Lobo-ibérico. Foto: Gérard van Drunen/Wiki Commons

Nove ONGA portuguesas pedem a Espanha que proteja o lobo-ibérico

Espanha está a ponderar classificar o lobo-ibérico como espécie protegida em todo o país. Nove organizações portuguesas pediram ao Governo espanhol que aproveite esta “oportunidade única”.

As organizações portuguesas que se juntaram para enviar uma carta ao Ministério espanhol para a Transição Ecológica e Desafio Demográfico (MITECO) foram a ANP/WWF, a ATN, o FAPAS, o GEOTA, a Palombar, a Quercus, a Reserva Faia Brava, a Rewilding Portugal e a SPEA.

Entre 9 e 26 de Fevereiro decorreu em Espanha uma consulta pública prévia para inclusão do lobo na Lista de Espécies Selvagens em Regime de Proteção Especial (LESRPE).

Este momento surge na sequência do parecer favorável do comité científico para incluir o lobo-ibérico naquela lista, e do voto favorável na reunião da Comissão Estadual de Património Natural e Biodiversidade.

As organizações portuguesas justificaram o envio, a 26 de Fevereiro, da sua carta de contributo à consulta pública com o facto de o lobo ser “uma espécie que habita território ibérico”.

Na carta, as ONGA pedem ao Governo espanhol e à sociedade “que aproveitem esta oportunidade única para proteger o lobo e para melhorar o seu estado de conservação, aliás, como é requerido pela Diretiva Habitats da União Europeia – e também para simultaneamente valorizar e apoiar a pecuária extensiva”. 

Os conservacionistas portugueses consideram “fundamental construir um novo modelo de gestão do lobo que se baseie no respeito pela espécie e na convivência com outros setores”.

No entender das ONGA, há uma única população ibérica de lobo (Canis lupus signatus) e que esta deve ser gerida como tal.

“De outra forma, os esforços de conservação desenvolvidos do lado português não fazem sentido. Se esta espécie continuar a ser caçada em Espanha, não gozando de um estatuto de proteção semelhante nos dois lados da fronteira, a coordenação entre países para trabalhar para que o estado de conservação do lobo-ibérico seja favorável é menos eficaz, algo que a própria Comissão Europeia já questionou.”

As organizações de Portugal defendem uma “estratégia ibérica de gestão do lobo que se baseie na convivência com a espécie” e uma “estratégia alinhada com o sector pecuário”. 

Neste sentido, a WWF em Espanha desenvolveu ainda uma campanha “Eu defendo o lobo”, que já conta com cerca de 30.000 adesões, para pedir o fim da sua perseguição à espécie, o reconhecimento jurídico que merece, a aprovação de planos para a sua conservação e recuperação, bem como como um forte compromisso na sua convivência com a pecuária extensiva e o mundo rural.

Em Outubro de 2020, a Comissão Europeia alertou que o lobo-ibérico em Espanha tem um estado de conservação desfavorável.

Em Espanha, o estatuto de protecção deste predador de topo é diferente do que existe em Portugal, pois aplicam-se regras distintas consoante as alcateias habitam territórios a sul ou a norte do rio Douro. 

As populações no Sul (Serra Morena, Serra da Gata e San Pedro) estão quase extintas e estão protegidas, enquanto que as do Norte (Galiza, Astúrias e Castela e Leão) estão a expandir-se, chegando a Madrid e Guadalajara. Aqui são animais cinegéticos e as comunidades autonómicas justificam a caça com a necessidade de controlar o aumento das populações. 

Em 2017, o último ano para o qual existem dados, foram abatidos em Espanha um total de 110 lobos, de forma legal.

Estima-se que vivam em Espanha entre 2.000 e 2.500 lobos-ibéricos. O último censo, realizado entre 2012 e 2014, concluiu que existiam 297 alcateias.

As metas do Governo espanhol apontam para um total de 350 alcateias em território espanhol em 2030, para que seja garantida a conservação da espécie a longo prazo. Está previsto também o aumento da área de distribuição entre 10 e 20%, na próxima década, e a redução da perseguição ilegal a esta espécie.

Em Portugal, o mais recente censo nacional ao lobo-ibérico, de 2002/2003, identificou 63 alcateias (51 confirmadas e 12 prováveis) no Norte e Centro do país. A população foi, então, estimada entre 220 e 430 animais. Mais tarde, estudos compilados entre 2003 e 2014 deram conta da existência de 47 alcateias (41 confirmadas e seis prováveis).

Há 28 anos que esta é uma espécie protegida em Portugal, desde que a Lei nº90/88, de 13 de Agosto, estabeleceu pela primeira vez as bases para a protecção do lobo-ibérico. Em 2005 foi classificado com o estatuto de Em Perigo (Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.