Nasceram oito crias de lince-ibérico no CNRLI em Silves

Oito crias de lince-ibérico (Lynx pardinus) nasceram nesta época reproductora no Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI), em Silves, no âmbito do programa ibérico de conservação desta espécie Em Perigo de extinção. Hoje, cinco sobrevivem.

Nesta temporada de reprodução foram constituídos seis casais e “até ao momento deram-se três partos, tendo nascido cinco crias vivas e três crias mortas”, revelou ontem à Wilder Rodrigo Serra, director técnico do CNRLI desde o seu início em 2009.

Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

O primeiro parto aconteceu a 7 de Março. As gestações nesta espécie duram em média cerca de dois meses, 64 dias. 

Três dos casais eram compostos por fêmeas geriátricas – Era (16 anos), Fresa (15 anos) e Haima (13 anos) – que não ficaram gestantes. Era e Fresa tiveram segundos cios, dos quais ainda se aguardam resultados. Mas, “dada a idade de ambas, não são esperados resultados positivos”, acrescentou.

As outras três fêmeas eram mais novas: Kaida, René e Retama. Os machos foram Juncabalejo, Fausto, Quiñones, Jerte, Hermes e Galeno, todos com 12 anos ou mais, excetuando o Quiñones.

“A ideia por detrás destas opções é obter a máxima representação genética possível dos animais prioritários para cruzamento – por serem de grande valor genético e já perto ou no fim de vida reprodutora – e, por outro lado, permitirem também obter mais informação sobre quando se dá efetivamente o fim de vida reprodutivo dos linces- ibéricos em cativeiro”, explicou Rodrigo Serra.

Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

Actualmente, o programa de conservação ex situ “conserva acima dos 90% da diversidade genética conhecida, o seu objetivo estabelecido a 100 anos, pelo que essa gestão está a ser bem-sucedida”.

Este ano, o centro de Silves reforçou as populações selvagens com sete animais nascidos em cativeiro na Primavera passada. “Cinco já foram soltos e 2 machos aguardam ainda pela saída”, adiantou o responsável.

A estes sete juntam-se dois jovens machos órfãos recuperados do campo em Castela-La Mancha e treinados no Complexo de Treino e Recuperação de Lince-ibérico (CTRLI/CNRLI) para a sua devolução ao campo. Um já saiu, outro aguarda pela data de solta prevista ainda para este mês de Abril.

Dos animais nascidos no CNRLI no ano passado, num total de oito, apenas um (a fêmea Urtiga) ficará em cativeiro “por valia genética e para substituir reprodutores geriátricos”.

Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

Um dos grandes desafios dos centros de reprodução do lince-ibérico, como o CNRLI, é a gestão dos animais excedentes, ou seja, animais que não são usados para reprodução.

Quando foi inaugurado a 26 de Outubro de 2009, o CNRLI – que começou a ser construído em Junho de 2008 – recebeu o seu primeiro lince, Azahar, uma fêmea com nome de flor de laranjeira; até ao final de 2009 a população do Centro era de 16 animais. Hoje vivem no CNRLI/CTRLI 28 linces adultos/sub-adultos, aos quais se juntam as cinco crias nascidas este ano.

“A gestão dos excedentes é um tema complexo e difícil que está a ser gerido por todas as administrações envolvidas na conservação da espécie, na tentativa de fazer escoar o máximo de animais para projetos de interesse para a conservação do lince-ibérico. Há que continuar esse trabalho e sempre que possível intensificá-lo”, considerou Rodrigo Serra.

Espiga. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

Desde 2010 que Portugal participa no esforço ibérico de tentar reforçar a população mundial de lince-ibérico através da reprodução em cativeiro. Em 2018, o CNRLI alcançou um marco histórico: o nascimento do seu 100º lince em cativeiro.

O lince-ibérico tem tido uma história atribulada. No século XIX a população mundial da espécie estava estimada em cerca de 100.000 animais, distribuídos por Portugal e Espanha; mas no início do século XXI restavam menos de 100. Então, os dois países juntaram-se para recuperar habitats e reproduzir animais. O CNRLI é uma das peças deste quebra-cabeças conservacionista que ainda hoje não está resolvido.

Desde 22 de Junho de 2015, esta espécie foi classificada como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

A 19 de Maio de 2023 soube-se que existem 1.668 linces-ibéricos no mundo, segundo os dados do mais recente censo à espécie.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.