Foto: Ocean Alive

Voluntários limpam Sado de televisores e portas de frigorífico

A diversidade de espécies do Estuário do Sado arrisca-se a ser igualada pela diversidade de lixo que ali vai parar. Neste domingo, cerca de 60 pessoas recolheram mais de uma tonelada de resíduos, incluindo televisores e portas de frigorífico.

 

Por estes dias, o Estuário do Sado, uma das zonas mais importantes para aves da Europa, prepara-se para receber as espécies que ali escolhem passar o Inverno. O alimento é abundante e isso é razão mais do que suficiente para flamingos, colhereiros, alfaiates, borrelhos, pilritos, milherangos, águias-pesqueiras, só para nomear alguns.

Estas aves, e as outras que ali ocorrem todo o ano, têm hoje um estuário mais limpo. No domingo, dia 17 de Setembro, 65 voluntários limparam duas ilhas, o Cambalhão e o Cavalo, e uma porção do sapal na Herdade da Mourisca.

“Quando planeámos esta ação não imaginámos conseguir tantas mãos para ajudar a limpar o estuário do Sado. Fomos 65 voluntários!”, disse à Wilder Sílvia Tavares, da Ocean Alive, organização sem fins lucrativos para a conservação dos oceanos.

O dia de trabalho terminou com 1.270 quilos de resíduos recolhidos. Segundo dados enviados à Wilder, foram retiradas do estuário 675 embalagens de sal, 1.863 embalagens de plástico (garrafas de bebidas, embalagens de sal e de alimentos), 160 artes de pesca (principalmente redes, armadilhas e bóias) e 126 garrafas de vidro.

Além destes resíduos, os voluntários encontraram televisores, portas de frigorífico, pneus, lâmpadas, caixas de esferovite, luvas e sapatos. Um total de 690 quilos destes resíduos foi retirado do Sado.

Os 16 voluntários que estiveram na Ilha do Cavalo recolheram 1.116 embalagens de plástico (inclui as embalagens de sal, garrafas de bebidas e embalagens de alimentos), 549 embalagens de sal e ainda 47 redes armadilhas e bóias e 75 garrafas de vidro.

Na ilha do Cambalhão, 25 pessoas recolheram 99 redes, armadilhas e bóias, 17 garrafas de vidro, 654 embalagens de plástico e 126 embalagens de sal.

O outro local onde decorreu esta acção de limpeza, para celebrar o Dia da Limpeza das Praias e a 26ª acção da campanha “Mariscar SEM Lixo”, foi o sapal da Herdade da Mourisca, onde decorria a Feira ObservaNatura. Ali, 24 voluntários juntaram-se para recolher 66 embalagens de plástico, 14 redes, armadilhas e bóias e 34 garrafas de vidro.

As acções de limpeza nas ilhas contaram com o apoio de várias embarcações que transportaram os voluntários e da Câmara Municipal de Setúbal, da Junta de Freguesia do Sado e da Infratróia que fizeram o encaminhamento dos resíduos recolhidos.

A Campanha “Mariscar SEM Lixo” começou em Março de 2016, na Sexta-feira Santa, por tradição o grande pico anual de afluência de mariscadores no estuário, sítio da Rede Natura 2000 e casa da única população de golfinhos residente no nosso país. O grande objectivo da campanha é retirar o lixo marinho do Estuário do Sado, envolvendo a sociedade, e acabar com o mau hábito dos mariscadores do lingueirão e do casulo em deixar as embalagens de sal na maré. Esta campanha recolheu mais de 27 toneladas de lixo e 36.309 embalagens de sal vazias.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

No final de Agosto falámos com Raquel Gaspar, a coordenadora da iniciativa e da cooperativa Ocean Alive, sobre um ano de limpeza no Estuário do Sado. Leia aqui o que foi conseguido até agora.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Que espécies tem observado no Estuário do Sado? Para se inspirar, aqui ficam as imagens de um bando de flamingos que estes leitores da Wilder registaram.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.