Pretet/Wiki Commons

Cientistas espanhóis encontraram vestígios de insecticidas em ovos

Uma equipa de investigadores espanhóis detectou restos de insecticidas piretróides em ovos de aves selvagens, depois destes pesticidas comuns já terem sido encontrados em peixes e golfinhos.

 

O novo estudo científico, publicado na revista Environmental Pollution, indica que nunca até agora tinham sido detectados vestígios de piretróides em animais terrestres.

Ethel Eljarrat, da equipa de investigadores, explicou que foram analisadas amostras de 123 ovos, todos não fecundados ou sem viabilidade, de 16 espécies diferentes, adianta a agência espanhola EFE Verde.

Estes ovos foram recolhidos no Parque Nacional de Doñana, uma área protegida na Andaluzia, e pertencem a espécies de aves residentes ou migradoras, como patos e falcões, entre outras. Em 93% das amostras realizadas, a equipa encontrou vestígios de piretróides.

Nas amostras mais contaminadas, os níveis detectados chegaram aos 324 nano-gramas por grama. Foi o caso de aves que se alimentam com resíduos domésticos ou industriais, por exemplo em aterros sanitários, como gaivotas e cegonhas.

“Não podemos determinar se se trata de níveis elevados ou não de contaminação”, disse Ethel Eljarrat, ligada ao Instituto de Diagnóstico Ambiental y Estudios del Agua, citada pela EFE Verde. “Sabemos, todavia, que os níveis detectados são iguais ou superiores aos de outros contaminantes persistentes como os retardadores de chama”, advertiu a investigadora.

Até agora os cientistas consideravam que as aves eliminavam rapidamente os piretróides do seu organismo, devido à rápida metabolização, mas esta descoberta indica que afinal estes pesticidas passam para as novas crias.

Como ainda está por saber se as aves recém-nascidas metabolizam rapidamente estes produtos, “a quantidade de contaminantes transferidas ao nascerem pode ter efeitos tóxicos ainda desconhecidos no organismo”, avisou.

Os piretróides são pesticidas de uso muito comum, utilizados para combater pragas de insectos mas também piolhos, por exemplo, utilizados tanto dentro de casa como na pecuária e agricultura.

Apesar de se degradarem perante a luz solar e acabarem por desaparecer, o uso de piretróides já é tão comum que os focos de contaminação são constantes, adiantou a investigadora.

Ainda não se conhecem muito bem as consequências do uso destes pesticidas sobre os humanos, mas sabe-se que têm efeitos neurológicos e cancerígenos. Alguns destes produtos, como a bidentrina, estão identificados como possíveis cancerígenos pela Agência de Protecção Ambiental dos Estados Unidos.

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.