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Quatro lagartas de borboletas que podemos encontrar no Outono

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Nesta estação do ano, é provável que encontre lagartas de borboletas durante um passeio no campo ou até nas ruas de vilas e cidades. O investigador João Nunes explica o que estão a fazer estes incríveis animais e sugere quatro espécies para procurar.

No Outono, um pouco por todo o país, as lagartas de algumas espécies de borboletas estão “em trânsito”, em “migrações” silenciosas por entre a vegetação dos campos mas também em caminhos, ciclovias e estradas. Estão a preparar-se para a chegada do tempo mais frio do ano.

São lagartas de espécies como a borboleta-colibri (Agrius convolvuli), a borboleta-Esfinge-da-euforbia (Hyles euphorbiae), a borboleta-do-medronheiro (Charaxes jasius) ou a borboleta-zebra (Iphiclides feisthamelii).

Lagarta da borboleta-colibri. Foto: Jorg Hempel/WikiCommons

Estas lagartas “estão a deslocar-se do sítio de alimentação (por exemplo, a planta-hospedeira) para o local onde decidirem construir o seu casulo (se for uma espécie que o faça) e pupar”, explicou à Wilder João Nunes, investigador de borboletas nocturnas e colaborador no projecto Rede de Estações de Borboletas Nocturnas.

“De modo geral, todas as lagartas dispersam após atingirem o porte necessário para continuar com a metamorfose. Julgo que esta “decisão” impressa nos genes terá um caráter defensivo. Se todas as lagartas pupassem junto à sua planta hospedeira seria muito mais fácil para algum predador eliminá-las a todas…”, explicou o investigador.

Lagarta da borboleta-esfinge-da-euforbia. Foto: Lilly M/WikiCommons

Estas borboletas, que podemos encontrar enquanto lagartas nesta época do ano, têm em comum o facto de passarem o Inverno na forma de pupa.

“No próximo ano, seja na primavera ou no verão (ou ainda no inverno mas já no final) estas emergirão das pupas na forma de borboleta. Grande parte das borboletas constrói o seu casulo no subsolo”, explicou João Nunes.

Lagarta da borboleta-do-medronheiro. Foto: CNICE – MEC/WikiCommons

“Completar a metamorfose e atingir a fase adulta, a fase reprodutora, será sempre o objectivo final. Algumas espécies aprenderam a utilizar essa fase estática para seu proveito, como por exemplo, para se protegerem do inverno ou do verão.”

Segundo João Nunes, “em Portugal temos mais de 2.600 espécies de borboletas nocturnas registadas. Todas elas têm a sua própria fenologia, pelo que acabamos por ser privilegiados em ter tanto borboletas como lagartas todo o ano”.  

Quando encontrar uma lagarta de borboleta e quiser ajudá-la, o investigador diz que “a principal coisa a fazer é não interferir”. Mas há uma excepção, ou seja, quando as lagartas se encontrarem em vias de circulação, como caminhos pedestres, ciclovias e estradas. “Retirá-las e colocá-las na berma é geralmente uma boa prática.” 


Agora é a sua vez.

Registe as lagartas de borboletas que encontrar neste Outono. Se precisar de ajuda para identificar alguma, envie o seu pedido (foto, localidade e data da observação) para o “Que Espécie é Esta?”, através do nosso email: [email protected].


A secção “Seja um Naturalista” é patrocinada pelo Festival Birdwatching Sagres. Saiba mais aqui o que pode ver e fazer neste evento dedicado às aves.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.