Lince-ibérico (Lynx pardinus). Foto: Staffan Widstrand

LIFE Lupi Lynx vai trabalhar para o regresso de lobos e linces à Beira Interior

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Projecto luso-espanhol quer criar condições que contribuam para a recuperação das duas espécies nos distritos da Guarda e de Castelo Branco, do lado português, e na província de Cáceres, do lado espanhol.

O lançamento do LIFE Lupi Lynx, agora em Janeiro, foi anunciado esta quinta-feira pela equipa do novo projecto. O objectivo é criar condições para o regresso do lobo-ibérico e do lince-ibérico ao sul do rio Douro, em “áreas onde as duas espécies começam a surgir ou têm ainda uma presença irregular”.

“Pretende-se com este projeto promover uma melhor coexistência entre os referidos predadores e o homem, garantindo as condições de habitat e de convivência com as actividades humanas”, indicam em comunicado as nove entidades envolvidas no LIFE Lupi Lynx, que uma duração prevista de cinco anos e um orçamento de 3,5 milhões de euros.

Coordenado pela Rewilding Portugal, conta ainda com seis entidades portuguesas: a BIOPOLIS/CIBIO, o Grupo Lobo, a Plataforma de Ciência Aberta do Município de Figueira de Castelo Rodrigo e a Universidade de Aveiro. Do lado espanhol estão envolvidas ainda duas entidades, a AMUS – Asociación de Accion por el Mundo Salvaje e a Junta de Extremadura.

Em Portugal, tanto o lobo-ibérico como o lince estão hoje classificados como Em Perigo de extinção e habitam apenas nalgumas partes do território, indica o Livro Vermelho dos Mamíferos, publicado em 2023.

O lobo-ibérico está presente principalmente a norte do Douro, com a existência de algumas alcateias também a sul desse rio, no distrito da Guarda e também nos distritos de Viseu e Aveiro (Serras da Freita e da Arada). Nestes últimos anos, deram-se também vários avistamentos na região de Castelo Branco.

Lobo-ibérico (Canis lupus signatus). Foto: Daniel Allen

Da mesma forma, o lince-ibérico tem sido observado na região de Castelo Branco, embora a área de distribuição hoje confirmada para este mamífero esteja mais a sul – em especial no Vale do Guadiana, onde teve início a reintrodução da espécie, e mais recentemente no Interior algarvio, na região de Tavira. Depois de um censo realizado em 2002 e 2003 ter confirmado a extinção da espécie em terras portuguesas, este felino de barbas regressou ao território nacional apenas em Dezembro de 2014, com as primeiras reintroduções realizadas na zona de Mértola. Graças a vários medidas destinadas à recuperação e conservação da espécie, que continuam, em 2015 o lince-ibérico deixou de estar classificado como Criticamente em Perigo, a nível global.

Melhorar as condições ecológicas e sociais

Tanto nos distritos da Guarda e de Castelo Branco como na província espanhola de Cáceres (Extremadura), o novo projecto vai procurar melhorar as condições ecológicas e sociais para estas duas espécies-chave, indica a equipa em comunicado. Em causa está um território com um total de 17.000 hectares, onde “o trabalho à escala transfronteiriça permitirá conseguir melhores resultados, mais abrangentes e com maior impacto no futuro do lobo e do lince ibéricos.” 

Entre as condições ecológicas nas quais se vão centrar os trabalhos estão “o aumento da abundância de presas silvestres e o restauro do habitat“, enquanto que a nível social, o objectivo é “promover uma coexistência pacífica com as comunidades humanas locais, aumentando as ferramentas de prevenção dos ataques ao gado para evitar potenciais conflitos”.

Apostar em “actividades económicas sustentadas na natureza” e que “promovam o respeito pela paisagem e pela biodiversidade”, contribuindo dessa forma para o desenvolvimento socio-económico dessas regiões, é outro dos objectivos do projecto, tal como “aumentar a troca de conhecimentos e a capacidade dos actores locais na prevenção de danos ao gado e na detecção de crimes ambientais“. 

Entre os resultados que se pretendem alcançar, apontados pela equipa, estão “a melhoria do quadro legal relativo à utilização de cães de proteção de gado; a melhoria do habitat e o aumento da disponibilidade de presas quer para o lobo, quer para o lince; a utilização de boas práticas em mais de uma dezena de propriedades privadas e o aumento da utilização de medidas de prevenção de danos no gado, nomeadamente de cães de proteção de gado e de vedações”.

Os resultados pretendidos para os próximos cinco anos incluem ainda “o trabalho em conjunto com as autoridades de ambos os países para identificar e prevenir crimes ambientais; o estabelecimento de parcerias com centros de recuperação de fauna silvestre e laboratórios de análises toxicológicas; o apoio e promoção do turismo de natureza sustentável em terras de lobo e de lince; a realização de sessões participativas com actores-chave do território para encontrar soluções positivas que compatibilizem as atividades humanas com a presença destes predadores e a realização de programas de educação ambiental destinados a crianças e jovens”. 

O novo projecto vai dar ainda continuidade e expandir o trabalho desenvolvido no âmbito do LIFE WolFlux, também coordenado pela Rewilding Portugal, que será concluído em 2024.


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.