Gaivota. Foto: Alvesgaspar/Wiki Commons

Lixo da pesca afecta fortemente aves marinhas, avisam biólogos

O alerta foi dado por um grupo de investigadores da Universidade de Aveiro, que analisou ao longo de 10 anos as causas de entrada de aves marinhas num centro de reabilitação.

“O lixo marinho, principalmente o material descartado ou perdido com origem em atividades piscatórias, tem consequências severas para a conservação das aves marinhas”, concluíram estes biólogos.

A análise que fizeram diz respeito a 2.918 aves que, feridas ou mortas, ingressaram entre 2008 e 2018 no Centro de Reabilitação de Animais Marinhos do ECOMARE, localizado na região de Aveiro.

“Entre as causas de admissão das aves – entre elas, captura acidental, trauma, emaciação, doença ou intoxicação – quase 6,9 por cento (201 aves) traziam sinais de emaranhamento”, descreve um comunicado da Universidade de Aveiro. Dessas aves, “82 por cento dos casos referem-se a materiais relacionados com a pesca como anzóis, linhas e redes.”

No entanto, estes números ficam muito aquém da realidade, sublinha Rute Costa, bióloga do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, uma das unidades de investigação da UA: “Como só conseguimos contabilizar os animais emaranhados que conseguiram dar à costa ou sobreviveram o tempo suficiente para chegar à costa, o problema está consideravelmente subestimado”, afirma.

Apesar de ser impossível saber quantas aves ao todo morrem enredadas na costa centro ou por toda a costa portuguesa, “podemos dizer que será certamente muito superior aos 6,9 por cento (201 aves) apresentados no estudo”, salienta a coordenadora da investigação.

O cenário, garantem os investigadores, é “preocupante”. Rute Costa aponta que “os valores apresentados neste estudo mostram claramente o impacto deste tipo de lixo nas aves marinhas e a importância para que o cenário encontrado seja modificado”.

Mas como  diminuir o número de aves afectadas pelos materiais usados pelos pescadores? Antes de tudo, aconselha, “é necessária mais fiscalização por parte das autoridades”. Além disso, acrescenta a bióloga da UA, “devem ser feitos mais esforços na consciencialização de pescadores, principalmente para que os materiais particularmente perigosos, como resíduos de equipamentos de pesca, sejam eliminados de forma segura”.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.