Aves do mês: O que ver em Fevereiro

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Cinco aves a não perder este mês, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.

Fevereiro ainda faz parte da estação que designamos por Inverno. Contudo já se nota um aumento no comprimento dos dias e isto tem reflexos no comportamento das aves. São especialmente notórios dois aspectos: por um lado, muitas aves residentes começam a cantar e a fazer as suas paradas nupciais, já com vista à época dos ninhos que se aproxima; por outro lado, diversas aves invernantes dão início à sua migração para norte e, por isso, em certas zonas começam a notar-se variações no número de aves presentes. Aqui ficam cinco sugestões de espécies para procurar este mês.

Garça-branca-pequena (Egretta garzetta):

Foto: José Frade

O que está a fazer em Fevereiro: Ao longo do Inverno, estas garças podem ver-se com facilidade em todo o tipo de zonas húmidas, seja a descansar, seja a alimentarem-se junto à margem.

Esta é uma garça de dimensão intermédia, com a plumagem totalmente branca e o pescoço bastante longo. O bico é preto e as pernas também, mas os pés são amarelos. Os adultos ostentam habitualmente um longo penacho branco na nuca.

Pode ver-se numa grande diversidade de habitats aquáticos, incluindo estuários, pauis, lagoas costeiras, arrozais, valas, salinas, terrenos alagados, barragens, açudes, aquaculturas, rios e ribeiras. Também pode surgir em lagos urbanos ou em praias rochosas. Geralmente aparece sozinha, embora por vezes se observem pequenos bandos em alimentação.

Foto: José Frade

A nidificação é feita colonialmente, muitas vezes em conjunto com outras espécies de garças, em especial com a boieira. As colónias situam-se geralmente em árvores, perto de água, mas também podem estar localizadas em rochedos junto ao mar. Fora de época dos ninhos, estas garças reúnem-se em dormitórios, os quais se podem formar em locais diferentes dos das colónias e que também são frequentemente instalados em árvores ou arbustos, sobretudo em zonas alagadas.

Onde ver: estuário do Tejo, estuário do Sado, ria de Alvor.

Maçarico-de-bico-direito (Limosa limosa):

Foto: José Frade

O que está a fazer em Fevereiro: Embora estes maçaricos invernem em grande número no nosso país, a sua migração para norte começa muito cedo e por isso, em Fevereiro, assiste-se já ao aparecimento de grandes bandos, vindos de África, que param em Portugal para se alimentarem, antes de seguirem para norte.

Trata-se de uma limícola de grandes dimensões, que se caracteriza pelo seu longo bico quase rectilíneo. Pode ser confundido com o fuselo, mas distingue-se deste pelo dorso mais liso, pela barra terminal preta na cauda e, em voo, pela barra alar branca. Na época de reprodução adquire tons ruivos.

O maçarico-de-bico-direito pode ser visto em estuários, alimentando-se nos lodos durante a maré baixa e usando o seu longo bico como uma sonda, para procurar os pequenos invertebrados de que se alimenta. Quando a maré sobe, muitas destas aves podem refugiar-se em salinas. Por outro lado, a espécie também aprecia terrenos encharcados, como sejam os arrozais que existem nas bacias do Tejo e do Sado.

A marcação de aves com anilhas coloridas tem permitido perceber que, em Portugal, ocorrem aves vindas de duas zonas distintas: por um lado, as de origem islandesa, que passam o Inverno no país, em especial nos estuários; e, por outro, as de origem continental, que invernam principalmente em África e aparecem entre nós durante as passagens migratórias – estas aves preferem os arrozais e outros biótopos de água doce.

Onde ver: estuário do Tejo, estuário do Sado, sapal de Castro Marim.

Tartaranhão-dos-pauis (Circus aeruginosus):

Foto: José Frade

O que está a fazer em Fevereiro: Sendo uma espécie residente, este tartaranhão pode ser visto ao longo de todo o ano. Contudo, com o aproximar da época dos ninhos, é altura de se começarem a formar os casais e neste mês já podem ser observadas paradas nupciais.

