Aves do mês: O que ver em Novembro

Cinco aves a não perder em Novembro, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer este mês, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.

Novembro marca o final da passagem outonal e o início do período de invernada. Ao longo deste mês aparecem entre nós várias espécies, oriundas de latitudes mais setentrionais, que vêm vá passar a estação fria. A escolha dos locais irá, naturalmente, ter em conta as condições que oferecem, as quais, por sua vez, dependem do estado do tempo e do alimento disponível em cada local.

Milhafre-real (Milvus milvus):

Milhafre-real (Milvus milvus). Foto: José Frade

O que está a fazer em Novembro: Esta espécie é essencialmente invernante em Portugal e a maioria das aves chega ao nosso país em finais de Outubro ou início de Novembro. Durante o dia, os milhafres-reais podem ser vistos a planar sobre os campos ou ao longo das estradas, procurando uma presa ou um cadáver que lhes possa servir de refeição.

Os milhafres distinguem-se de todas as outras aves de rapina europeias pelo facto de apresentarem a cauda bifurcada. Em Portugal ocorrem duas espécies, mas em Novembro apenas o milhafre-real pode ser visto no nosso país. Esta ave identifica-se pela cauda ruiva e fortemente bifurcada, pelo corpo também com tonalidades arruivadas e pela cabeça esbranquiçada. Em voo são visíveis duas ‘janelas’ brancas nas asas abertas.

O milhafre-real vem ao nosso país sobretudo para invernar, estando presente de Outubro a Março. A sua principal área de ocorrência situa-se nas planícies da metade sul do país (Alentejo e Ribatejo), embora a espécie também apareça noutras regiões mais a norte. Durante o Inverno pode formar grandes dormitórios, que congregam dezenas ou até centenas de indivíduos.

A cauda bifurcada, quando aberta, pode fazer lembrar um bacalhau seco, espalmado. Por este motivo, esta ave também é conhecida, popularmente, pelo nome “milhafre-rabo-de-bacalhau”. Um pequeno número de casais nidifica no nordeste do território.

Onde ver: Monforte, Évora, Castro Verde.

Tordo-músico (Turdus philomelos):

Tordo-músico (Turdus philomelos). Foto: José Frade

O que está a fazer em Novembro: Durante o Outono, a maioria dos tordos-músicos alimenta-se de frutos e bagas. As azeitonas são um dos alimentos preferidos, pelo que muitas destas aves podem ser encontradas nos olivais. Ao fim do dia, reúnem-se em grandes dormitórios, que podem estar situados em bosquetes ou matagais.

Parente próximo do melro-preto, o tordo-músico é um pouco mais pequeno que o seu congénere. As partes superiores são castanhas lisas, enquanto o peito e o ventre têm o fundo branco e apresentam numerosas pintas castanhas em forma de pontas de seta. Pode ser confundido com a tordoveia, mas esta espécie é bastante maior e tem a parte interior da asa branca e não amarela, além de ter as pintas mais arredondadas.

No Outono, esta espécie tem uma distribuição alargada e encontra-se um pouco por toda a parte, sendo mais abundante no interior do país. Frequenta bosques, matagais, sebes, matas ribeirinhas, pomares, terrenos agrícolas, pousios e pastagens com sebes ou árvores. As maiores concentrações encontram-se em olivais, assim como em matagais mediterrânicos bem desenvolvidos.

Até ao final da década de 1980, esta espécie era apenas invernante no nosso país, contudo ao longo das últimas décadas registou-se uma colonização progressiva do território e, actualmente, a espécie já nidifica na maioria das zonas a norte do rio Tejo.

Onde ver: serra da Arrábida, Moura, Mértola.

Gaivota-d’asa-escura (Larus fuscus):

Gaivota-d’asa-escura (Larus fuscus) portadora de anilha colorida. Foto: José Frade

O que está a fazer em Novembro: A maioria das gaivotas-d’asa-escura passa o Outono e o Inverno ao longo das nossas costas, formando grandes bandos em praias, estuários, salinas ou portos de pesca. Por vezes também aparecem no interior do território, em especial junto a aterros sanitários.

A gaivota-d’asa-escura é relativamente grande. A sua plumagem varia bastante consoante a idade. Os adultos, que são os mais fáceis de identificar, apresentam um contraste entre as partes superiores, de tom cinzento-escuro, e as partes inferiores, que são brancas, tal como a cabeça. As patas e o bico são amarelos. Já os juvenis e muitos imaturos são essencialmente castanhos, com o bico escuro e as patas rosadas.

