Uma nogueira no outono. Foto: JLPC/Wiki Commons
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O que procurar no Outono: a nogueira-comum

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Carine Azevedo conta-nos tudo sobre esta árvore naturalizada em Portugal desde há muitos anos, que nesta época nos presenteia com os seus saborosos frutos secos, as nozes.

Muitas espécies exóticas foram introduzidas por possuírem um valor socio-económico importante, sendo por esse motivo plantadas e geridas continuamente.

Algumas destas espécies naturalizaram-se, ou seja, encontraram condições de desenvolvimento favoráveis para se expandirem naturalmente na natureza, mantendo-se em equilíbrio com as espécies nativas durante muito tempo.

A nogueira-comum (Juglans regia) é uma espécie florestal de grande importância, pela produção de fruto e de madeira, que terá sido introduzida há muitos anos em Portugal Continental. No entanto, estudos recentes parecem revelar a sua presença desde há muitos anos, antes dos registos da sua introdução para o cultivo pelo homem.

 

Nogueira-comum

A família Juglandaceae, a que pertence a nogueira-comum, engloba pouco mais de meia centena de espécies, divididas em nove géneros botânicos que se distribuem principalmente pelas regiões temperadas do Norte, podendo encontra-se de forma espontânea em qualquer continente, exceto nos pólos. O género Juglans é o mais representativo desta família, com 21 espécies.

A nogueira-comum (Juglans regia), conhecida simplesmente como nogueira ou nogueira-europeia, é uma árvore que pode medir até 25 metros de altura e dois a três metros de diâmetro. É caracterizada por um tronco sólido e por uma copa ampla, arredondada e muito ramificada. O tronco é revestido por uma casca lisa, castanho-esverdeada, que se torna mais escura e com fendas verticais à medida que envelhece.

Uma jovem nogueira. Foto: Cristina Comanici/Wiki Commons

A nogueira é uma árvore de folhagem caducifólia. As folhas são verdes, compostas, imparipinuladas, com cinco a nove folíolos, elípticos a ovados, com pecíolos muito curtos ou inexistentes. Os folíolos são inteiros, de base mais ou menos arredondada, oblíqua, com frequência assimétrica e ápice agudo ou ligeiramente acuminado. O folíolo terminal é maior do que os restantes.

O formato característico das folhas facilita a sua identificação. Além disso, tanto as folhas como a casca verde dos frutos, quando esmagados, libertam um intenso e característico aroma.

A floração da nogueira ocorre nos meses de abril e maio e ocorre antes da formação das folhas. Como espécie monóica que é, as flores, masculinas e femininas, ocorrem na mesma planta.

Flores masculinas da nogueira. Foto: Günter König/Wiki Commons

As flores masculinas são pequenas, amarelo-esverdeadas, formadas unicamente por sépalas e estames. Surgem dispostas em amentilhos cilíndricos e pendentes, no ápice dos ramos do ano anterior. Por sua vez, as femininas são quase imperceptíveis e peludas e crescem individualmente ou em pequenos grupos (até cinco flores), surgindo na extremidade dos ramos do ano.

Flores femininas da nogueira. Foto: Günter König/Wiki Commons

É das flores femininas que surge o fruto. Este é uma trima subglobosa, com quatro a cinco centímetros de comprimento, formada por uma casca verde e lisa, ligeiramente carnuda, que se torna negra e se desprende depois de secar. Por dentro encontra-se a semente, conhecida por noz, que possui uma parede lenhosa e rugosa, bivalve e castanho-clara quando madura. O interior é dividido em quatro lóculos, onde se encontra a parte comestível.

Os frutos da nogueira, ainda verdes. Foto: Jan Mehlich/Wiki Commons
O fruto da nogueira já maduro, com o interior à mostra. Foto: Böhringer Friedrich/Wiki Commons

A maturação dos frutos ocorre sobretudo durante o outono, embora algumas variedades possam amadurecer ainda no final do verão.

Nativa ou exótica naturalizada

A nogueira é uma espécie com origens asiáticas e europeias. Pensa-se que será nativa do oeste da Ásia, da Ásia Central e do sul da Europa, embora alguns autores refiram que terá sido introduzida na Europa pelos Romanos.

Em Portugal, é uma árvore exótica que se naturalizou facilmente, sendo referida como assilvestrada em algumas localizações do território nacional, nomeadamente em Trás-os-Montes e no Alto Alentejo. É mais comum no Centro e Interior Norte.

No entanto, estudos recentes revelam a presença desta espécie em território nacional desde há muitos anos, ainda antes de ter sido introduzida e cultivada pelos humanos.

Ramagens da nogueira-comum. Foto: Lukáš Mižoch/Wiki Commons

É uma espécie de média luz, que prefere locais abrigados. Tem uma grande capacidade de adaptação a diversos tipos de solos, que devem permitir uma drenagem rápida e ao mesmo tempo uma boa retenção de água. Os solos devem ser frescos, profundos e ricos em matéria orgânica.

A nogueira é sensível à asfixia radicular – o encharcamento do solo provoca falta de oxigénio nas raízes, limitando a sua capacidade de respirar, não sendo por isso aconselháveis os solos argilosos e muito húmidos.

É uma espécie bastante rústica e resistente ao frio intenso, podendo suportar temperatura até -20ºC, moderadamente tolerante à secura e sensível às geadas tardias, que afetam a floração.

