Cidadãos desafiados a salvar sapos da Austrália com o telemóvel

A 10 de Novembro foi lançado o FrogID, um inovador projecto de Ciência Cidadã para a Biodiversidade do Museu Australiano. Os cidadãos são desafiados a contar as espécies ameaçadas de sapos do país com a ajuda de uma aplicação para telemóveis.

 

O FrogIDdesenvolvido em parceria com a IBM, utiliza a tecnologia de um telemóvel e um “audio ADN” para descobrir onde estão os sapos em perigo e como os conservar. O projecto foi lançado a 10 de Novembro nos Reais Jardins Botânicos em Sidney para ajudar o primeiro censo nacional australiano destes anfíbios, um dos grupos de animais mais ameaçados do planeta.

A Austrália tem mais de 240 espécies conhecidas de anfíbios, a maioria das quais não existe em mais lugar nenhum do mundo. Algumas espécies estão bem, mas outras registaram declínios dramáticos desde os anos 1980. Quatro extinguiram-se.

 

Pseudophryne australis. Foto: Jodi Rowley

 

Segundo um comunicado do Museu Australiano, a aplicação identifica a espécie de anfíbio pelas vocalizações que o animal está a fazer. Isto porque cada espécie de anfíbio tem um chamamento único. Esta é a forma mais rigorosa de identificar as diferentes espécies. Ao registar e carregar esses chamamentos, através da aplicação, as pessoas estarão a identificar a espécie e a gravar dados sobre a localização, graças a tecnologia GPS. Depois, uma equipa de peritos em anfíbios vai analisar os sons submetidos pelos cidadãos. Os dados ajudarão a mapear as populações destes animais por todo o país e a identificar as áreas e as espécies sob ameaça.

“O poder para salvar os sapos da Austrália está agora na vossa palma da mão, quer estejam num piquenique em família, na escola ou na floresta”, disse Kim McKay, directora do Museu Australiano, em comunicado. “Qualquer pessoa pode descarregar gratuitamente a aplicação FrogID e ajudar a salvar estas espécies vulneráveis, os ‘canários na mina’ das alterações climáticas.”

 

 

Os anfíbios são dos primeiros animais a sentirem o impacto das alterações ambientais. Por isso, o declínio das populações de anfíbios pode ser um sinal de alarme para os impactos das alterações climáticas e da poluição dos ecossistemas.

A instituição espera que até um milhão de australianos descarreguem a aplicação e se dirijam aos parques, riachos e zonas húmidas para se porem à escuta.

“Registar e carregar essas vocalizações vai mapear as espécies de sapos por toda a Austrália e revelar onde estão em risco por causa da perda de habitats, doenças, alterações climáticas e urbanização. Até podem ser descobertas novas espécies de sapos!”, acrescenta o comunicado.

Segundo Jodi Rowley, curadora de anfíbios e répteis e especialista em anfíbios da Austrália, o FrogID vai ajudar a conservar as 240 espécies nativas de anfíbios daquele país, bem como os seus habitats. “A perda de anfíbios terá implicações ao nível da gestão de pragas para a nossa produção agrícola e bem-estar, dado que eles ajudam a controlar as populações de insectos, como os mosquitos. Se eles desaparecerem, ecossistemas inteiros podem estar em risco”, acrescentou.

 

Lançamento da aplicação, em Sidney. Foto: Museu Australiano

 

Rowley, que descobriu 26 espécies de anfíbios na Austrália e na Ásia, salienta que esta nova aplicação “vai-nos permitir tomar decisões de conservação informadas, destinadas a salvar os nossos anfíbios. Mas precisamos que a sociedade faça a sua parte, para que possamos compreender as muitas espécies que temos por todo o país.”

O FrogID é o projecto de Ciência Cidadã bandeira do Museu Australiano e tem o apoio das Bolsas para a Ciência Cidadã do Governo australiano, da IBM Australia e a colaboração de vários outros museus, como o Museu de Queensland e da Tasmânia.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.