Foca-monge (Monachus monachus). Foto: Wanax01/Wiki Commons

Lista Vermelha da IUCN: Há espécies portuguesas mais ameaçadas, mas boas notícias para a foca-monge

A revisão da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza foi conhecida esta terça-feira, com um alerta para os efeitos das alterações climáticas e com novidades para algumas das espécies selvagens presentes em Portugal.

A Lista Vermelha da IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza, que avalia o risco de extinção de diferentes seres vivos por todo o mundo, disponibiliza agora um total de 157.190 espécies cujo estatuto já foi avaliado cientificamente. Destas, 44.016 – 28% do total – estão hoje ameaçadas, ou seja, foram consideradas Criticamente em Perigo, Em Perigo ou Vulneráveis. Muitos desses animais, plantas e fungos estão assim devido às alterações climáticas, anunciou esta terça-feira a IUCN à margem da COP28, no Dubai.

“As alterações climáticas estão a ameaçar a diversidade da vida que o nosso planeta alberga e a diminuir a capacidade da natureza de responder às necessidades humanas básicas”, afirmou a diretora-geral da IUCN, Grethel Aguilar, citada num comunicado desta organização que junta governos, organizações da sociedade civil e especialistas de mais de 160 países, dedicada ao mundo natural e à sua conservação. “Esta revisão da Lista Vermelha destaca os laços fortes entre as crises climática e da biodiversidade, que devem ser enfrentadas em conjunto”, frisou a diretora-geral.

O salmão-do-Atlântico (Salmo salar), que hoje em Portugal pode ser encontrado apenas nas bacias dos rios Minho e Lima, foi uma das espécies em destaque na apresentação dos resultados da nova revisão desta Lista Vermelha. A nível mundial, este salmão passou de Pouco Preocupante para Quase Ameaçada, “com novas evidências que mostram que a população global decresceu cerca de 23% entre 2006 e 2020”.

Salmão-do-alântico. Foto: E. Peter Steenstra/USFWS

“Os salmões-do-Atlântico estão agora restritos a uma pequena porção de rios que habitam desde há um século no norte da Europa e na América do Norte, devido a múltiplas ameaças ao longo do seu percurso nas migrações de longa distância entre os habitats de água doce e marinhos”, indica o comunicado da IUCN, alertando para várias ameaças à espécie. Desde logo as alterações no clima, que “afectam todas as fases do ciclo de vida” deste peixe, pois “influenciam o desenvolvimento dos salmões jovens, reduzem a disponibilidade de presas e permitem que espécies invasoras – como o salmão-rosa-do-Pacífico (Oncorhynchus gorbuscha) – alarguem as suas áreas de distribuição.”

Já o morcego-da-Madeira (Pipistrellus maderensis) passou de Vulnerável para Em Perigo, lugar que já tinha ocupado até 2022, de acordo com os dados desta Lista Vermelha agora actualizados. Os morcegos-da-Madeira podem ser encontrados no arquipélago madeirense, onde sofreram um declínio acima dos 20% na última década, e também nos Açores e Canárias. Apesar de falta de informação que os cientistas têm sobre a espécie, estima-se que vivem hoje na natureza menos de 2500 morcegos adultos, afectados por um “forte declínio na disponibilidade e qualidade de habitat”, informa o site da Lista Vermelha da IUCN.

Também o risco de extição da abetarda (Otis tarda), uma das aves ícones das estepes cerealíferas alentejanas, foi agravado: está pela primeira vez Em Perigo de extinção desde que começou a ser avaliada há quase 40 anos, ameaçada principalmente pela perda, degradação e fragmentação do seu habitat. Isto deve-se principalmente à agricultura intensiva, à expansão industrial (incluindo na área da energia) e ainda aos efeitos das alterações climáticas, nomeadamente os fogos e os eventos climáticos extremos.

uma abetarda no campo
Abetarda. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

“Os declínios populacionais estão hoje estimados como rápidos, mas projecta-se que irão tornar-se muito rápidos num futuro próximo e ao longo das próximas três gerações”, justifica a IUCN.

Foca-monge está melhor

Já a foca-monge (Monachus monachus), que pode ser observada no arquipélago da Madeira, embora continue ameaçada apresenta um risco de extinção menos grave: passou de Em Perigo para Vulnerável. Além de “evidências positivas” quanto ao aumento das populações na Grécia e Turquia deste mamífero também chamado de lobo-marinho, segundo a IUCN, “no arquipélago da Madeira a população cresceu desde 2012 a 2021, devagar mas a um ritmo estável”, numa taxa anual de três por cento. Ali, a espécie foi alvo de um projecto de conservação apoiado por fundos europeus, o LIFE Madeira lobo marinho, entre 2014 e 2019.

Em 1996, a foca-monge tinha sido classificada como Criticamente em Perigo, o grau mais próximo da extinção na natureza, categoria que desceu para Em Perigo em 2015, passados 19 anos.

Foca-monge na Grécia, um dos principais territórios deste mamífero marinho. Foto: lauren_brown27/BioDiversity4All

Dos peixes de água doce, 25% estão sob ameaça

Quanto ao grupo dos peixes de água doce, das 14.898 espécies já incluídas na Lista Vermelha da IUCN, 25% estão em risco de extinção, sublinhou a organização em comunicado. Do total de espécies já avaliadas, aliás, 17% estão a ser afectadas pelas alterações climáticas, “incluindo a diminuição dos níveis de água, a subida dos níveis do mar levando a que a água salgada suba para os rios, e pela incerteza das estações”.

A esses problemas juntam-se a poluição, que afecta mais de metade dos peixes agora ameaçados (com um peso de 57%), as barragens e extracção de água (45% das espécies em risco) sobrepesca (25%) e ainda as espécies invasoras e as doenças (33%).

“Os peixes de água doce representam mais de metade dos peixes conhecidos no mundo, uma diversidade incompreensível, uma vez que os ecossistemas de água doce abrangem apenas um por cento dos habitats aquáticos”, comentou Kathy Hugues, co-responsável pelo Grupo de Especialistas em Peixes de Água Doce da IUCN.

“Estas diversas espécies são parte integrante dos ecossistemas e são vitais para a sua resiliência. Isso é essencial para os milhares de milhões de pessoas que dependem de ecossistemas de água doce e para os milhões de pessoas que dependem das suas pescarias”, sublinhou.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.