Que espécie é esta: aranha-de-berçário

A leitora Katy Ferreira fotografou esta aranha a 25 de Abril em Ovar e quis saber a que espécie pertence. Sérgio Henriques responde.

 

 

Trata-se de uma Pisaura mirabilis, uma aranha que como o nome indica é de facto maravilhosa.

Espécie identificada e texto por: Sérgio Henriques, líder do grupo de especialistas em aranhas e escorpiões da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e especialista da Sociedade Zoológica de Londres.

Uma caçadora de velocidade e precisão, esta aranha alimenta-se dos pequenos animais que vivem ao nível do solo.

Quando o macho atinge a maturidade e vai à procura de parceira, captura uma presa que não come, mas que embrulha em seda como presente e que apresenta à fêmea quando a encontrar. Enquanto esta desembrulha a prenda e se alimenta, o macho transfere os seu genes para uma nova geração mirabilis.

Nem todos os machos são tão honestos e alguns comem o insecto que oferecem, não dando portanto nada de valor à fêmea. Outros colocam muita seda para darem a impressão de que a sua prenda é na verdade muito maior do que de facto é.

Mas as fêmeas, como se sabe, não são nenhumas palermas e se desconfiam da honestidade do macho podem justificadamente atacá-lo. Estes, no entanto, têm um último recurso caso o seu truque com a prenda falhe, e fingem-se de mortos. A fêmea fica sem saber o que aconteceu e caridosamente não ataca mais o que ela pensa ser um macho morto, que assim que tem oportunidade “volta à vida” para tentar a sua sorte noutro lugar.

Quando as fêmeas dão à luz carregam o saco de ovos na sua boca até que as crias esteja prontas para nascer. É neste momento que constroem a única teia da sua vida, um berçário para as suas crias, o que lhe dá o seu nome comum em inglês: ‘Nursery web’. As crias vivem juntas e seguras nesta teia bem única com esta função tão específica, guardadas pela sua mãe até que estejam prontas a enfrentar o mundo sozinhas.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

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Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.