Pisco-de-peito-ruivo. Foto: Simonetta_78/Pixabay

Como tornar a sua propriedade amiga das aves

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O leitor Ney Teixeira gostava de plantar árvores que produzam alimentos para os pássaros e assim tornar a sua propriedade na região de Monção mais amiga destes animais selvagens. A SPEA sugere o que pode fazer.

“Sou novo em Portugal e estou procurando como aumentar o número de aves selvagens. Tenho uma propriedade com árvores frutíferas na região de Merufe, Monção, e nunca vejo pássaros a vir aqui comer. Compro sementes como painço e alpista. E tenho o que vocês chamam de coutadas, com muitas árvores. Quero plantar árvores que possam produzir alimentos para os pássaros. Gostaria de saber os vossos pontos de vista”, escreveu o leitor à Wilder.

Pedimos ajuda à Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e aqui ficam as suas sugestões daquilo que podemos fazer para tornar uma propriedade mais amiga das aves.

Para as aves é sempre bom ter um bebedouro ou mini-charco na sua propriedade (a água atrai sempre a fauna, principalmente no verão), de preferência com as bordas baixas, para um aumento gradual a profundidade.

Para além de ter um, ainda pode reforçar a vegetação do seu jardim com as seguintes espécies que fornecem bagas no verão/outono que as aves gostam: Arbusto pilriteiro (Crataegus monogyna), roseira-brava (Rosa canina) e silva (Rubus ulmifolius).

Pisco-de-peito-ruivo. Foto: Simonetta_78/Pixabay

Estas podem ser dispostas de forma a preencherem o espaço e a ficarem dispostas em vários estratos de altura, conferindo uma variedade de micro-habitats para a fauna.

Também pode tê-las como sebe e, nesse caso, são um excelente abrigo para as espécies mais pequenas, como a carriça ou a ferreirinha.

São também bons refúgios paredes recobertas com trepadeiras, por exemplo com hera (Hedera helix), salsaparrilha (Smilax aspera), uma trepadeira da qual os melros gostam de comer as bagas, sendo inclusive, dispersores das suas sementes e madressilva (Lonicera peryclemnum).

Trepadeira (Certhia brachydactyla). Foto: Jac. Janssen/Wiki Commons

Outras árvores/arbustos bons pelas suas bagas são o sabugueiro (Sambucus nigra), o espinheiro-preto (Rhamnus lycioides), o aderno (Rhamnus alaternus) ou o medronheiro (Arbutus unedo).

As árvores de fruto atraem muitos pássaros de canto melodioso, como o melro, o estorninho, o tentilhão, as toutinegras mas também são essenciais para as trepadeiras. Experimente o sanguinho (também como sebes), a cerejeira (Prunus avium) e o azevinho (fêmea) (Ilex aquifolium).

Estrelinhas, chapins e don-fafes apreciam as coníferas, como o pinheiro ou o abeto.

Outros arbustos espontâneos – como a giesta, o rosmaninho, alecrim e as urzes, pelo facto de atraírem insectos polinizadores – também acabam por atrair pássaros insectívoros, como as felosas, toutinegras, piscos, etc.

Toutinegra-dos-valados (Sylvia melanocephala). Foto: Andreas Trepte/Wiki Commons

As zonas abertas, como relvados, num jardim atraem outras aves, como as alvéolas e os melros. Algumas flores que dão sementes são um excelente atractivo para as aves no Outono-Inverno, altura em que a maioria dos pássaros recorre às gramíneas como fonte de alimento. De entre as várias que produzem gramíneas, seleccionámos aquelas que são espontâneas em Portugal, pois muitas vezes nem é preciso cultivá-las:

Erva-do-bom-pastor (Capsella bursa-pastoris), tanchagem-menor (Plantago lanceolata), Morugem (Stellaria media), cardo-vulgar (Cirsium vulgare), cardo-bravo (Dipsacus fullonum), urtigas (Urtica sp.), dente-de-leão (Leontodon), Taraxacum sp., ranúnculos (Ranunculus sp.).

Contudo, são também bastante indicadas algumas plantas ornamentais com sementes grandes, como por exemplo o girassol (Helianthemus sp).

Não só as espécies mas também o arranjo do jardim é importante para as aves: sebes densas, por exemplo de ciprestes, fornecem abrigo; telheiros e telhados albergam rabirruivos, pardais e andorinhas, aves que são excelentes controladoras de moscas e mosquitos.

Chapim-real (Parus major). Foto: Luc Viatour/Wiki Commons

Muros e edificações antigas são uma casa para várias espécies.

Se quiser ainda oferecer possibilidade de nidificação para as aves pode fazer ou comprar caixas-ninho para chapins, caixas-ninhos abertas para outros pássaros, caixas-ninhos para andorinhas: Pode ver alguns modelos aqui.

Votos de boa sorte e um jardim cheio de aves!

Para saber mais:

http://www.vivelanaturaleza.com/naturalista/atraerAves.php

http://www.ornithomedia.com/pratique/conseils/semez-laissez-pousser-fleurs-qui-produisent-graines-pour-oiseaux-00595.html#at_pco=smlwn-1.0&at_si=572ca12efb9a59c7&at_ab=per-2&at_pos=0&at_tot=1

José Costa, Jaime Ramos, Luís Silva, Sérgio Timóteo, Pedro M. Araújo, Marcial S. Felgueiras, António Rosa, Cláudia Matos, Paulo Encarnação.


Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.