Aves e morcegos arriscam-se a perder sítios para nidificar nas cidades, alerta SEO/Birdlife

Ninho de andorinhas. Foto: Jorge F. Orueta

A Sociedade de Ornitologia Espanhola (SEO/Birdlife) alerta para o desaparecimento de locais de nidificação e abrigo para aves e morcegos por causa da reabilitação de edifícios e considera que esta é uma das maiores ameaças para a fauna urbana.

Nos próximos anos serão reabilitados mais de um milhão de edifícios públicos e privados em Espanha, o que pode ter um “efeito devastador sobre as aves e outras espécies que dependem destas infra-estruturas para fazer ninho ou para se refugiarem”, alertou a 10 de Março a organização espanhola num comunicado enviado à Wilder.

Se não forem tomadas medidas, está em causa a própria sobrevivência de aves como as andorinhas.

Todos os anos, durante a Primavera, a SEO/Birdlife recebe numerosas denúncias de cidadãos que dão conta da destruição de ninhos. Por isso, em 2020, a organização pôs em funcionamento a campanha SOSNidos (SOSNinhos, em Português) para consciencializar as pessoas para a ameaça da destruição dos ninhos para as aves.

Ninho de andorinhas. Foto: Jorge F. Orueta

Andorinhas, andorinhões e morcegos adaptaram-se a conviver com os seres humanos nas cidades. Cavidades, fissuras e buracos em telhados ou fachadas oferecem espaços onde várias espécies, todas protegidas e algumas ameaçadas, podem descansar, reproduzir-se ou hibernar.

Por isso, a SEO/Birdlife alerta que “o desaparecimento paulatino deste tipo de locais, marcado pelo ritmo a que se reabilitam ou desaparecem os edifícios dos quais dependem, é hoje em dia uma das maiores ameaçadas à fauna urbana”.

Além disso, recorda que a eliminação ou destruição dos ninhos é uma prática proibida pela legislação espanhola, europeia e internacional.

Para evitar que isto suceda, a organização elaborou, em Dezembro de 2021, uma série de recomendações para a protecção da biodiversidade que utiliza os edifícios como lugar de refúgio ou de nidificação.

E está a trabalhar com as administrações autonómicas e o Ministério espanhol de Transportes, Mobilidade e Agenda Urbana para que as obras de reabilitação não causem danos significativos sobre a fauna que vive nos edifícios.

“Manter e potenciar a biodiversidade urbana é uma das chaves para que a sociedade possa viver em cidades mais saudáveis e seguras”, defende a SEO/Birdlife. A biodiversidade “ajuda a aliviar os efeitos das alterações climáticas, contribui para o bom funcionamento do ecossistema urbano e ajuda a controlar pragas e doenças, entre muitos outros benefícios”.

Como se isto não fosse suficiente, “numerosos estudos científicos têm demonstrado que um maior contacto com a natureza contribui para uma melhor saúde física e psicológica dos habitantes das cidades”.

Actualmente, estima-se que cerca de 80% dos habitantes de Espanha se concentram hoje em zonas urbanas. “Perante este cenário, a SEO/Birdlife defende que é especialmente urgente conservar a biodiversidade onde as pessoas vivem e trabalham.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.