Síndrome-do-nariz-branco matou mais de 90% de três espécies de morcegos dos EUA

Em menos de 10 anos, a síndrome-do-nariz-branco matou mais de 90% das populações do morcego-de-orelhas-compridas-do-norte (Myotis septentrionalis), do morcego-pequeno-castanho (Myotis lucifugus) e do morcego-tricolorido (Perimyotis subflavus), espécies outrora comuns, alerta um novo estudo publicado a 20 de Abril na revista Conservation Biology.

A síndrome-do-nariz-branco é o nome dado à doença dos morcegos causada pela exposição ao fungo Pseudogymnoascus destructans, que prospera nas grutas frias e húmidas frequentadas pelos morcegos. O fungo invade a pele destes animais e causa as características marcas brancas no focinho e nas asas. Ele faz com que os morcegos acordem da hibernação mais cedo do que o habitual, obrigando-os a gastarem as suas reservas de gordura. Muitos morrem de fome ou de frio.

O fungo é endémico da Ásia e Europa, por isso aqui os morcegos têm coexistido com ele por mais tempo. A doença só recentemente invadiu a América do Norte, em 2006, transportada por humanos. Desde então já morreram mais de seis milhões de morcegos.

Neste artigo, publicado a 20 de Abril, os investigadores alertam para os impactos devastadores desta doença. Para isso recorreram ao maior conjunto de dados sobre as populações de morcegos da América do Norte, que inclui informação sobre mais de 200 locais em 27 estados e em duas províncias do Canadá.

Este estudo precisou da ajuda de 60 colaboradores, de 37 organizações e de centenas de voluntários que participaram nos censos de Inverno de morcegos durante um período de 23 anos. Os dados foram compilados pelo North American Bat Monitoring Program (NABat), criado pelo U.S. Geological Survey e pelo U.S. Fish and Wildlife Service (Service) e por vários parceiros para melhorar a ciência de conservação dedicada aos morcegos.

“Os impactos da síndrome-do-nariz-branco nas populações de morcegos têm sido rápidos e severos, mas ainda não perdemos a esperança”, comentou, em comunicado, Jeremy Coleman, coordenador nacional norte-americano para a monitorização desta doença e um dos autores do artigo.

Fungo causador da doença num morcego-de-orelhas-compridas-do-norte. Foto: Steve Taylor/Universidade de Illinois

Depois de ter sido detectado pela primeira vez em Nova Iorque em 2006, a síndrome-do-nariz-branco espalhou-se para 35 estados e sete províncias do Canadá e foi confirmada em 12 espécies de morcegos da América do Norte.

“A severidade do impacto desta doença nas populações de morcegos é impressionante. Descobrimos que nove em cada dez morcegos das espécies mais vulneráveis já desapareceram”, disse Winifred Frick, cientista-chefe da Bat Conservation International e um dos autores do artigo. “Os morcegos são essenciais aos nossos ecossistemas e os nossos resultados que se baseiam no trabalho de tantos biólogos por todos os Estados Unidos e Canadá direccionam os nossos esforços em como melhor proteger estes importantes mamíferos.”

“Com este estudo colaborativo esclarecemos a escala da perda que resulta da síndrome-do-nariz-branco”, comentou Carl Herzog, biólogo do Departamento de Conservação Ambiental do estado de Nova Iorque e um dos autores do artigo científico. “A história que conta é negra, evidentemente, mas termos uma ideia clara daquilo que temos pela frente é um primeiro passo importante para definirmos uma resposta eficaz.”

O declínio continuado dos morcegos-de-orelhas-compridas-do-norte levou a que as autoridades norte-americanas incluíssem a espécie na lista da Lei das Espécies Ameaçadas dos Estados Unidos. Além disso, estão em curso os trabalhos de revisão para os morcegos-pequenos-castanhos e para os morcegos-tricoloridos. Estados a nível individual e o Canadá também estão a avançar com protecções adicionais para os seus morcegos.

Por enquanto não se conhece nenhuma cura para a síndrome-do-nariz-branco. Mas cientistas em todo o mundo estão a trabalhar em conjunto para estudar a doença e determinar como poderá ser controlada.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.