Carine Azevedo: “As plantas fascinam-me pela sua beleza e singularidade”

Embaixadores por Natureza

Na nossa mini série que lhe apresenta os peritos que, nos bastidores, identificam as centenas de espécies que os nossos leitores nos enviam, perguntámos à engenheira florestal Carine Azevedo porque se interessa tanto por plantas.

Carine Azevedo trabalha como consultora nas áreas de jardinagem e da floresta e considera a Botânica uma ciência “fascinante”, que permite conhecer cada planta com todas as particularidades que a tornam “única e especial”. Fique a conhecer melhor esta perita.

WILDER: Que idade tem, qual é a sua ocupação profissional e em que está a trabalhar neste momento?

Carine Azevedo: Tenho 46 anos, sou engenheira florestal, mestre em biodiversidade e biotecnologia vegetal. Dedico-me à consultoria nas áreas da jardinagem e floresta, mais em particular na concepção e acompanhamento de projetos sustentáveis e na gestão, reabilitação, conservação e segurança de património vegetal. 

W: Porque é que se dedicou à Botânica?

Carine Azevedo: As plantas têm um papel fundamental para a vida na Terra, contudo a Botânica é ainda para muitos uma ciência pouco atrativa, apontada como desinteressante e teórica. 

Na maioria das vezes, as plantas não são vistas com a mesma importância concedida aos animais. A maioria das pessoas pouco ou nada conhecem sobre as plantas, muito menos sobre a flora nativa da região onde habita, desconhecendo os seus nomes, utilidades, importância, etc. 

O facto de as plantas não se moverem e não emitirem sons, como o ser humano e os outros animais, leva a que muitas pessoas as ignorem e desconheçam o peso significativo que têm para a sobrevivência dos outros seres vivos na Terra. 

A Botânica é, sem dúvida, uma ciência fascinante. Conhecer as particularidades específicas de cada planta, cada elemento morfológico, a sua história, a variedade de bens e serviços que podem fornecer, essenciais à vida dos restantes seres vivos, tornam cada uma delas única e especial.

W: E como é que começou?

Carine Azevedo: A botânica surgiu há muitos anos, quando iniciei a minha atividade profissional como formadora. Além de dar a conhecer as espécies vegetais, também tive a oportunidade de mergulhar no mundo fantástico das plantas e de aprofundar o meu conhecimento nesta área.

W: E o que a fascina mais nas plantas? 

Carine Azevedo: De forma resumida, posso dizer que as plantas fascinam-me pela sua beleza e singularidade. Seja a planta mais minúscula ou a árvore mais alta, a observação de cada detalhe desperta curiosidade, envolvimento e o reconhecimento da sua importância. 

W: Quais são os principais desafios quando está a identificar espécies?

Carine Azevedo: Os desafios são inúmeros, dependendo da espécie que tenho de identificar. O primeiro desafio passa por conseguir reunir todos os elementos morfológicos necessários à identificação. A folha, a flor ou o fruto por si só, nem sempre são suficientes para identificar uma espécie. É fundamental recolher o máximo de informação para que se consiga uma identificação plena. 

O segundo desafio passa por identificar o local e época de colheita. Esta informação vai ajudar a perceber se estamos perante uma espécie nativa ou exótica e reconhecer o estado fenológico da planta na altura da colheita. O estado fenológico não é mais do que o estudo do desenvolvimento da planta ao longo de suas diferentes etapas de vida: germinação, crescimento, desenvolvimento, floração, frutificação, formação de sementes e maturação.

O terceiro desafio é o de explorar a espécie identificada. Muitas vezes conhecemos as espécies por um ou outro elemento, mas desconhecemos muitas das suas características ou particularidades únicas.

W: Como tem sido participar no Que Espécie é Esta?

Carine Azevedo: Um desafio. É maravilhoso perceber que as pessoas cada vez estão mais abertas ao conhecimento botânico. Além disso, também é interessante perceber que começam a despertar para as plantas de uma maneira geral. 

Não são só as plantas de flores mais atraentes e mais coloridas que as atraem. Hoje em dia já são muitas as pessoas que começam a despertar para a vegetação nativa, para as ervas e plantinhas aparentemente pouco atrativas mas que são fundamentais para a conservação dos ecossistemas naturais de uma dada região. 

A identificação de plantas através de fotografias nem sempre é fácil. Uma das maiores dificuldades é a falta de elementos morfológicos fundamentais para a identificação plena da espécie. Por vezes tenho apenas fotografias de folhas, de flores ou do hábito da planta (forma). Também acontece ter fotografias a uma grande distância, ou turvas, que não permitem uma aproximação com qualidade para estudar certos elementos. 

Quanto mais elementos morfológicos registados individualmente (folha, flor, fruto, tronco, etc.) e em conjunto (hábito), mais fácil será a análise e a identificação. Isso nem sempre acontece, sendo necessário pedir ao leitor mais informação. A nitidez e a proximidade das fotografias aumentam a chance de uma identificação mais exata.

W: Tem alguma história curiosa relacionada com o seu trabalho de identificação de espécies que gostasse de partilhar?

Carine Azevedo: A história mais curiosa que posso contar está relacionada com o desafio de identificar espécies raras, que nunca tinha visto antes, e que me levam a viajar pelo mundo sem sair da cadeira. Em frente ao ecrã do computador, a navegar na Internet ou envolvida em livros e Floras, para encontrar aquela espécie especial e conhecer um pouco mais a sua história.


Embaixadores por Natureza é uma mini série da Wilder dedicada à rede de especialistas que, desde 2017, são o coração do “Que Espécie É Esta?”. É o nosso reconhecimento e obrigado a tantas horas passadas a olhar com carinho, e de forma voluntária, para “os nossos” bichos e plantas. E a dar-lhes um nome. Sai todos os dias, de 1 a 16 de Agosto.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.