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Sebes de jardim: um elemento decorativo amigo da vida selvagem

Na série “Abra espaço para a natureza”, Carine Azevedo responde às dúvidas que temos quando pensamos em tornar um espaço mais amigo do mundo natural.

As plantas, sejam elas herbáceas, arbustos ou árvores, adicionam mais do que apenas valor estético a um jardim. A sua distribuição num espaço verde depende muito da função a que este se destina. A plantação de árvores ou de arbustos em cortina, formando sebes vivas, é uma solução natural que permite a criação de um ambiente mais próximo com a natureza.

As sebes são versáteis, atuam como verdadeiras telas de privacidade. Podem simplesmente ajudar a delimitar áreas, mas também ajudam a bloquear o ruído, o vento e os olhos dos mais curiosos. São também amigas da vida selvagem e podem simplesmente servir como mais um elemento decorativo do jardim.

As sebes

As sebes consistem em linhas ou faixas de árvores e de arbustos, geralmente plantados em intervalos regulares e próximos uns dos outros, de forma criar uma “cortina” natural.

Foto: Frauke Riether/Pixabay

Todas as sebes podem adicionar diferentes graus de beleza ao jardim. Podem ser grandes ou pequenas, largas ou estreitas, formais ou informais, a escolha só depende daquilo que se pretende obter com a sua instalação. Existe uma ampla gama de plantas que podem ser usadas, por isso há opções para todos os locais e todos os estilos.

A maioria das plantas utilizadas em sebes são de crescimento rápido e são mais ou menos resistentes a podas. No entanto, importa conhecer bem quais as espécies que melhor se adequam a cada local. Caso contrário, a sebe nunca terá a melhor aparência.

Tipo, estilo e tamanho

Para selecionar a sebe ideal, é fundamental escolher bem o tipo, o estilo e o tamanho da sebe que se pretende formar.

As sebes podem ser divididas em duas categorias principais:

– As sebes perenes, que são constituídas por plantas de crescimento compacto, cujas folhas se manterão ao longo de todo o ano, fazendo a sua renovação gradual sem nunca ficarem totalmente despidas. Este tipo de plantas proporciona diferentes texturas e cores de folhagem e garante a privacidade dos espaços durante todo o ano.

– As sebes decíduas, que são formadas por plantas que perdem a folhagem durante a época do ano mais desfavorável, quebrando o efeito de privacidade. Por outro lado, são tipicamente ricas em flores e bagas, com belas cores e aromas quando florescem e frutificam, criando um efeito decorativo excecional ao longo de todo o ano.

Quanto ao estilo, pode optar-se por uma sebe formal ou informal. A principal diferença prende-se com a sua manutenção e a frequência com que são podadas.

Uma sebe formal é regularmente aparada e mantém um aspeto muito arrumado e linear, adicionando um design geométrico ao jardim. Este tipo de sebe requer uma manutenção regular para manter uma boa aparência.

Foto: Yves/Pixabay

Já uma sebe informal apresenta uma aparência mais solta, livre e menos densa, e é pensada para adicionar um carácter mais selvagem e natural ao jardim. Este tipo de sebe precisa de podas pouco frequentes, o que favorece a floração e a produção de frutos.

A sebe informal é a solução perfeita para locais que recebem pouca manutenção ou em áreas de difícil acesso. Além disso, podem ser importantes corredores de vida selvagem.

Durante o processo de escolha de uma sebe, também é fundamental pensar sobre o seu tamanho adulto. Na sua instalação, as plantas são pequenas, mas à medida que forem crescendo podem bloquear acessos e criar um efeito contrário ao que inicialmente se definiu.

Algumas sebes, por exemplo, são mais invasivas do que outras, e isto significa uma maior ou menor ocupação de espaço, além de podas mais ou menos frequentes. Outras poderão crescer demasiado em altura, o que dificulta a sua manutenção.

A escolha certa!

As coníferas são a escolha mais popular dentro da categoria das sebes perenes. Estas plantas, de folhagem densa e macia, permitem criar barreiras de privacidade compactadas. No entanto, quando negligenciadas ou demasiado desenvolvidas, são difíceis de restaurar.

Incluem-se neste grupo, entre outras, a tuia-vulgar (Thuja occidentalis), o teixo (Taxus baccata), o cipreste-de-Lawson (Chamaecyparis lawsoniana) e o zimbro-bravo (Juniperus oxycedrus).

Foto: Arcaion/Pixabay

A tuia-vulgar e o teixo, por exemplo, são ótimos para espaços estreitos, criam privacidade e bloqueiam o vento. A primeira possui um crescimento mais rápido e folhas semelhantes a escamas, verde-escuras na face superior e mais pálidas na face inferior. 

