Que espécie é esta: toca de aranha-lobo

O leitor Diogo Valença encontrou estes buracos na Praia do Barranquinho, no Algarve, a 14 de Agosto e pediu ajuda na identificação. Pedro Sousa responde.

“Num passeio pelas arribas junto da praia do Barranquinho, Algarve, deparei-me com estes ninhos, com entradas de 3 a 4 centímetros. Venho para estas zonas desde que nasci e nunca tinha reparado. Podem-me ajudar a identificar a espécie?”, escreveu o leitor à Wilder.

Tratar-se-ão de tocas de aranha-lobo (Lycosa hispanica).

Espécie identificada e texto por: Pedro Sousa, investigador do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos).

Não existindo uma foto da aranha não posso oferecer 100% de certeza, mas tenho poucas dúvidas em afirmar de que se tratam de tocas de Lycosa hispanica (Walckenaer, 1837).

Esta grande aranha-lobo (familia Lycosidae) é a única espécie desta família presente em Portugal continental que constrói e vive em tocas dessas dimensões. 

É comum estas aranhas construírem um rebordo ou “torreão” subido na entrada da toca com restos de vegetação unidos com seda.

Durante muito tempo foi conhecida como Lycosa tarantula (Linnaeus, 1758), mas estudo genéticos demonstraram que esta segunda espécie é diferente da L. hispanica, que se conhece da Península Ibérica e Norte de Marrocos. Já a L. tarantula ocorre a este dos Pirinéus no sul de França e na Península Itálica.

Incertezas taxonómicas ainda existem até certo ponto sobre as grandes aranhas lobo ibéricas e europeias. Estas grandes aranhas foram alvo de muitos trabalhos taxonómicos, mas que por vezes apenas acrescentaram camadas de dúvidas em torno da identidade das aranhas desta família.

O leitor Diogo Valença pode tentar observar o animal que vive no interior “chateando” com cuidado a aranha com uma palhinha.

Poderá ser “prendado” com um ritual de aviso, em que a aranha surge na entrada da toca mostrando os anéis brancos e pretos de aviso que tem na parte inferior das patas, que podem ainda ser amarelas na região das coxas (segmento mais próximo ao corpo). Também terá uma boa visão das suas grandes quelíceras!

No entanto, é crucial não estimular em demasia a aranha, pois esta pode abandonar a toca ou perder parte das crias se nesta altura estas já tiverem nascido e subido para cima do abdómen da mãe.


Agora é a sua vez.

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Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.


Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.