Sendo aves muito gregárias, as gaivotas juntam-se frequentemente em grandes bandos, os quais podem ser mistos, isto é, congregar várias espécies diferentes. Assim, a observação atenta de um bando grande constitui uma boa oportunidade para comparar as diferentes espécies e idades e também para procurar alguma espécie mais rara.

Esta gaivota tem sido bastante estudada com recurso à anilhagem e existem numerosos projectos de marcação com anilhas coloridas. Assim, quando olhamos para um bando destas aves, não é raro encontrarmos alguma com uma anilha colorida na pata. Quando assim é, vale a pena tentar ler o código e enviar para o responsável do projecto, pois assim ficaremos a conhecer a história de vida da ave.

Onde ver: praia de Matosinhos, costa do Estoril, praia de Monte Gordo.

Perna-vermelha-comum (Tringa totanus):

Perna-vermelha-comum (Tringa totanus). Foto: José Frade

O que está a fazer em Novembro: A maioria dos pernas-vermelhas que podemos ver este mês já pertence à chamada população invernante, que veio de países mais a norte e ficará por cá até Fevereiro ou Março. Por esta altura, as aves frequentam as grandes zonas húmidas costeiras, aproveitando os períodos de baixa-mar para se alimentarem.

Trata-se de uma limícola de tamanho médio, cuja principal característica são as patas vermelhas e o bico vermelho, este com a ponta escura. A sua plumagem é dominada por tons cinzentos e acastanhados. Em voo, destaca-se a orla branca posterior das asas. É muito vocal, emitindo um chamamento característico.

Esta espécie distribui-se, de forma algo descontínua, ao longo de todo o litoral nacional, sendo muito escassa no interior. Os seus habitats preferidos são os grandes estuários e as “rias”, alimentando-se nas zonas entre-marés, em especial nas zonas de vasa. Também aparece em salinas, em especial durante a preia-mar, bem como em arrozais e, às vezes, em terrenos alagados.

Graças aos censos de aves aquáticas invernantes efectuados ao longo das últimas décadas, existem dados quantitativos, sabendo-se que população que inverna em Portugal deverá compreender 4 a 5 mil indivíduos.

Onde ver: estuário do Tejo, estuário do Sado, ria Formosa.

Petinha-dos-prados (Anthus pratensis):

Petinha-dos-prados (Anthus pratensis). Foto: José Frade

O que está a fazer em Novembro: Este mês, os campos e os prados portugueses são ocupados por inúmeras petinhas-dos-prados, que chegaram há pouco dos seus territórios de nidificação e escolheram o nosso país para passar a estação fria. Estas pequenas aves podem agora ser vistas um pouco por todo o lado, principalmente nas terras baixas, em locais pouco arborizados e com vegetação curta.

As petinhas são aves insectívoras com uma plumagem pouco vistosa, dominada por tons acastanhados ou esverdeados. Existem várias espécies parecidas, o que torna a sua identificação algo complicada. A petinha-dos-prados caracteriza-se por uma plumagem castanho-esverdeada, com riscas bem marcadas no peito; o bico é fino e as patas são rosadas. Pode confundir-se com a petinha-das-árvores, mas essa espécie não está presente em Novembro. Quanto à petinha-ribeirinha, é um pouco maior e com as patas mais escuras.

Surge em todo o tipo de habitats, desde que não demasiado fechados, mas é especialmente numerosa em pastagens, restolhos de arroz, incultos, terrenos lavrados e margens de zonas húmidas. Também pode ser frequente em montados abertos com pouco sub-bosque e em olivais. Observa-se em geral sozinha ou em pequenos bandos pouco coesos.

As aves que vêm invernar no nosso país são provenientes de uma vasta área, que se estende desde a Islândia e as ilhas britânicas até à Rússia, passando pela Europa Central e pela Escandinávia.

Onde ver: lezíria grande de Vila Franca de Xira, cabo Espichel, Castro Verde.


Agora é a sua vez.

Parta à descoberta destas espécies e envie as suas fotografias, com a data e a localidade, para o email [email protected]. No final do mês publicaremos uma galeria com as suas imagens e descobertas!