Torne-se um perito: Cinco coisas a saber sobre a anilhagem de morcegos

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Anilhar morcegos é crucial para sabermos mais sobre estes mamíferos, em especial as espécies ameaçadas. Paulo Barros, investigador na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), faz parte das equipas que, todos os anos, anilham morcegos de Norte a Sul do país.

WILDER: Qual é o objetivo da anilhagem de morcegos?

Paulo Barros: A anilhagem de morcegos é um método largamente utilizado em todo o mundo e tem como objetivo geral o estudo de populações a longo prazo e o estudo dos movimentos migratórios. Veja-se este exemplo de migração de Pipistrellus nathusii, alguns dados de anilhagem em Portugal, dados pontuais de migração regional do Miniopterus schreibersii no Norte de Portugal ou deste morcego que fez mais de 2.000km

Foto: Paulo Barros/UTAD

W: Onde e quando decorrem as sessões de anilhagem?

Paulo Barros: A anilhagem de morcegos em Portugal é realizada principalmente em espécies cavernícolas, em particular no Miniopterus schreibersii, Myotis myotis e Myotis blythii. Por isso as sessões são realizadas, principalmente, nos abrigos subterrâneos destas espécies e são sempre realizadas fora do seu período de criação (Abril-Julho).

W: Inserem-se em que projeto ou iniciativa?

Paulo Barros: A anilhagem de espécies cavernícolas insere-se no âmbito do Programa de Monitorização de Abrigos Subterrâneos de Importância Nacional de Morcegos, que está sob a coordenação do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF). Esta anilhagem é assegurada por técnicos voluntários de norte a sul do país, devidamente credenciados pelo ICNF para o efeito. Todos os registos de anilhagem e recapturas de anilhas são reportados anualmente ao ICNF para a sua introdução na base de dados nacional. Além deste projeto a nível nacional existem outros, de âmbito mais restrito espacial e temporalmente, que têm como objetivo a investigação, trabalhos académicos ou de avaliação de impactes ambientais.

Foto: Paulo Barros/UTAD

W: Qual a sua importância?

Paulo Barros: A anilhagem pode ser utilizada para estudos de movimentação espacial, dispersão, longevidade ou estrutura social, já que esta técnica permite uma identificação inequívoca do indivíduo, premissa essencial neste tipo de estudos. Devido às alterações climáticas, esta técnica reveste-se de uma importância acrescida, já que possivelmente em consequência destas alterações, algumas colónias de morcegos têm deixado de ocorrer (em números reduzidos ou totalmente) nos abrigos habituais, sendo a anilhagem preponderante para a identificação dos indivíduos e possíveis movimentações.

W: Como está a correr a anilhagem deste ano?

Paulo Barros: Depois de um interregno devido às limitações de entrada em abrigos subterrâneos por causo da pandemia, este ano a anilhagem de morcegos tem paulatinamente regressado ao normal, com a anilhagem de algumas centenas de animais (Miniopterus schreibersii, Myotis myotis e Myotis blythii). Ainda contamos anilhar mais alguns indivíduos na época de migração outonal em abrigos satélite de Miniopterus schreibersii e Myotis myotis.

Foto: Paulo Barros/UTAD

W: Estas anilhagem são feitas há quanto tempo?

Paulo Barros: A anilhagem em Portugal já conta com um largo historial e vem sido realizada desde dos anos de 1980.


Sabia que…

Actualmente existem em Portugal continental 25 espécies de morcegos, três das quais Criticamente Em Perigo: o morcego-de-ferradura mediterrânico, o morcego-de-ferradura-mourisco e o morcego-rato-pequeno.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.