Abutre-preto. Foto: CRAS/UTAD

Abutre-preto recuperado de uma asa fraturada vai ser devolvido à natureza

O Centro de Recuperação de Animais Selvagens (CRAS) do Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro vai devolver hoje à natureza um abutre-preto (Aegypius monachus), a maior ave do nosso país, nas arribas do Parque Natural do Douro Internacional.

A libertação acontecerá a partir do meio-dia no miradouro do Carrascalinho (situado em Fornos, concelho de Freixo de Espada à Cinta), em pleno Parque Natural do Douro Internacional (PNDI).

Esta ave de rapina, que está referenciada como espécie Criticamente em Perigo em Portugal, chegou ao CRAS em Outubro do ano passado. “Apresentava uma asa fraturada na sequência de um disparo enquanto sobrevoava o Parque Nacional da Peneda-Gerês”, segundo um comunicado da UTAD enviado à Wilder.

Abutre-preto. Foto: CRAS/UTAD

O abutre-preto foi submetido a uma cirurgia ortopédica e a tratamento de suporte. 

“Depois de ossificada a fratura, iniciou um processo de fisioterapia e de reabilitação motora, até recuperar a forma física”, contou Filipe Silva, diretor do Hospital Veterinário da UTAD. “Nesta última fase, esteve num túnel de voo com outros abutres para socializar e poder demonstrar os comportamentos sociais típicos da espécie.”

A partir de agora, todos os voos deste abutre-preto vão ser monitorizados pela equipa do projeto LIFE Aegypius return, através do sistema de posicionamento global (GPS). “O seguimento por GPS permitirá obter mais informação sobre os seus movimentos e a longevidade daqui em diante”, explicou Filipe Silva.

O abutre-preto pode atingir os três metros de envergadura e nidifica quase exclusivamente em árvores (ocasionalmente, pode nidificar em penhascos). Trata-se de uma espécie monogâmica, necrófaga e não migratória, mas os indivíduos juvenis realizam frequentemente movimentos de dispersão.

O momento da libertação no miradouro do Carrascalinho será acompanhado por membros do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), da Palombar – Associação de Conservação da Natureza e Património Rural, do Centro de Interpretação Ambiental e Recuperação Animal (CIARA), por vigilantes da Natureza do PNDI e por quem quiser assistir.

Em Março deste ano, o CRAS devolveu à natureza um outro abutre-preto, tendo sido libertado na zona de Freixo de Espada à Cinta (no Parque Natural do Douro Internacional), depois de uma longa recuperação

Só este ano, o CRAS já devolveu mais de 50 animais ao seu habitat.

O abutre-preto é uma espécie Criticamente em Perigo de extinção em Portugal, onde existe um reduzido número desta espécie. Actualmente, estima-se que existem no país cerca de 40 casais, distribuídos por quatro núcleos reprodutores: Tejo Internacional, Alentejo, Serra da Malcata e Douro Internacional.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.