Sapo-corredor. Foto: Frank Vassen/WikiCommons

Seca já está a ameaçar anfíbios de Doñana, na Andaluzia

O censo de Inverno aos anfíbios de Doñana é a prova de que a seca que vivemos está já a afectar estes animais. Das 11 espécies de anfíbios que vivem naquele espaço protegido no Sul de Espanha, apenas foram encontrados sete e 353 indivíduos, um número quase 20 vezes inferior ao do ano passado.

Todos os anos nas duas últimas semanas de Janeiro, a equipa da Infraestructura Científico-Técnica Singular de Doñana (ICTS-RBD) faz uma monitorização de Inverno às 11 espécies de anfíbios em 24 locais do Espaço Natural de Doñana.

Este ano, os resultados são desanimadores. “A seca que estamos a viver (109 l/m2  de Setembro a Dezembro de 2021) afectou este grupo de forma considerável”, segundo um comunicado da ICTS-RBD. Este ano, apenas 13 dos 24 pontos visitados tinham água.

A equipa conseguiu encontrar anfíbios em nove locais. “Das 11 espécies de anfíbios que vivem em Doñana (que incluem cinco endemismos ibéricos), apenas observámos sete delas e um total de 353 indivíduos, um número quase 20 vezes inferior ao do ano passado por esta altura.”

As espécies que foram registadas em maior número de locais foram o sapo-de-unha-negra na sua fase larvar (Pelobates cultripes) e a salamandra-de-costelas-salientes (Pleurodeles waltl) em estado adulto em quatro e três locais, respectivamente.

Sapo-corredor. Foto: Frank Vassen/WikiCommons

“Estas espécies são comuns em Doñana e estão associadas a corpos de água mais permanentes já que, no caso do sapo-de-unha-negra, o desenvolvimento larvar pode durar entre três e seis meses”, explicou ainda a ICTS-RBD.

As outras espécies apenas foram encontradas num local, “o que indica as dificuldades que os anfíbios estão a ter para encontrar habitats adequados para a sua reprodução”.

A rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi), um dos endemismos ibéricos, foi o anfíbio mais abundante em número, com numerosos indivíduos observados em pequenos charcos de uma localização.

No ano passado por esta altura tinha chovido quase o dobro, “favorecendo a existência de pequenas charcas ideais para as posturas do sapo-corredor (Epidalea calamita), quase ausente das monitorizações deste ano”.

Se não chover em breve, a equipa receia que as espécies que se reproduzem mais cedo – sapo-corredor, sapo-de-unha-negra ou o sapinho-de-verrugas-verdes-ibérico (Pelodytes ibericus) – terão mais dificuldade em reproduzir-se ou completar a sua reprodução se os poucos corpos de água que se formaram acabarem entretanto por secar antes da sua metamorfose.

“Será preciso esperar pela monitorização da Primavera para constatar a continuidade da presença de água nos locais amostrados e comprovar se as larvas dos anfíbios encontradas completaram com êxito todo o desenvolvimento larvar e se aparecem posturas de outras espécies que se reproduzem mais tarde, como a rela-meridional (Hyla meridionalis).”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.