Foto: Ana Júlia Pereira/Flora-On
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Para ver no Outono: Nove belas plantas que estão agora em flor

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Com a ajuda de Carine Azevedo e João Farminhão, descubra algumas “delícias botânicas” que pode encontrar na natureza em Portugal nesta altura do ano, e quais as regiões do país onde estão presentes.

Apesar de esta ser uma estação em que muitas árvores perdem as folhas e a natureza parece abrandar para preparar os dias frios do Inverno, há dezenas de plantas que em Portugal florescem durante o Outono, salpicando de cor as paisagens. Feitas as contas, segundo o portal Flora-On, da Sociedade Portuguesa de Botânica, são 69 as diferentes espécies botânicas que florescem por estes dias. Dessa forma, muitas atraem insectos polinizadores, sem enfrentarem a competição que teriam na Primavera.

Fique a conhecer nove plantas que pode encontrar por estes dias em flor na natureza, sugeridas por Carine Azevedo, consultora na gestão de património vegetal, e por João Farminhão, investigador ligado ao Jardim Botânico da Universidade de Coimbra e também a esta universidade.

1. Açafrão-bravo (Crocus serotinus)

“O açafrão-bravo é uma planta bolbosa, que passa grande parte do seu ciclo de vida ‘escondida’. As flores são de cor lilás e surgem no Outono, altura em que vale a pena procurar esta planta”, sugere Carine Azevedo. Em Portugal continental, acrescenta, são conhecidas três subespécies: o Crocus serotinus subsp. serotinus ocorre no Litoral Centro e Sul, o Crocus serotinus subsp. clusii na região Centro, e o Crocus serotinus subsp. salzmannii na região Norte.

2. Campainhas-de-outono ou lágrimas-do-outono (Acis autumnalis ou Leucojum autumnale)

Algumas plantas geófitas surgem à superfície do solo unicamente no Outono e brindam-nos com as suas flores únicas, como é o caso das campainhas-de-outono (Acis autumnalis ou Leucojum autumnale), refere Carine Azevedo.

“Como acontece com as restantes bolbosas, esta planta passa uma grande parte do ano escondida no solo, brindando-nos com as suas pequenas flores durante o Outono. As flores são delicadas, brancas e muito pequenas.”

Já para João Farminhão estas pequenas flores, que conhece pelo nome comum de lágrimas-do-outono, são uma das suas “delícias botânicas” favoritas nesta época do ano. E confessa: “Indiscreto, não resisto em espreitar por baixo das sininhos brancos para ver os estames bem amarelos.”

Podem ser vistas por todo o território continental português à exceção do Nordeste Transmontano, florindo de Setembro a Novembro.

3. Capuz-de-frade ou candeias (Arisarum simorrhinum)

“Esta planta é particularmente interessante quando está em flor, entre Outubro e Abril”, afirma Carine Azevedo, que a aponta como outra das suas plantas preferidas nesta estação. Os capuzes-de-frade podem ser encontrados de norte a sul de Portugal continental e também na Madeira e Açores. Neste último arquipélago, estas pequenas plantas foram introduzidas e hoje podem ser vistas assilvestradas ou cultivadas.

4. Cila-do-outono (Scilla autumnalis)

Observada nesta estação do ano de norte a sul de Portugal continental, a cila-do-outono “é particularmente interessante quando está em flor, entre Setembro e Novembro”, descreve Carine Azevedo. 

5. Medronheiro (Arbutus unedo)

“É outra das minhas escolhas para procurar nesta época do ano, não só pelos seus frutos – medronhos – vermelhos vibrantes, mas também pelas suas flores subtis, muito pequenas e discretas, que contribuem para a beleza singular desta planta”, destaca Carine Azevedo.

Os medronheiros podem ser vistos por todo o Portugal continental – sendo mais comuns no Centro e Sul – e também na Madeira, arquipélago onde foram introduzidos e estão hoje assilvestrados ou são vistos em culturas. 

Carine adianta que este arbusto ou pequena árvore “tem um período de floração longo que se estende do outono até ao final do inverno e que coincide com o período de frutificação”. Com efeito, os frutos “ficam maduros entre Outubro e Novembro”.

6. Montã-do-outono (Ranunculus bullatus)

“O amarelo acetinado das flores da montã-do-outono (Ranunculus bullatus) satisfaz o meu desejo de requinte”, nota João Farminhão, que sublinha que “o recorte mimoso das folhas e o facto de ser o único ranúnculo de floração outonal acrescentam beleza à sua contemplação”.

Esta espécie botânica prefere solos calcários, ocorrendo no Algarve, Alentejo, Estremadura e Beira Litoral, florindo de Outubro a Dezembro.

7. Quita-merenda (Colchicum montanum ou Merenda montana)

Presente no Norte e Centro de Portugal continental, a quita-merenda, também chamada de quita-merendas ou noselha-dos-montes, “é particularmente interessante quando está em flor”, afiança Carine Azevedo, que informa que esse período vai de Setembro a Novembro. 

Esta é outra planta geófita, permanecendo escondida debaixo do solo durante uma boa parte do ano, tal como as campainhas-de-outono, o açafrão-bravo, a cila-de-outono e muitas outras.

8. Torga (Calluna vulgaris)

Carine Azevedo destaca as flores delicadas da torga (Calluna vulgaris), que tal como as da urze-lusitanica (Erica lusitanica), “adicionam uma pitada de beleza à paisagem outonal, criando um contraste encantador com as folhas das árvores que começam a mudar de cor e a cair”.

Este pequeno arbusto pode ser observado por todo o território continental e também nos Açores e Madeira, tendo sido introduzido neste último arquipélago. “É particularmente interessante no Outono e no Inverno, uma vez que é nessa altura que floresce. No entanto, mesmo sem estar em flor, também é muito bonita.”

9. Urze-lusitânica (Erica lusitanica)

A urze-lusitânica está presente de norte a sul de Portugal continental e “é particularmente interessante quando está em flor”, descreve Carine Azevedo. Este arbusto “começa a florescer no Outono, mantendo-se a florir até à Primavera”, pelo que as suas pequenas flores podem ser observadas ainda durante muito tempo. Ainda assim, esta urze “mesmo sem estar em flor também é muito bonita.”


Saiba mais.

Descubra algumas destas plantas de Outono e muitas outras, descritas por Carine Azevedo na Wilder. E fique a conhecer o projecto Portugal Botânico, coordenado por João Farminhão no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.