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Os lixos mais perigosos para a vida marinha? Sacos e películas de plástico

Equipa analisou 79 estudos científicos publicados para avaliar quais são os lixos marinhos mais mortais, cuja diminuição deve ser prioridade.

Todos os anos, entram cerca de oito milhões de toneladas de plásticos no oceano, desde sacos e pedaços duros a microplásticos, redes e linhas de pesca abandonadas e balões.

Sabe-se que muito deste lixo é ingerido por mais de 700 espécies marinhas, incluindo metade dos cetáceos do mundo, como as baleias e os golfinhos, todas as tartarugas marinhas e um terço das aves marinhas.

Mas como reduzir as mortes que estes resíduos provocam? “Tal como num hospital a abarrotar de doentes, temos de fazer uma triagem”, concluíram os responsáveis da CSIRO, agência australiana para a ciência. “Se identificarmos os itens que são mais mortíferos para as espécies mais vulneráveis, podemos aplicar soluções que tenham como alvo esses itens.”

A partir da revisão de 655 estudos científicos sobre lixos marinhos, em especial 79 estudos que incluíam informação sobre a morte de espécies animais, quatro investigadores ligados à agência australiana concluíram que os sacos de plástico, outras películas de plástico e as embalagens flexíveis são as principais causas deste tipo de mortalidade. Os resultados da avaliação foram publicados no início de Dezembro na revista científica Conservation Letters.

A equipa analisou a morte de 159 animais de 80 espécies diferentes, que foram divididos em quatro grupos: cetáceos, focas e leões marinhos, tartarugas marinhas e aves marinhas.

“Um número limitado de produtos de consumo mostrou ser responsável pela maioria das mortes na megafauna. O plástico flexível é responsável pela maior proporção de mortes associadas a resíduos, em especial devido a obstruções gástricas”, concluíram os cientistas.

Borrachas e anzóis

O problema destes tipos de plásticos, como os sacos, é que estão presentes por todo o oceano, mas ao mesmo tempo são perigosos. “O plástico flexível pode amachucar-se e ficar preso em vários pontos do sistema digestivo dos animais”, explicou o coordenador deste estudo, Lauren Roman, citado pelo jornal Guardian. Muitos animais acabam a morrer de fome.

A avaliação agora divulgada mostrou também que alguns objectos são especialmente letais, ou seja, a probabilidade de morte é maior para os animais que os ingerem: pedaços de borracha, resíduos de pescas como os anzóis, fragmentos de metal e balões e outros objectos de látex.

Por grupos de animais, os plásticos usados em película, como é o caso dos sacos, causaram a maior parte das mortes nos cetáceos e nas tartarugas marinhas. Os resíduos associados à pesca, como anzóis e redes abandonados, levaram principalmente à morte de focas e leões marinhos. E nas aves marinhas, a maioria morreu ao ingerir pedaços duros de plástico.

Já os chamados microplásticos, incluindo pedaços microscópicos de fibras de roupa, “apesar de serem abundantes, estão raras vezes implicados na mortalidade.”

O que podemos fazer?

“Reduzir a entrada no ambiente dos plásticos de tipo película, dos lixos associados à pesca e dos balões e objectos de látex vai produzir, provavelmente, o melhor resultado na redução directa da mortalidade da megafauna marinha”, aconselha a equipa de investigadores, numa nota publicada pela CSIRO.

Em causa está desde logo a proibição de sacos de plástico e a imposição de taxas para uso dos mesmos, “que já mostrou que reduz a quantidade de sacos deitados fora”. Desenvolver soluções melhores e mais eficientes para a reciclagem e aumento de vida dos plásticos é outra das soluções apontadas.

Mas não só. Os investigadores sublinham que os aparelhos de pesca abandonados são “especialmente letais” para a vida marinha, até porque 5,7% de todas as redes e 29% de todas as linhas de pesca são perdidos por ano na indústria. Assim, é importante aumentar a qualidade e duração desses materiais, incentivar a entrega nos portos e penalizar o seu abandono no mar.

Quanto aos balões, látex e borrachas, raros no oceano mas particularmente letais, a prioridade é impedir que sejam libertados, por exemplo em eventos festivos. Para isso, “é necessária legislação e uma mudança das vontades do público”, concluem.


Saiba mais.

Recorde a campanha “No Plastics in Nature – Zero Plásticos na Natureza”, lançada pela WWF em 2019.


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.