Anfíbio. Foto: Re:wild

Estudo: alterações climáticas são uma das mais graves ameaças aos anfíbios do planeta

A destruição dos habitats e as doenças são causas já bem estudadas para o declínio dos anfíbios. Um novo artigo publicado em Outubro na revista científica Nature analisou 20 anos de dados e concluiu que as alterações climáticas estão a emergir como uma das maiores ameaças a sapos, rãs, salamandras e tritões.

O estudo, publicado a 4 de Outubro, baseia-se na segunda avaliação mundial de anfíbios, coordenada pela Amphibian Red List Authority, um ramo do Grupo de Especialistas de Anfíbios da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

A avaliação estudou o risco de extinção para mais de 8.000 espécies de anfíbios de todo o mundo. Dessas, 2.286 espécies foram avaliadas pela primeira vez.

Mais de 1000 peritos de todo o mundo contribuíram com os seus dados e conhecimentos, o que permitiu descobrir que dois em cada cinco anfíbios estão ameaçados de extinção. Estes dados serão publicados na Lista Vermelha da UICN.

Entre 2004 e 2022, um grupo de ameaças empurrou mais de 300 anfíbios mais perto da extinção, segundo o estudo. As alterações climáticas foram a maior ameaça para 39% dessas espécies.

“À medida que os humanos causam alterações ao clima e aos habitats, os anfíbios estão a tornar-se prisioneiros climáticos, incapazes de escaparem para outros locais e fugir ao aumento da frequência e intensidade do calor extremo, incêndios, secas e furacões”, comentou Jennifer Luedtke Swandby, uma das autoras do estudo e coordenadora da Amphibian Red List Authority, no âmbito da organização Re:wild.

“O nosso estudo mostra que não podemos continuar a subestimar esta ameaça”, continuou. “Proteger e restaurar as florestas é crucial não apenas para salvaguardar a biodiversidade mas também para combater as alterações climáticas.”

Foto: Re:wild

A destruição do habitat – como resultado da agricultura, desenvolvimento de infra-estruturas e outras indústrias – continua a ser a maior ameaça comum aos anfíbios, segundo o estudo. Na verdade, a destruição dos habitats afecta 93% de todas as espécies ameaçadas de anfíbios.

Doenças como a quitridiomicose – causada por dois fungos microscópicos e que dizimou várias espécies de anfíbios na América Latina, Austrália e Estados Unidos, por exemplo – e a sobre-exploração continuam a causar o declínio destes animais.

Todas estas causas são exacerbadas pelos efeitos das alterações climáticas.

O estudo também descobriu que três em cada cinco espécies de salamandras estão ameaçadas de extinção, especialmente como resultado da destruição do seu habitat e das alterações climáticas. Hoje, as salamandras são o grupo de anfíbios mais ameaçados do mundo.

Este artigo indica que cerca de 41% de todas as espécies de anfíbios que foram avaliadas estão hoje globalmente ameaçadas e classificadas numa de três categorias: Criticamente Em Perigo, Em Perigo e Vulnerável. Nos mamíferos, essa percentagem é de 26,5%, nos répteis é de 21,4% e nas aves 12,9%.

Quatro espécies de anfíbios foram dadas como extintas desde 2004: o Atelopus chiriquiensis da Costa Rica, o Taudactylus acutirostris da Austrália e os Craugastor myllomyllon e Pseudoeurycea exspectata da Guatemala.

Outras 27 espécies Criticamente Em Perigo são agora consideradas possivelmente extintas.

Foto: Re:wild

Ainda assim, o estudo revelou que 120 espécies melhoraram o seu estatuto na Lista Vermelha desde 1980.

Conservanistas irão usar estas informações para desenhar um plano de conservação mundial, para estabelecer prioridades de conservação à escala global e para influenciar decisores políticos que possam ajudar a reverter a tendência negativa referente aos anfíbios.

“Os anfíbios estão a desaparecer a uma velocidade maior do que aquela a que os conseguimos estudar”, disse Kelsey Neam, um dos autores do estudo e membro da Re:wild. “Enquanto uma comunidade global, é altura de investir no futuro dos anfíbios, o que significa investir no futuro do nosso planeta.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.