Aves do mês: o que ver em Março

Início

Cinco aves a não perder este mês, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.

Esta série de artigos “aves do mês” teve início em Março de 2023 e desde então percorremos todos os meses do ano. Para cada um deles sugerimos cinco espécies que são relativamente fáceis de encontrar durante esse mês, o que nos levou a um total de 60 espécies. Contudo, muitas outras aves ficaram por mencionar e, assim, foi decidido que esta secção iria continuar. Nesta segunda série, que servirá de complemento à anterior, serão sugeridas novas espécies que não foram referidas na “primeira volta”.

Peneireiro-de-dorso-malhado (Falco tinnunculus):

Peneireiro-de-dorso-malhado (Falco tinnunculus). Foto: José Frade

O que está a fazer em Março: Tal como sucede com a maioria das espécies residentes, estes falcões iniciam em Março a sua reprodução, havendo já algumas posturas durante este mês.

O peneireiro-de-dorso-malhado apresenta um tamanho médio, tem as asas pontiagudas e a cauda comprida. O macho tem a cabeça e a cauda cinzentas, com um bigode escuro abaixo do olho, e tem o dorso cor de ferrugem com muitas pintas pretas. A fêmea é menos contrastada, com a cabeça castanha, e tem a cauda barrada. Peneira com frequência.

Esta espécie pode ser vista a caçar em zonas abertas, como sejam campos agrícolas, pastagens, pousios ou terrenos incultos com pouco mato. Os seus ninhos são instalados em construções, escarpas ou ninhos de outras aves. Em anos recentes, tem havido vários casos de nidificação em ambiente urbano, sendo os ninhos instalados em varandas ou floreiras, geralmente em andares bastante elevados.

O nome peneireiro está associado ao verbo peneirar, que significa voar parado, isto é, conseguir voar ficando no mesmo lugar. Para isso, voltam-se contra o vento e batem as asas de modo a gerar um impulso para a frente que iguale o impulso do vento para trás – conseguem assim ficar como que imóveis no ar. Este tipo de voo é usado para conseguir prospectar melhor o terreno, em busca das pequenas presas de que se alimentam.

Onde ver: lezíria grande de Vila Franca de Xira, cabo Espichel, cabo de São Vicente.

Chapim-azul (Cyanistes caeruleus):

Chapim-azul (Cyanistes caeruleus). Foto: José Frade

O que está a fazer em Março: A época de reprodução está a começar e durante este mês a maioria dos chapins-azuis inicia a construção do ninho. As posturas acontecerão principalmente em Abril.

Mais pequeno que o chapim-real, o chapim-azul identifica-se sobretudo pelo padrão da cabeça: face branca, lista ocular preta e coroa azul. As partes inferiores são amareladas, com uma estreita risca preta no macho, sendo o dorso esverdeado. Os juvenis são semelhantes, mas com as cores mais esbatidas.

O chapim-azul frequenta meios arborizados muito diversos, incluindo todo o tipo de bosques, sebes com árvores, matas ribeirinhas, pomares, olivais, parques e zonas de arvoredo disperso. Ocorre nas grandes cidades, sendo o chapim mais frequente em meio urbano, onde aprecia jardins públicos e avenidas arborizadas, mesmo em zonas de vegetação exótica. 

Esta espécie nidifica em cavidades, o que significa que o seu ninho é construído dentro de buracos, seja de árvores ou de construções. Por este motivo, o chapim-azul é grande apreciador de caixas-ninho – estas devem ser colocadas antes do início da época de nidificação, de modo a que a caixa já esteja disponível quando as aves começam à procura de um local para procriar.

Onde ver: qualquer área arborizada de norte a sul do país, de preferência árvores de folha larga.

Periquito-de-colar (Psittacula krameri):

Periquito-de-colar (Psittacula krameri). Foto: José Frade

O que está a fazer em Março: Por se tratar de uma espécie introduzida, que é nativa de outros continentes e climas, o seu calendário de reprodução é diferente do das nossas espécies autóctones. A época de nidificação tem início em Dezembro. Assim, em Março já deverá haver crias nos ninhos.

