Foto: Associação Insular de Geografia
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Madeira: Pintando o horizonte, explorando a Área Protegida da Ponta do Pargo

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Nuno Filipe Silva, da Associação Insular de Geografia, dá-nos a conhecer a mais recente área protegida do arquipélago da Madeira, um tesouro escondido que em breve deverá ser alvo de mudanças significativas.

Em 2018, foi criada a Área Protegida da Ponta do Pargo através do Decreto Legislativo Regional n.º19/2018/M de 22 de Agosto. Esta área protegida engloba o Parque Natural Marinho da Ponta do Pargo, na sua parte marítima, enquanto que à parte terrestre pertencem a Paisagem Protegida da Ponta do Pargo e o Monumento Natural da Ponta do Pargo. Este espaço inclui também a Zona Especial de Conservação das Achadas da Cruz, que pertence à rede natura 2000.

Devido às suas características notáveis e ao seu elevado interesse, quer a nível de investigação científica, quer até pedagógico, de proteção, valorização ambiental e turístico, é fundamental preservar os valores encontrados em toda esta área – tanto na sua parte terrestre como na parte marinha.

Classificado como categoria VI da International Union for Conservation of Nature (IUCN), o Parque Natural Marinho da Ponta do Pargo tem como objetivo essencial a adoção de medidas de proteção, valorização e uso sustentado do mar, numa interação harmoniosa com as atividades humanas e a natureza. Apresenta um elevado interesse ao nível do seu património geológico submerso, com uma biodiversidade muito rica, com a presença de várias comunidades de espécies e de peixes, como representação dos ecossistemas marinhos costeiros encontrados na ilha da Madeira.

Foto: Associação Insular de Geografia

É importante preservar este ecossistema numa lógica de conservação e manutenção da biodiversidade marinha, pois algumas espécies encontradas são de elevada importância para manter os ecossistemas e também as atividades piscatórias. O Parque Natural Marinho apresenta ainda um elevado potencial turístico, com spots de surf e de mergulho ainda pouco explorados. 

Por sua vez, o Monumento Natural da Ponta do Pargo, classificado como categoria III da IUCN, engloba a arriba entre a ribeira do Tristão no concelho do Porto Moniz, a norte, e a oeste o ribeiro Velho no concelho da Calheta. Esta arriba é caracterizada por uma morfologia retilínea devido à abrasão marítima a que está sujeita, graças à presença de ondulação forte. Podemos também observar aqui um património geológico com elevado interesse, com a presença de falhas perpendiculares que nos ajudam a compreender a história geológica da ilha.

Foto: Associação Insular de Geografia

Já nas Achadas da Cruz, encontramos uma área com classificação de Zona Especial de Conservação (ZEC), que integra a Rede Natura 2000 presente na ilha da Madeira. Com estatuto de proteção da União Europeia, esta parcela do território acaba por estar também incluída nesta área protegida, verificando-se neste local a existência de espécies endémicas da ilha da Madeira e da Macaronésia. Destaca-se a importância significativa desta zona para a preservação e manutenção da avifauna marinha e terrestre que utiliza as falésias para nidificação.

A Paisagem Protegida da Ponta do Pargo, classificada com a Categoria V da IUCN, corresponde a todas as fajãs existentes com terrenos agrícolas, formadas através do deslizamento de material proveniente da arriba. Aqui podemos encontrar atividades humanas interligadas em harmonia com a natureza, como por exemplo os famosos poios/socalcos, construídos através de pedra, e também os armazéns agrícolas tradicionalmente chamados de “palheiros”. Esta ligação entre as pessoas e a natureza através do tempo transformaram esteticamente estas fajãs, fazendo parte da cultura deste local.

Um pôr-do-sol extraordinário e um teleférico para destemidos

Os miradouros são um dos pontos mais procurados desta área protegida que se localiza na costa oeste da ilha da Madeira, nas freguesias de Ponta do Pargo (concelho da Calheta) e Achadas da Cruz (concelho do Porto Moniz). Desde logo, porque são autênticos pontos panorâmicos de paisagens privilegiadas, proporcionando vistas magníficas sobre a costa oeste da ilha da Madeira e também sobre o Monumento Natural da Ponta do Pargo, conjugado com a parte marinha e as suas fajãs.

Foto: Associação Insular de Geografia

Além disso, estes miradouros oferecem-nos um extraordinário pôr-do-sol durante todo o ano. O local predileto para assistir a este momento é o farol da Ponta do Pargo, onde se tem vindo a sentir uma grande afluência de visitantes, tanto locais como turistas. Não apenas para a visitação do farol mas também para aqui permanecerem durante alguns instantes, apreciando a conjugação de cores que se observa no horizonte.

O teleférico das Achadas da Cruz representa outro ponto de referência, com uma inclinação que atinge os 98% durante 600 metros de descida. Nem todos terão coragem para a descida, mas com certeza os mais destemidos terão a oportunidade única de aproveitar a paisagem e a tranquilidade que este cenário deslumbrante apresenta. Outra opção para quem é amante de caminhadas passa por fazer a descida a pé, através da vereda existente. As redes sociais têm facilitado a divulgação e a propagação destes locais que se têm tornado referências no turismo regional, com projetos a surgirem para a construção de unidades hoteleiras e de um campo de golf nas áreas circundantes da Ponta do Pargo.

Os próximos anos irão constituir uma mudança significativa deste local. O facto desta área já possuir estatuto de proteção, o mais recente da Região Autónoma da Madeira, pode representar um importante contributo para a manutenção e proteção dos seus ecossistemas e para a a gestão sustentável deste espaço protegido, assegurando para as gerações futuras um património natural saudável e a sua valorização económica e turística. Conservar os recursos naturais é uma meta fundamental para se alcançar um modelo de desenvolvimento sustentável.


Este artigo é publicado na Wilder no âmbito de uma parceria com a Associação Insular de Geografia, através do seu projecto GIRO (Projecto de Valorização da Área Protegida do Cabo Girão). Leia mais artigos desta série aqui.

Associação Insular de Geografia desenvolve o GIRO – Projeto de Valorização da Área Protegida do Cabo Girão, com o intento de valorizar, proteger e promover os valores ecológicos e culturais desta tão especial área classificada, localizada no concelho de Câmara de Lobos, na ilha da Madeira.

Área Protegida do Cabo Girão é subdividida em três classificações: o Monumento Natural, a Paisagem Protegida e o Parque Natural Marinho. Adicionalmente, as formações vegetais e as zonas de nidificação e repouso da avifauna marinha presentes na arriba do Cabo Girão integram a Rede Natura 2000, caracterizando o Sítio de Importância Comunitária Cabo Girão (PTMAD0011).