casal de rolas-bravas
Rolas-bravas. Foto: Pixabay

Há cada vez menos rolas-bravas, abelharucos e pardais em Portugal

A análise dos resultados do Censo de Aves Comuns de Portugal desde 2004 aponta para resultados preocupantes relativos a sete espécies de aves comuns nidificantes, com forte destaque para a rola brava.

 

Com efeito, a rola-brava (Streptopelia turtur) viu a sua população cair 75% desde 2004, indicam os números recolhidos por dezenas de voluntários no Censo de Aves Comuns organizado em Portugal pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e divulgados esta segunda-feira em comunicado.

Os avisos para a situação desta espécie cinegética em Portugal não são de agora. Todavia, os novos dados reforçam a necessidade de agir antes que seja tarde demais: “Uma espécie que diminuiu 75% em menos de 15 anos não tem hipótese de recuperar se estiver a ser caçada”, afirmou Domingos Leitão, director-executivo da SPEA. “Independentemente de outras medidas, temos de suspender a caça à rola-brava antes que seja tarde demais.”

Há outros factores que provavelmente contribuem para o “declínio alarmante” da espécie, além da caça, como as mudanças nos territórios onde passa o Verão em Portugal e problemas nas zonas de África onde esta ave migratória passa os Invernos. “Entre estas ameaças, uma pode facilmente ser eliminada: basta suspender a caça à rola-brava em Portugal continental”, sublinham.

Mas os sinais de preocupação estendem-se a outras aves típicas de ambientes agrícolas, que “poderão estar a entrar em declínio em Portugal Continental, embora ainda longe do cenário de alguns países europeus, onde as populações destas espécies têm caído a pique.” Em França, por exemplo, há um ano os cientistas avisaram para uma “catástrofe” iminente.

Quanto a Portugal, abelharucos, milheirinhas e picanços-reais, que já estavam em declínio de acordo com os resultados dos censos realizados de 2004 a 2011, mantiveram a mesma tendência negativa. Mas nos últimos anos, também as populações de pardais, pintassilgos e cartaxos começaram a diminuir.

 

Pardal-comum. Foto: Tim/Pixabay

 

Domingos Leitão chama a atenção para os efeitos que o declínio de espécies como o abelharuco, o picanço-real e o cartaxo vão ter na agricultura, uma vez que são aves insectívoras que “ajudam a controlar pragas que podem dizimar as culturas”. “É preciso acompanhar esta situação e implementar políticas agrícolas que potenciem a biodiversidade, para o bem de todos.”

 

Abelharuco. Foto: Wolfgang Vogt/Pixabay

 

Quanto ao Censo de Aves Comuns deste ano, a época de campo começa já no dia 1 de Abril, daqui a uma semana, e está aberta a voluntários. “Não é preciso ser um especialista: basta saber identificar as espécies da sua área e ter vontade de aprender e ajudar a proteger a nossa biodiversidade.”

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Quer saber mais sobre o Censo de Aves Comuns e como pode colaborar? Leia as informações sobre este censo aqui, no site da SPEA.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.