Guarda-rios. Foto: Andreas Trepte/Wiki Commons

Nova Lista Vermelha: Há mais de 70 espécies de aves ameaçadas na Europa

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A actualização da Lista Vermelha Europeia das Aves, compilada pela Birdlife International, foi revelada hoje. Sabemos agora que 71 espécies estão ameaçadas, incluindo a pardela-balear e a freira-da-madeira.

Esta é a quarta actualização desta Lista Vermelha feita pela BirdLife International (1994, 2004, 2015 e 2021). O objectivo foi avaliar o risco de extinção de todas as 544 espécies de aves selvagens que ocorrem regular e naturalmente na Europa.

A Lista Vermelha baseou-se em dados relativos ao período de 1980 a 2018 recolhidos em mais de 50 países e territórios – desde a Gronelândia e Islândia às Ilhas Canárias, Açores e às montanhas Urais -, muitos dos quais recolhidos por voluntários.

Na Europa, 71 espécies de aves estão ameaçadas: oito espécies estão Criticamente Em Perigo – entre elas o abibe-sociável (Vanellus gregarius), pardela-balear (Puffinus mauretanicus), águia-das-estepes (Aquila nipalensis), escrevedeira-aureolada (Emberiza aureola), galeirão-de-crista (Fulica cristata) e a petinha-siberiana (Anthus gustavi) -, 15 estão Ameaçadas e 48 espécies estão Vulneráveis. Outras 34 estão Quase Ameaçadas, enquanto cinco estão consideradas Regionalmente Extintas.

Um quinto das aves da Europa (103 espécies) são endémicas ou quase endémicas na região. Destas, 24 espécies estão Em Perigo ou Quase Ameaçadas. A ave endémica mais ameaçada da Europa é a pardela-balear (Puffinus mauretanicus), seguida do papagaio-do-mar (Fratercula arctica), do tentilhão-azul-de-Gran-Canária (Fringilla polatzeki) e da freira-da-madeira (Pterodroma madeira).

De uma forma geral, esta Lista Vermelha indica que 30% das aves europeias têm populações em declínio, 23% estão estáveis, 21% estão a aumentar e 26% têm tendências populacionais desconhecidas.

Em relação à última actualização desta Lista Vermelha, de 2015, mudaram os estatutos de 84 espécies: 47 estão hoje numa categoria mais baixa – como o guarda-rios (Alcedo atthis), que passou de Vulnerável a Pouco Preocupante -, e 37 passaram para uma categoria mais alta – como o grou-pequeno (Grus virgo), que passou de Pouco Preocupante para Em Perigo. Outras 13 espécies foram avaliadas pela primeira vez devido a alterações taxonómicas.

“Esta Lista Vermelha não é uma leitura agradável”, comentou Martin Harper, director regional da Birdlife para a Europa e Ásia Central. “Quase uma em cada oito espécies de aves europeias está ameaçada.”

Os grupos mais ameaçados são as aves marinhas (mais de 30%), aves aquáticas e aves limícolas (mais de 40%) e aves de rapina (mais de 25%). Mas esta análise mostra novas preocupações por causa dos declínios nas populações de aves migradoras, especialmente nas migradoras de longas distâncias, de aves de zonas agrícolas e florestais. “É alarmante ver o estatuto de espécies icónicas como o grou-pequeno (Grus virgo), do andorinhão-preto (Apus apus) e da gralha-calva (Corvus frugilegus) a deteriorar-se, assim como a maioria das cotovias, picanços e trigueirões.”

Esta Lista “revela que ainda estamos a perder natureza na Europa”, diz Micheal O’Briain, vice-director da Unidade de Natureza da Direcção Geral do Ambiente da Comissão Europeia.

“A conservação que se faz hoje não chega para proteger as aves das ameaças que enfrentam. É insuficiente, incompleta e a uma escala demasiado pequena”, acrescentou. As ameaças incluem a alteração no uso do solo – especialmente ligada à agricultura-, urbanização, explorações florestais, alterações aos habitats de água doce, poluição, sobre-exploração e abate ilegal e espécies exóticas invasoras. Além de tudo isto, as alterações climáticas.

“Estamos a falhar na gestão sustentável das nossas terras, águas e mares.”

As zonas agrícolas, os prados e os habitats marinhos têm o maior número de espécies ameaçadas ou quase ameaçadas.

“Queremos e precisamos que a Europa lidere o mundo no restauro da natureza. Mas para isso acontecer precisamos de uma transformação das nossas economias”, considerou Martin Harper.

“Os Governos por toda a Europa precisam traduzir a ambição global de restaurar a natureza em metas legais, apoiadas pelas políticas e financiamento adequados. As empresas precisam encontrar novas formas de serem positivas para a natureza, garantindo que a sua actividade comercial melhora o estado da biodiversidade. A sociedade civil, incluindo os parceiros da Birdlife International, devem continuar a defender acções urgentes e estar preparados para tomar medidas práticas para ajudar as espécies ameaçadas a recuperar. Esperamos que esta Lista Vermelha sirva como catalizador para mais pessoas e organizações agirem para ajudar as aves da Europa.”

Até porque há sinais que nos dizem que podemos estar optimistas. “Sabemos que uma acção dirigida consegue travar e reverter o declínio das espécies. Há histórias inspiradoras de sucesso na Europa com espécies emblemáticas como o abetouro (Botaurus stellaris), o grifo (Gyps fulvus) e o milhafre-real (Milvus milvus), todos a recuperar em locais onde beneficiaram de projectos de conservação.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.