Embora a nogueira seja uma espécie auto-fértil ou auto-compatível, a polinização é muito difícil, ocorrendo exclusivamente por ação do vento – um processo conhecido como polinização anemófila. Os seus frutos são muito apreciados por vários animais roedores, como ratos e esquilos, mas também por vários pássaros.

Nozes e madeira

A nogueira cultiva-se fundamentalmente pelo fruto. Em anos de boa colheita, uma árvore adulta pode produzir até 150 kg de nozes.

A noz é um fruto seco que no seu interior possui uma semente comestível, de sabor agradável e muito nutritiva. É a oleaginosa mais rica em cobre e zinco, rica em ácido linoleico, vitamina E, vitaminas do complexo B, fibras, proteínas e ómega-3.

Pode ser consumida ao natural ou na confecção de vários pratos, molhos e sobremesas – bolos, gelados, entre outros. Das nozes também se obtém o óleo de noz, utilizado como óleo alimentar e em saladas.

Um fruto já maduro e aberto. Foto: KaiMartin/Wiki Commons

A partir das nozes ainda verdes, que ainda estão mal desenvolvidas, pode obter-se um licor de sabor picante, doce e ligeiramente amargo, que é servido como aperitivo ou regado com sorvete de baunilha. A noz é muito calórica, pelo que deve ter-se algum cuidado para não a consumir em excesso.

A nogueira é também reconhecida tradicionalmente como uma planta medicinal. Possui ação anti-helmíntica, antiparasitária, antisséptica, diurética, fungicida, digestiva, adstringente, hipoglicemiante, tónica, vermífuga, entre outras. Sendo tradicionalmente usada para tratamentos comuns, como asma, cólicas, conjuntivite, constipações, disenteria, inflamações, intoxicações, etc.

As nozes em particular ajudam a combater a fadiga, o cansaço físico, o mau colesterol e a diabetes. Também ajudam a prevenir a arteriosclerose, doenças cardíacas, esterilidade e outros problemas sexuais, bem como problemas do sistema nervoso.

Nozes por abrir. Foto: fir0002/Wiki Commons

A partir das suas folhas pode ser feito um chá que auxilia na redução da glicose, na cicatrização de feridas e erupções cutâneas. Também funciona como um excelente repelente de insetos.

A madeira da nogueira é considerada nobre e uma das madeiras mais valiosas. Possui uma dureza comparável com a madeira do carvalho (Quercus sp.), mas mais fácil de trabalhar. É uma madeira de tons vivos e escuros, bastante decorativa, utilizada sobretudo no fabrico de mobiliário de qualidade e no revestimento interno de edifícios. Também pode ser utilizada em talha e para culatras de armas de fogo.

A casca do tronco, as folhas e a casca das sementes (nozes) são usadas para obtenção de corantes. Do fruto também se extraem óleos com aplicações industriais em tinturaria, cosmética e vernizes, que também podem ser usados como combustível.

Árvore de grande longevidade

A denominação científica desta espécie tem origem latina. O nome do género Juglans deriva da combinação dos termos jovis– (= “Deus” = “Júpiter”) + –glans (= “noz”), ou seja, “a noz de Júpiter”, em alusão ao facto desta planta ter sido no passado, consagrada a Júpiter. O restritivo específico regia por sua vez, deriva do termo rex, régis, isto é “real”, “digno de um rei”, muito provavelmente pela nobreza da sua madeira.

A nogueira apresenta um crescimento lento, mas possui uma grande longevidade, podendo viver cerca de 300 anos ou até mais.

Na Capadócia (Turquia), junto ao Convento Dervish de Haci Bektas Veli em Hacibektas, há registo de um exemplar que terá sido plantado no ano 1300, que terá atualmente 722 anos.

A nogueira é uma árvore de grande vigor, com uma postura majestosa. A sua sombra poderá ser mais um dos motivos para a ter em qualquer jardim ou espaço verde.

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Dicionário informal do mundo vegetal:

Caducifólia – planta cuja folha cai espontaneamente na estação do ano mais desfavorável.

Composta – folha cujo limbo (parte mais larga da folha) é dividido em vários folíolos.

Limbo – Parte larga de uma folha normal.

Imparipinulada – folha composta por vários folíolos em ambos e que termina em número ímpar.

Folíolo – cada uma das partes em que o limbo, de uma folha composta ou recomposta, se divide.

Elíptica – folha com forma que lembra uma elipse, mais larga no meio e com o comprimento duas vezes a largura.

Pecíolo – pé da folha que liga o limbo ao caule.

Acuminada – folha cuja ponta é geralmente aguda e mais estreita que a restante parte e com os lados ligeiramente côncavos.

Monóica – espécie que apresenta flores femininas e masculinas separadamente na mesma planta.

Amentilho – Inflorescência semelhante a uma espiga, onde as flores, geralmente unissexuais, surgem agrupadas num eixo comum. 

Inflorescência – forma com as flores estão agrupadas numa planta.

Trima – pseudofruto drupáceo típico da nogueira.

Lóculo – cavidade ou compartimento do fruto, onde se alojam as sementes.

Auto-fértil – planta cujas flores produzem sementes como resultado da polinização pelo pólen da mesma flor ou de flores do mesmo indivíduo.

Auto-compatível – capaz de se autofecundar.

Polinização anemófila – realizada pelo vento.


Todas as semanas, Carine Azevedo dá-lhe a conhecer uma nova planta para descobrir em Portugal. Encontre aqui os outros artigos desta autora.

Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas. 

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