Foto: Jenny Th/Wiki Commons

Torne-se um perito: O apelo noturno do noitibó

Hany Alonso e Ana Pedro apresentam-nos duas aves misteriosas que podemos ouvir por estes dias, depois do pôr do sol. Fique a conhecer os noitibós e ouça exemplos do seu canto tranquilizador e mágico.

Quando pensamos em aves noturnas, as corujas e os mochos vêm-nos logo à cabeça, mas existe um outro grupo de aves com hábitos noturnos e crepusculares: os noitibós. Na verdade, esta espécie é especialista na vida noturna e a observação de um noitibó a caçar numa noite de Verão pode ser um momento de magia para quem gosta de se deixar surpreender pela natureza.

Embora, ao contrário dos morcegos, não tenha um sistema de ecolocalização, o noitibó ultrapassa as dificuldades trazidas pela noite com uma visão excelente, um voo extremamente ágil e algumas adaptações morfológicas verdadeiramente únicas.

Além das asas compridas, ao estilo dos falcões, consegue abrir a boca num ângulo de quase 180°, o que o ajuda na captura dos insetos alados de que se alimenta. Possui também uns longos bigodes, que lhe permitem aumentar a área de captura de insetos para a boca aberta. 

Noitibó-cinzento (Caprimulgus europaeus). Foto: P.Taszynski/Wiki Commons

Os noitibós não permanecem em território nacional durante todo o ciclo anual. São migradores de longa distância, pelo que, no fim do verão, viajam até à África subsaariana, cruzando oceanos e desertos, entre outras barreiras. Viajam durante a noite e descansam durante as horas de luz, sendo que ao longo da sua viagem fazem várias paragens de alguns dias para se reabastecer (áreas de stopover) de insetos. Esta é a razão pela qual a conservação das suas áreas de invernada e de stopover é tão importante para, no ano seguinte, podermos ouvir o noitibó durante uma caminhada noturna.

Como durante a maior parte do dia os noitibós descansam no solo, muitas vezes em caminhos, esta ave conta com uma outra especialização, a camuflagem, que lhe permite passar despercebida aos outros animais. Com a sua plumagem críptica, repleta de tons acastanhados e cinzentos, torna-se muito difícil distingui-la da folhagem e ramos que, habitualmente, se encontram no solo. 

Noitibó-vermelho (Caprimulgus ruficollis). Foto: Olivença/Wiki Commons

O noitibó confia tanto na sua camuflagem que é comum levantar voo apenas como último recurso, se o predador ou pessoa já estiver praticamente em cima dele. Infelizmente, este comportamento tem um lado negativo, uma vez que também acaba por ser vítima frequente de atropelamentos, por carros em velocidade excessiva.

Podemos observar duas espécies de noitibós em Portugal: o noitibó-cinzento Caprimulgus europaeus, que aprecia zonas abertas e uma grande diversidade de habitats, incluindo clareiras em áreas florestadas, como as que se encontram no centro e norte do país; e o noitibó-de-nuca-vermelha, Caprimulgus ruficollis, que prefere habitats mais arenosos e é mais comum no sul do território.

Uma última particularidade deste grupo de aves é o seu canto, longo e rítmico, mas simultaneamente tranquilizador e mágico. À noite, lembra-nos de que inúmeros seres fascinantes dão vida às nossas paisagens.

Ouça o noitibó-cinzento (Caprimulgus europaeus):

Som recolhido por Javier García Saéz/xeno-canto

Ouça o noitibó-vermelho (Caprimulgus ruficollis):

Som recolhido por João Tomás/xeno-canto

Conte as Aves que Contam Consigo

A série Conte as Aves que Contam Consigo insere-se no projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, dinamizado pela SPEA em parceria com a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA) e financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.