Reforçada sinalização em estradas do Alentejo para evitar atropelamento de linces

Novos sinais de perigo sobre o risco de atropelamento de linces-ibéricos foram recentemente instalados nas estradas EN122/IC27, na EN 123 e na EN 267, anunciou a Infraestruturas de Portugal (IP).

 

O atropelamento rodoviário é uma das principais causas da mortalidade do lince-ibérico (Lynx pardinus), espécie Em Perigo de extinção.

Em Portugal, os principais territórios deste felino estão na área do Parque Natural do Vale do Guadiana, área protegida com 70.000 hectares.

Para evidenciar a necessidade de se circular com precaução nessa zona “foram recentemente instalados novos sinais de perigo sobre o risco de atropelamento desta espécie, aos quais estão associadas bandas cromáticas, com o objetivo de redução da velocidade de circulação”, segundo um comunicado da IP divulgado a 26 de Julho.

Além disso, “foram também colocados painéis de grande dimensão, nos limites da área de reintrodução, para quem circula na EN122/IC27, e na EN 123 e EN 267”.

 

 

Actualmente, os únicos 547 linces-ibéricos do planeta vivem na Andaluzia (em quatro zonas: Doñana-Aljarafe, Andújar-Cardeña, Guarrizas e Guadalmellato), na Extremadura espanhola (Valle del Matachel), em Castela-La Mancha (Serra Morena Oriental e Montes de Toledo) e no Vale do Guadiana (Mértola e Serpa).

Mas o lince-ibérico tem tido uma história atribulada. No século XIX a população mundial da espécie estava estimada em cerca de 100.000 animais, distribuídos por Portugal e Espanha. Mas no início do século XXI restavam menos de 100. Então, os dois países juntaram-se para recuperar habitats e reproduzir animais. A Infraestruturas de Portugal é um dos parceiros do LIFE+Iberlince, projecto que quer devolver este felino aos seus territórios históricos em Portugal e Espanha.

 

Mel espreita viatura. Foto: Técnico/ICNF/LIFE Iberlince

 

Entre 2015 e 2018 foram libertados mais de 30 linces na natureza no Vale do Guadiana. “Desde este período foi registado o atropelamento de cinco exemplares, duas deles na área de reintrodução, sendo esta situação merecedora da máxima atenção”, lembra a IP.

A entidade aconselha cuidados especiais para o Verão, meses com mais trânsito nas estradas. “Ao cruzar-se com estes painéis e sinalização específica do lince, reduza a velocidade, esteja atento e colabore para contribuir para a sobrevivência do lince-ibérico. Os períodos mais sensíveis são desde o anoitecer até ao amanhecer, mas circule sempre com atenção e prudência.”

Já em Dezembro de 2014 tinham sido instalados sinais específicos para o lince.

Além da colocação dos sinais, outros trabalhos estão a ser feitos para tentar reduzir riscos de atropelamento de linces e de outros animais. A IP “efetua periodicamente a limpeza da vegetação nas bermas das estradas, de modo a evitar a sua utilização pelos linces, a manutenção de passagens hidráulicas e adaptação das mesmas para funcionarem também como passagens de fauna, e instalou dispositivos limitadores de velocidade”. Está também em curso um programa de monitorização de atropelamentos nas estradas da sua rede.

O lince-ibérico é uma espécie classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez. Saiba o que fazer quando vir um lince.

Ver linces-ibéricos em Portugal já não é assim tão impossível. É preciso estar preparado. Pedro Rocha, director do Parque Natural do Vale do Guadiana, deixa algumas sugestões que podem ajudar à conservação da espécie.

Se vir um lince deve ter atenção à cor da coleira, já que cada animal reintroduzido traz uma coleira emissora de cor diferente. Depois, o Parque Natural do Vale do Guadiana agradece o seu contacto para:

Telefone: 286.612.016

Email: [email protected]

E há que ter muita atenção aos sinais da estrada entre Mértola e Beja. “Os linces estão nessa zona. A sério. Aqueles sinais não são só folclore. Há linces a passar”, salientou Pedro Rocha. Existem mais hipóteses de os encontrar durante os períodos crepusculares (ao amanhecer e ao anoitecer), já que é quando os animais estão mais activos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.