Já o teixo cresce mais lentamente e possui uma folhagem densa, compacta e verde vibrante. Esta espécie também forma pequenos frutos vermelhos que surgem no outono – que, embora deliciosos para os pássaros, são prejudiciais aos seres humanos e aos animais de estimação.

Foto: wal_172619/Pixabay

Por outro lado, também pode optar-se pelas espécies folhosas de folha persistente para obter uma sebe compacta, uma vez que crescem rapidamente e também podem ser aparadas.

O louro-cerejo (Prunus laurocerasus), a fotínia (Photinia fraseri), o folhado (Viburnum tinus) o loureiro (Laurus Nobilis), o buxo (Buxus sempervirens), o sanguinho-das-sebes (Rhamnus alaternus), o aderno-de-folhas-largas (Phillyrea latifolia), a abélia (Abelia × grandiflora) e a escalónia (Escallonia spp.) são algumas das espécies mais utilizadas.

Foto: Júlio Reis/Wiki Commons

O buxo (Buxus sempervirens), por exemplo, é um arbusto com folhas suaves e com um aroma característico, de crescimento lento, bastante tolerante às podas e à seca. 

Por outro lado, a fotínia (Photinia fraseri) acrescenta cor ao jardim. Esta planta de crescimento rápido destaca-se pelo arrojado vermelho das folhas jovens que surgem durante a primavera e que mais tarde escurecem e assumem um tom verde mais intenso.

De entre as espécies de folha caduca, destacam-se como boas alternativas para constituir sebes decíduas a bérberis (Berberis thunbergii), a murta (Myrtus communis), a romanzeira (Punica granatum), o pilriteiro (Crataegus monogyna), a weigela (Weigeila florida) e a forsítia (Forsythia x intermedia).

Foto: Jean-Pol GRANDMONT/Wiki Commons

A forsítia (Forsythia x intermedia) é uma das primeiras a florir, as flores amarelas-douradas sinalizam o fim do inverno e surgem ainda antes da formação das novas folhas que caíram no outono. 

Já a bérberis (Berberis thunbergii) destaca-se durante todo o ano, possui folhas vermelho-púrpura escuras, que contrastam com flores pequenas, vermelhas e amarelo-pálidas em meados da primavera. No outono, as folhas ficam com um tom brilhante vermelho antes de cair.

Foto: Nowaja/Pixabay

Qualquer uma destas espécies pode ser usada para o estabelecimento de sebes formais ou informais, mas a forma como vão ser conduzidas é que será diferente.

As sebes e a vida selvagem

As sebes permitem que a vida selvagem se mova entre jardins e outros espaços e fornecem abrigo e proteção, particularmente a pássaros e insetos. Estes corredores de vida selvagem são vitais para muitas espécies animais.

Foto: Manfred Richter/Pixabay

As sebes informais são melhores do que aquelas que são regularmente podadas para atrair e proteger a vida selvagem, já que nestas últimas as flores e os frutos são frequentemente sacrificados para criar uma forma limpa e formal.

As flores que aparecem durante a primavera e o verão são uma fonte de néctar para os polinizadores, nomeadamente borboletas e abelhas, mas também adicionam alguma cor extra ao jardim durante a estação de floração. Por outro lado, quando estas flores forem substituídas por bagas, algumas com um valor estético próprio, os pássaros que as comem transformarão uma vez mais o jardim.

As sebes não devem ser podadas até ao final do inverno ou início da primavera, para que a vida selvagem possa aproveitar os frutos fornecidos por estas plantas durante o inverno.

Foto: Kev/Pixabay

Também as plantas nativas são mais favoráveis à vida selvagem. A fauna nativa está mais familiarizada com estas espécies, que são excelentes corredores de vida selvagem e uma importante fonte de alimento, mas também porque muitas vezes oferecem os melhores locais de nidificação.

O folhado (Viburnum tinus), o loureiro (Laurus nobilis), o teixo (Taxus baccata), a murta (Myrtus communis), o pilriteiro (Crataegus monogyna), o abrunheiro-bravo (Prunus spinosa) e o azereiro (Prunus lusitanica) são algumas espécies nativas que adicionarão cor e perfume ao jardim e que o poderão transformar num paraíso para a vida selvagem. 

Foto: Sten Porse/Wiki Commons

Se quiser conhecer melhor estas e outras espécies nativas, leia os artigos que escrevi dedicados às que fui encontrando ao longo das estações.