Ouriço. Foto: Alexandra München/Pixabay
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Há cada vez mais ouriços no Centro de Recuperação de Animais Silvestres de Lisboa

Há cada vez mais ouriços-cacheiros a darem entrada no Centro de Recuperação de Animais Silvestres de Lisboa, no parque florestal de Monsanto. Verónica Bogalho explicou à Wilder quais as razões e o que devemos fazer se encontrarmos um.

 

Nos últimos cinco anos, entre 2014 e 2018, entraram no LxCRAS – Centro de Recuperação de Animais Silvestres de Lisboa cerca de 250 ouriços-cacheiros (Erinaceus europeus), dos quais 60 em 2018. E desde o início deste ano, somam-se mais 17.

 

ouriço
Foto: LxCRAS

 

“O número de ouriços no centro tem aumentado significativamente e com mais rapidez do que com outros animais. Não sabemos as causas, mas talvez seja o reflexo de um maior conhecimento sobre a existência de centros de recuperação como o nosso”, acredita Verónica Bogalho, bióloga no LxCRAS. O centro recebe animais selvagens não só de Lisboa, mas de uma vasta região em redor.

Quais são as principais causas para o ingresso de ouriços? Muitos são crias que alguém encontrou sozinhas, em estado de debilidade, ou que aparentam estar órfãs. Mas também acontece chegarem ali muitos ouriços “por causas desconhecidas”, pois “as pessoas às vezes assumem que estes animais precisam de ajuda quando os encontram, mas na verdade isso não acontece”.

 

ouriço deitado
Foto: LxCRAS

 

Tem havido também ouriços recolhidos no centro depois de libertados de cativeiro, pois não conseguem sobreviver sozinhos na natureza, ou que foram atropelados ou encontrados com outros traumatismos e infecções.

Ao longo do ano, há dois períodos mais críticos, destaca. O primeiro no Inverno, quando o frio aumenta e há menos alimento. “Alguns ouriços-cacheiros que libertámos nos últimos dias tinham ingressado no LxCRAS no final do ano passado, em situação de debilidade e de hipotermia, o que acontece mais aos juvenis. Recuperaram e acabámos por mantê-los mais tempo, até melhorarem as condições climáticas.”

 

ouriço enrolado numa manta
Foto: LxCRAS

 

O Verão é outra altura em que no centro entregam muitos ouriços. As crias ainda têm poucas semanas, depois do nascimento na Primavera. Se alguém as encontra sozinhas, assume normalmente que são órfãs e que precisam de ajuda. “Nem sempre se confirma, mas não deixamos de os receber.”

Depois de darem entrada no LxCRAS – ou noutros centros – recebem o tratamento necessário. São alimentados com insectos e larvas e outras comidas, pois costumam ter uma alimentação diversificada, que inclui ainda bagas e outros frutos.

 

Foto: LxCRAS

 

Finalmente, são devolvidos à natureza, normalmente nos mesmos locais onde tinham sido encontrados. Nestas últimas semanas, por exemplo, houve ouriços libertados em Rio Maior (Santarém), São Julião do Tojal (Loures), Pêra (Costa da Caparica) e no próprio parque florestal de Monsanto, onde se situa o LxCRAS.

 

Quando recolher um ouriço

Quem mora no campo ou mesmo na cidade, se tiver uma horta ou jardim ou mesmo se estiver a dar um passeio numa zona verde, pode deparar com um ouriço-cacheiro. Mas como saber se o animal precisa de ajuda?

 

ouriços no meio da erva
Foto: LxCRAS

 

“Se isso acontecer de dia pode ser mau sinal, pois trata-se de um animal nocturno”, admite Verónica Bogalho, que avisa que há outros sintomas a confirmar antes de entregar o animal num centro de recuperação: “Se estiver muito prostrado, por exemplo, acordado mas com os olhos fechados, ou se estiver hipotérmico, ou seja, tocamos-lhe e a temperatura é baixa”, descreve.

Sinais evidentes de infecção ou de trauma também são motivo para agir, tal como um ouriço à beira ou no meio da estrada. Neste último caso, “a pessoa pode pegar nele e pô-lo mais longe da rodovia, numa zona de campo ali próxima, por exemplo perto de terrenos agrícolas e de arbustos.” Mas nesse caso é preciso cuidado para não o afastar muito, pois “pode ser uma fêmea com crias ali perto ou um macho que esteja a acasalar.”

Por outro lado, “se encontrarmos um ouriço muito pequenino e muito sozinho não é bom sinal, pode precisar de ajuda”. O mesmo acontece se não mostrar ter medo de pessoas, ou seja, “se não se enrolar numa bola de picos ou se não se mexer para tentar fugir”, pois significa que é domesticado e não consegue sobreviver sozinho. Ou então que não está bem de saúde.

 

ouriço no meio de um terreno
Foto: LxCRAS

 

“Em caso de dúvida, o melhor será tentar contactar um centro para pedir ajuda e esclarecer qualquer questão”, sublinha a mesma responsável.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Se precisar de contactar um centro de recuperação de fauna selvagem, encontre aqui os números de telefone dos vários centros portugueses.

 

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Assista ao vídeo de uma devolução à natureza pelo Centro de Recuperação de Animais Silvestres de Lisboa, filmado por Nuno Ramos:

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.