Cientistas descobrem que é nos bosques de carvalho-português que há mais espécies de aranhas

Aranha da espécie Mangora acalypha. Foto: Armand Turpel

Um estudo realizado em Espanha analisou os factores que afectam os padrões de biodiversidade das comunidades de aranhas nos parques naturais do país.

Num artigo publicado a 9 de Novembro na revista científica Biodiversity and Conservation, o grupo de investigadores concluiu que os bosques meridionais de carvalho-português são as áreas com mais espécies endémicas no país – ou seja, mais espécies que vivem apenas em áreas limitadas.

“Ainda assim há muitas incógnitas sobre a biologia e ecologia das comunidades de aranhas ibéricas, um grupo faunístico com um papel fundamental nos ecossistemas naturais”, afirma um comunicado da Universidade de Barcelona, que liderou a investigação. No estudo também participaram cientistas da Universidade dos Açores e da Estação Experimental de Zonas Áridas de Almeria.

Só em Espanha, há mais de 1.400 espécies

Estima-se que existam hoje mais de 1.400 espécies de aranhas em Espanha, mas nalguns casos são espécies endémicas, que podem ser encontradas apenas num determinado território – uma região ou mesmo só uma localidade.

Em parques nacionais espanhóis, os cientistas compararam as comunidades de aranhas ligadas a bosques de carvalhos, como o carvalho-português e o carvalho-negral, semelhantes a muitas outras áreas florestadas espalhadas pelo país. Examinaram um total de 20.551 espécimes de aranhas, de 375 espécies diferentes.

“Os resultados revelam que os bosques de carvalho-português (Quercus faginea) são os que mostram um maior número de espécies de aranhas, provavelmente por causa dos efeitos combinados da estrutura física do habitat e as condições climáticas”, explica Miguel Arnedo, coordenador do estudo ligado à Universidade de Barcelona.

A equipa também confirmou que há uma diminuição do número de espécies nos ecossistemas em bosques do sul do país, de que já havia sinais em estudos anteriores. Isso poderá estar relacionado, sugerem, com a diminuição de ligações desses ecossistemas com o resto do continente europeu.

Voar num pára-quedas de seda

Uma descoberta curiosa? “Constatámos que as aranhas que se dispersam mais frequentemente através do ar utilizando fios de seda como pára-quedas apresentam uma distribuição geográfica mais extensa e por isso são menos endémicas.” Este será o caso de algumas aranhas da família Linyphiidae, por exemplo.

O trabalho agora publicado vai ajudar também a melhorar a conservação e gestão dos parques nacionais e das áreas protegidas, sublinha a equipa. Isto porque “revela novos dados sobre o número e composição das espécies nas comunidades dos parques nacionais, uma informação que permite estabelecer uma referência para futuros planos de monitorização”.

Por outro lado, “são identificados os grupos mais relevantes de acordo com o grau de endemismo, ou seja, de valor potencialmente alto para a conservação.”


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.