lobo ibérico
Lobo ibérico conservado no Museu de História Natural, Lisboa. Foto: Joana Bourgard

Humanidade “está a cortar a árvore da vida”, alertam cientistas

Ao causar a extinção de centenas de espécies selvagens, a Humanidade está a deitar abaixo a árvore da vida, incluindo o tronco onde estamos sentados, segundo um estudo publicado ontem na revista PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences).

 

Mais de 300 espécies de mamíferos foram erradicadas por causa de actividades humanas durante a Sexta Extinção em Massa, salientam os três autores do estudo, uma investigação que dá um contexto à extinção das espécies de mamíferos na história evolutiva.

O fim dessas 300 espécies representa uma perda de 2,5 mil milhões de anos de história evolutiva, estimam os investigadores, segundo o jornal The Guardian.

E mesmo se dentro de 50 anos conseguíssemos acabar com a destruição das zonas naturais, com a caça ilegal e com a poluição, ainda assim seriam precisos entre cinco e sete milhões de anos para o mundo natural recuperar.

“O que estamos a fazer é algo que vai perdurar milhões de anos depois de nós”, comentou ao jornal britânico Matt Davis, investigador da Universidade dinamarquesa de Aarhus, e o coordenador do estudo. “Estamos a entrar numa extinção com a mesma escala da que matou os dinossauros.”

Em vez de somar o número de espécies de mamíferos extintas, a equipa de investigadores somou a quantidade de tempo que cada espécie perdida demorou a evoluir desde que surgiu, uma medida chamada diversidade filogenética. Se o ritmo actual de extinções se mantiver, irão desaparecer mais 1,8 mil milhões de anos de diversidade filogenética, descobriram os investigadores.

Matt Davis admite que a situação é “muito assustadora”. “Estamos a começar a cortar toda a árvore da vida, incluindo o tronco onde estamos sentados.”

O investigador recordou que cada espécie perdida tinha o seu valor intrínseco. Ainda assim, há perdas que estão já a afectar os ecossistemas, especialmente da “megafauna”.

Um dos exemplos é a perda dos lobos. Isto significa que predadores mais pequenos, como os coiotes, aumentam populacionalmente, o que pode levar à morte de mais aves, alterando as cadeias alimentares.

“Vivemos hoje num mundo sem gigantes.”

Os investigadores acreditam que este estudo pode ajudar a identificar as espécies que devemos tentar salvar e a estabelecer prioridades de conservação. Matt Davis deu o exemplo do panda-vermelho e do rinoceronte-negro como espécies prioritárias.

“Sem uma conservação coordenada, os mamíferos precisarão de milhões de anos para recuperar das perdas de biodiversidade previstas para os próximos 50 anos”, escrevem os autores do artigo. “Contudo, se estabelecermos prioridades ao nível da diversidade filogenética, poderemos potencialmente salvar milhões de anos de história evolutiva única e as importantes funções ecológicas que podem representar.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.