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Pangolim. Foto: Alfred Weidinger / Wiki Commons

Pangolins africanos em grande risco devido ao aumento da caça

O crescimento da caça aos pangolins africanos está a ameaçar fortemente a sobrevivência destes mamíferos no continente, concluiu um estudo científico liderado pela Universidade de Sussex, que descobriu que o tráfico para alguns países asiáticos é cada vez maior.

 

O novo estudo, publicado na revista Conservation Letters, envolveu académicos e membros de organizações de conservação, e indica que a caça aos pangolins cresceu 150% nas florestas da África Central, entre a década de 1970 e 2014.

Estes mamíferos são o animal mais traficado em todo o mundo e são ainda mais procurados do que o marfim dos elefantes, tanto para serem comidos, como também para serem usados na medicina tradicional.

A equipa internacional de investigadores fez contas e concluiu que todos os anos, cerca de 2,7 milhões de pangolins são retirados das florestas que habitam nos Camarões, na República da África Central, Guiné Equatorial, Gabão, República Democrática do Congo e República do Congo, adianta um comunicado da Universidade de Sussex.

Os cientistas analisaram dados relativos a 113 locais, em 14 países africanos.

 

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O estudo teve ainda outras conclusões preocupantes: os pangolins representam uma fatia cada vez maior de todos os animais caçados em África e continuam a ser muito usadas as armadilhas de laço, apesar de serem ilegais em muitos países centro-africanos. E há cada vez mais pangolins vendidos para alguns países da Ásia.

“O nosso novo estudo mostra que os pangolins africanos estão em risco. Temos agora a oportunidade de assegurar que esta espécie não segue o mesmo caminho de declínio severo dos pangolins asiáticos”, sublinha o investigador principal do estudo, Daniel Ingram. “O envolvimento dos governos e das populações locais vai ser crítico para a conservação dos pangolins africanos.”

“Juntar informação de estudos locais realizados por centenas de investigadores torna possível fornecermos informação vital sobre a exploração regional dos pangolins africanos num período que é crítico para a sobrevivência destas espécies”, indica por seu turno outro cientista da mesma universidade, Jörn Scharlemann.

Pouco se sabe sobre as quatro espécies de pangolins africanos. Tanto o pangolim-arborícola (Phataginus tricuspis), como o pangolim-de-cauda-longa (Phataginus tetradactyla) e o pangolim-gigante (Smutsia gigantea), tal como o panmgolim-comum (Smutsia temminckii) estão classificados como Vulneráveis pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Mas há pouca informação sobre o tamanho das populações, o potencial reprodutivo e o comércio em África.

Ainda assim, a conservação destes mamíferos tem estado no centro das atenções. Em Setembro do ano passado, representantes de mais de 100 países subscreveram a proibição total de comércio internacional de todas as espécies de pangolins, tanto asiáticas como africanas, no âmbito da convenção mundial para o tráfico de espécies, a CITES.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.