Este psitacídeo de tamanho médio identifica-se pela plumagem verde, pela cauda muito longa e pelas asas afiladas. O bico é vermelho. O macho apresenta um colar escuro. A espécie é muito ruidosa e faz-se frequentemente notar pelas suas vocalizações estridentes.

A principal zona de ocorrência em Portugal do periquito-de-colar, espécie originária da África tropical e do sul da Ásia, situa-se na área da grande Lisboa, onde frequenta sobretudo jardins e parques. Existe também uma pequena população na região do grande Porto e, localmente, noutros pontos do país.

Em Portugal, este periquito alimenta-se de diversas espécies vegetais. Já foi registada a ingestão de bagas de sanguinho-das-sebes, de sementes retiradas do interior de gálbulas de ciprestes, de laranjas em pomares, de tâmaras e de cerejas. Nos jardins do Palácio Nacional de Queluz, alimenta-se em grande medida de citrinos.

Onde ver: jardins de Lisboa e arredores, jardins do Porto, parque Dom Carlos I (Caldas da Rainha).

Galeirão (Fulica atra):

Galeirão (Fulica atra). Foto: José Frade

O que está a fazer em Março: O galeirão é um nidificante precoce e muitas vezes as primeiras posturas acontecem ainda em Fevereiro; contudo, a maioria ocorre já no mês de Março.

Do tamanho de um pequeno pato, o galeirão identifica-se pela plumagem preta, contrastando com o bico e a placa frontal, que são brancos. As patas têm dedos lobulados. Mistura-se muitas vezes com outras aves aquáticas, nomeadamente galinhas-d’água, patos e mergulhões.

O galeirão pode ser visto em lagoas costeiras, pauis, açudes e albufeiras, preferindo claramente zonas húmidas de média ou grande dimensão ainda que, por vezes, apareça em pequenos açudes. Aprecia locais ricos em vegetação subaquática e com áreas pouco profundas com alguma vegetação emergente (como seja caniço ou tabua), onde possa instalar os ninhos.

Até ao final da década de 1990 era habitual realizar-se uma caçada anual aos galeirões na lagoa de Santo André, situada no litoral alentejano. Contudo, no ano 2000 esta zona húmida foi classificada como reserva natural e a caça deixou de ser aí praticada.

Onde ver: lagoa de Albufeira, lagoa de Santo André, lagoa dos Salgados.

Poupa (Upupa epops):

Poupa (Upupa epops). Foto: José Frade

O que está a fazer em Março: Com a aproximação de uma época de reprodução, as poupas cantam agora com mais intensidade e o mês de Março é um dos melhores para ouvir o canto desta espécie – este consiste numa sequência característica «hup-hup-hup», composta geralmente por três ou quatro notas.

Um pouco mais pequena do que um pombo, a poupa identifica-se pela plumagem ocre, pelo padrão preto e branco nas asas e pela crista, muitas vezes recolhida, mas em forma de leque quando levantada. Voa com batimentos profundos das suas asas largas.

A poupa distribui-se por todo o território, sendo claramente mais abundante nas zonas mais áridas do centro e do sul. Frequenta locais bastante variados, muitas vezes preferindo mosaicos com bosques, culturas, pousios e pastagens. É frequente junto a quintas, nomeadamente em sítios com gado. Não é rara nas imediações de zonas habitadas, como certas aldeias, surgindo mesmo nalguns terrenos suburbanos, mas normalmente evita zonas densamente edificadas.

É costume dizer-se que o ninho da poupa cheira mal porque as aves não fazem a higiene do ninho. Na verdade, a origem do mau cheiro está relacionada com a glândula uropigial das crias, que permite ejectar um líquido de odor pestilento e que funciona como defesa contra predadores.

Onde ver: terrenos agrícolas em planície, de norte a sul do país.