Construída passagem para evitar atropelamento de linces

Uma passagem para a vida selvagem, nomeadamente para o lince-ibérico, foi inaugurada ontem por debaixo da autoestrada A-483 em Almonte, na zona de Doñana, na Andaluzia. O objectivo da intervenção é reduzir o risco de atropelamento de inúmeras espécies.

 

A nova passagem, com um investimento de 560 mil euros, situa-se ao quilómetro 20,8 da A-483, via que liga as localidades de Almonte e El Rocío. Trata-se de um túnel de passagem por debaixo da estrada que “permitirá a permeabilidade do território, evitando que os animais atravessem a via”, explica a Junta da Andaluzia em comunicado.

“Este tipo de intervenções são fundamentais para a ligação entre as populações de linces-ibéricos”, comentou José Fiscal, conselheiro andaluz para o Ambiente e Ordenamento do Território, que ontem se deslocou ao local.

Em 2016 estão registados um total de 33 linces-ibéricos encontrados mortos. Destes, 15 foram atropelados (13 na Andaluzia, um em Portugal e um em Castela-La Mancha).

Nesta segunda-feira, dia 18 de Dezembro, agentes da Guarda Civil encontraram o cadáver de um lince-ibérico atropelado, entre Villafranca de los Barros e Palomas. Segundo o programa Iberlince, era um macho que nasceu no Centro de Reprodução de El Acebuche (perto de Doñana) e libertado este ano.

O cadáver foi transportado para o Centro de Recuperação de Fauna da Serra de Fuentes, para a realização da necrópsia.

Ao final da manhã do mesmo dia foi encontrado outro cadáver de lince-ibérico na A-44, na zona de Pegalajar, em Jaén. Tratava-se de uma fêmea, proveniente de Ciudad Real.

Ambos os cadáveres foram levados para centros especializados, onde serão realizadas as necrópsias.

Desde o final do Verão de 2014 que têm sido implementadas algumas intervenções nas estradas da Andaluzia, no âmbito do programa Iberlince para a Recuperação da Distribuição Histórica do Lince-ibérico em Espanha e Portugal. O objectivo é reduzir em 30% o impacto dos atropelamentos na população de linces daquela região espanhola.

Em Portugal, mais concretamente em Mértola – a única zona seleccionada até ao momento para a reintrodução deste felino -, a Infraestruturas de Portugal (IP) tem vindo a intervir em alguns troços de estrada. Foram colocados oito sinais de trânsito que avisam os condutores que estão a circular na área de reintrodução do lince-ibérico, no Vale do Guadiana (Alentejo), na EN122 e na ER267. Além destes sinais, a IP, no âmbito do Iberlince, tem feito limpeza de bermas e taludes.

Este tipo de medidas estão previstas no projecto Life+Iberlince. Segundo o censo de 2016, existem 397 linces-ibéricos na Andaluzia.

O censo para 2017 ainda está a decorrer mas já foram contabilizados até ao momento 382 animais, segundo a Junta da Andaluzia.

José Fiscal aproveitou para adiantar que a comissão de acompanhamento do Iberlince já chegou a acordo quanto ao número de linces a libertar em 2018. Assim, prevê-se que sejam reintroduzidos na natureza 31 animais (16 machos e 15 fêmeas) com o objectivo de continuar a reforçar a população da espécie.

O lince-ibérico é uma espécie classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

O Projeto Iberlince recorda a importância de se avisar o 112 quando é detetado um lince-ibérico morto, o que permite ativar o protocolo de levantamento do cadáver o mais rapidamente possível. Isto é essencial para obtenção da máxima informação sobre a causa da morte.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.