Lince-ibérico, cria. Foto: Programa Ex-situ (arquivo)

Centros de reprodução de lince-ibérico esperam até 45 crias em 2020

Este ano deverão nascer entre 37 e 45 crias de lince-ibérico nos cinco centros de reprodução em Portugal e Espanha, segundo o Programa de Conservação Ex-situ dedicado a esta espécie Em Perigo de extinção.

 

Este ano há 26 casais reprodutores nos cinco centros onde se faz reprodução do lince-ibérico em cativeiro: oito em La Olivilla, seis no Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI) em Silves, seis em El Acebuche (Doñana), cinco em Zarza de Granadilla e um no Zoo de Jerez.

Este número de casais foi decidido tendo em conta as instalações disponíveis em cada um dos centros de reprodução e as necessidades de animais para serem libertados nas várias áreas de reintrodução.

 

Fêmea e crias no CNRLI. Foto: Joana Bourgard/Wilder (arquivo)

 

Perante este número de casais, e com base nos “parâmetros reprodutivos registados no programa até ao momento (2005-2019), estima-se obter entre 37 e 45 crias”, segundo uma nota do Programa de Conservação Ex-situ.

No ano passado nasceram 50 crias. Destas, 35 sobreviveram e 30 estão a ser libertadas na natureza em Portugal e Espanha – concretamente no Vale o Guadiana, Andaluzia, Castela-La Mancha e Extremadura espanhola- desde o final de Janeiro. Hoje foram libertados dois linces no Vale do Guadiana, Quinde e Quisquilla.

À semelhança dos anos anteriores, cerca de 90% das crias que nasçam em 2020 serão preparadas para a sua libertação na natureza. As restantes passarão a fazer parte do grupo reprodutor do Programa de Conservação Ex-situ, “com o objectivo de manter uma adequada diversidade genética e equilíbrio demográfico”.

 

CNRLI. Foto: Joana Bourgard/Wilder (arquivo)

 

No centro português, em Silves, os seis casais reprodutores são: Fado e Biznaga, Hermes e Jabaluna, Drago e Fresa, Fresco e Juncia, Madagascar e Juromenha e Madagascar e Era.

Biznaga é uma das seis fêmeas que, a nível ibérico, tem mais de 13 anos de idade. Estas fêmeas “darão informação muito valiosa para a gestão do programa de reprodução sobre a longevidade reprodutora desta espécie”.

Em Silves, a maioria dos nascimentos estão previstos para Abril, depois de um período de gestação que, nesta espécie, dura entre 63 e 66 dias.

 

Fresa no Centro de Reprodução do Lince Ibérico, em Silves. Foto: Joana Bourgard/Wilder (arquivo)

 

Este ano, o CNRLI volta a tentar a inseminação artificial no lince-ibérico, para ajudar à conservação da espécie, com duas fêmeas: Fruta e Kaida. As tentativas, feitas desde 2017, ainda não tiveram sucesso.

Em 2019, o CNRLI celebrou 10 anos. Durante esse período nasceram no centro português 122 animais, dos quais 89 sobreviveram e, destes, 73 foram já reintroduzidos na natureza (no Vale do Guadiana, Mértola e Serpa – Portugal, e em Espanha, na Andaluzia, Extremadura e Castilla-La Mancha), segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Dos animais que não foram reintroduzidos, “sete foram integrados no programa de cria em cativeiro como reprodutores, e os restantes – não podendo ser libertados nem incluídos no programa de cria por problemas genéticos – foram encaminhados para Zoos ou encontram-se aguardando a sua colocação em Zoos ou Parques Zoológicos de visitação”.

 

Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

 

O lince-ibérico (Lynx pardinus) tem tido uma história atribulada. No século XIX a população mundial da espécie estava estimada em cerca de 100.000 animais, distribuídos por Portugal e Espanha. Mas no início do século XXI restavam menos de 100. Então, os dois países juntaram-se para recuperar habitats e reproduzir animais. O programa Ex-Situ de reprodução em cativeiro é uma das peças deste quebra-cabeças conservacionista que ainda hoje não está resolvido.

Esta é uma espécie classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Leia a nossa série “Como nasce um lince-ibérico” e conheça os veterinários, video-vigilantes, tratadores e restante equipa do CNRLI em Silves.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.