Lince-ibérico volta à natureza no Alentejo depois de ter sido operado

Loro, um dos linces-ibéricos reintroduzidos este ano na natureza no Alentejo, passou cerca de três meses a recuperar de uma cirurgia a uma pata. Ontem foi devolvido ao seu território e está bem de saúde.

 

A 8 de Julho, a equipa que faz a monitorização dos linces-ibéricos em liberdade no Vale do Guadiana detectou que algo se passava com Loro. Através de observação directa e de imagens de vídeo, os técnicos detectaram que este lince tinha um problema na pata posterior esquerda “que o impedia de se deslocar normalmente”, explica o ICNF em comunicado.

Após a avaliação da situação pelo médico veterinário e em coordenação com o chefe da equipa de campo do ICNF foi decidida a captura de Loro. No dia seguinte, a 9 de Julho, o animal foi levado para o Centro de Cirurgia Veterinária de Loures, “onde foi sujeito a uma intervenção cirúrgica de correcção de uma fractura da tíbia esquerda”.

Depois, Loro esteve em recuperação nas quarentenas do Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico (CNRLI), em Silves. Após a remoção das cavilhas intra-medulares que lhe foram aplicadas em Julho, o animal mostrou estar apto a voltar ao seu território.

Loro foi libertado ontem, a 2 de Novembro, “em óptima condição física”, garante o ICNF. “A sua evolução será agora acompanhada pela equipa de campo”, acrescenta.

Este lince-ibérico nasceu no Centro de Cria de El Acebuche, na Andaluzia, um dos cinco centros da rede ibérica que fazem a reprodução da espécie em cativeiro, para ajudar à sua conservação. A 3 de Março foi libertado na Herdade das Romeiras, em Mértola, juntamente com a fêmea Liberdade. O seu nome foi escolhido pelos alunos das escolas daquela região.

 

Hoje há mais de 300 linces-ibéricos em liberdade

 

Segundo os mais recentes dados do censo à população de lince-ibérico em liberdade, referentes a 2014, existem 327 linces em quatro populações da Andaluzia. A maior continua a ser a de Andújar-Cardeña (com 161 linces), seguida de Doñana (com 80), Guadalmellato (45) e Guarrizas (41). Estas duas últimas são as populações mais recentes, com reintroduções que começaram em 2010 e 2011, respectivamente.

Para o Vale do Guadiana – assim como para Hornachos-Vale del Matachel (Extremadura espanhola) e para Campo de Calatrava y Montes de Toledo (Castela-La Mancha) – ainda não se podem considerar existirem populações propriamente ditas, uma vez que as reintroduções só começaram em 2014.

Estes locais foram escolhidos para tentar criar quatro novas populações desta espécie (com cinco fêmeas por área) – em Portugal, na Extremadura espanhola, Castela-La Mancha e continuar o trabalho na Andaluzia – no âmbito do programa ibérico Iberlince (2011-2016). O objectivo é recuperar a distribuição histórica do lince (Lynx pardinus).

Agora existem 11 linces-ibéricos registados e a ser seguidos em Portugal.

O trabalho feito na conservação da espécie – in-situ (no terreno, como por exemplo melhoria do habitat e sensibilização das populações) e ex-situ (como a reprodução em cativeiro) – conseguiu retirar este felino da linha da frente da extinção. A 23 de Junho deste ano, a União Internacional de Conservação da Natureza (UICN) entendeu estarem reunidas as condições para reduzir a categoria de ameaça de “Criticamente em Perigo” para “Em Perigo”.

Mas é preciso cautela, disse na altura à Wilder Urs Breitenmoser, o co-presidente do Grupo de Especialistas em Felinos da UICN. “Apesar de esta reclassificação ser um primeiro grande passo e um grande sucesso conservacionista, temos de enfatizar que o lince-ibérico ainda está Em Perigo. De forma alguma esta é uma categoria satisfatória. Os esforços de conservação precisam mesmo de continuar.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.