Do tamanho de um bútio-comum, este é o maior e o mais possante dos tartaranhões portugueses. O macho tem o corpo castanho e as asas acinzentadas com a ponta escura, enquanto a fêmea apresenta um padrão mais uniformemente castanho-escuro, com o barrete e os ombros de tom creme.

Esta rapina é característica das zonas húmidas situadas ao longo do litoral, aparecendo regularmente em locais com vegetação palustre bem desenvolvida, como sejam estuários, lagoas costeiras e pauis. Para se alimentar, frequenta caniçais, sapais, arrozais e outros terrenos agrícolas e pastagens. Costuma fazer um voo baixo, com as asas num ‘V’ muito aberto.

A alimentação deste tartaranhão é composta por pequenos animais terrestres e aquáticos, incluindo pequenos mamíferos (especialmente roedores) e aves; contudo, a espécie também pode consumir restos de animais mortos, insectos, anfíbios, répteis e peixes.

Onde ver: pauis do Baixo Mondego, lezíria grande de Vila Franca de Xira, lagoa de Albufeira.

Pombo-das-rochas (Columba livia):

Foto: José Frade

O que está a fazer em Fevereiro: Este pombo está presente ao longo de todo o ano e o seu comportamento não varia muito de uns meses para outros. Assim, em Fevereiro, tal como no resto do ano, podemos vê-lo a descansar nos telhados ou então caminhando nas praças e nos jardins das nossas cidades, enquanto procura alimento.

Este pombo ocorre numa grande variedade de plumagens. O fenótipo selvagem mais típico tem a plumagem cinzenta, com o uropígio branco e duas riscas pretas bem visíveis na asa. No caso das aves domésticas, existem muitas outras variedades, incluindo, brancos, escuros e malhados.

A existência de indivíduos domésticos e selvagens torna a situação desta espécie algo confusa. As aves realmente selvagens são hoje escassas, podendo ser encontradas em arribas, tanto na faixa costeira como em certos locais do interior, enquanto as domésticas se encontram geralmente nas vilas e nas cidades e, embora muitas vezes não tenham dono, vivem em geral próximo das zonas habitadas. 

Como curiosidade adicional, refira-se que este pombo está presente nas ilhas (Açores e Madeira). As populações selvagens destas regiões já foram descritas no passado como Columba livia atlantis, mas hoje em dia essa subespécie não é reconhecida.

Onde ver: qualquer vila ou cidade do país; a forma selvagem pode ver-se nas zonas escarpadas da costa vicentina e do nordeste transmontano.

Chamariz (Serinus serinus):

Foto: José Frade

O que está a fazer em Fevereiro: O aumento do comprimento dos dias estimula o canto e, ao longo deste mês, muitas aves residentes começam a cantar com frequência. É o que acontece com o chamariz, que já faz ouvir o seu canto, muitas vezes emitido em voo nupcial.

O pequeno chamariz caracteriza-se pela plumagem dominada por tons amarelos na cabeça e no peito, sendo as cores mais intensas no macho que na fêmea. O dorso e os flancos são riscados e o uropígio é amarelo. O bico é grosso e muito curto. O seu canto é uma espécie de ‘algaraviada’ e pode ser ouvido ao longo de uma grande parte do ano, o que torna a sua identificação mais fácil.

Esta ave pode ver-se em todo o tipo de biótopos, desde que tenham algumas árvores, incluindo bosques e bosquetes de qualquer tipo, pomares, matas ribeirinhas e áreas agrícolas com sebes arbóreas ou árvores dispersas. É comum em zonas urbanas, habitando parques, jardins e quintais. No Inverno junta-se em bandos e pode então aparecer também em locais com poucas árvores.

O chamariz é um parente próximo do canário, que ocorre em estado selvagem nos Açores e na Madeira.

Onde ver: parques e jardins, de norte a sul do país.