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Como começar a observar e a fotografar aves?

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Se sempre gostou de aves e de natureza mas ainda não deu o passo seguinte: sair de casa para ver ou fotografar aves selvagens ou se gostava de aperfeiçoar as suas competências, os autores do livro “Como observar e fotografar aves: Guia de iniciação“, Gonçalo Elias e José Frade, dão uma ajuda.

Lançado em Junho deste ano, este Guia de Iniciação encerra nas suas 352 páginas ensinamentos práticos e úteis para quem quer começar ou até aprofundar a arte de observar e fotografar aves selvagens em Portugal.

Há um mundo à sua espera. No nosso país ocorrem regularmente cerca de 300 espécies diferentes. Além destas, poderá ter a sorte de encontrar 170 espécies raras que aparecem em situações excepcionais (como quando se perdem durante as suas migrações).

Para o ajudar a observá-las, o Guia de Iniciação está organizado em três partes: “Conhecer as aves”, “Encontrar as aves” e, por fim, “Aperfeiçoar a técnica”. O livro inclui ainda uma lista com observatórios que podemos visitar no país para procurar ver aves e o código de ética de um bom observador e fotógrafo de aves.

Segundo Gonçalo Elias, “há muitas e boas razões para começar a observar ou a fotografar aves”. “É relaxante, pois trata-se de uma actividade que é feita em modo descontraído e sem pressas, em que podemos ir apreciando cada ave o tempo que quisermos. É saudável, pois sendo realizada ao ar livre permite-nos passar algum tempo em locais onde há menos ruído ou poluição, o que contribui para o bem-estar físico e mental. É instrutivo, pois é uma forma de conhecer melhor o mundo que nos rodeia e, em especial, o mundo natural, incluindo animais, plantas e paisagens.”

E, na verdade, são cada vez mais os que se interessam pela observação e pela fotografia de aves selvagens.

“Principalmente no que diz respeito à fotografia, com o aparecimento das máquinas digitais deu-se um grande aumento de fotógrafos de natureza e consequentemente um maior número de publicações de fotos nas redes sociais, o que levou muitas pessoas a terem interesse em tentarem ver ao vivo aquilo que estavam apenas a ver na net, o que acaba por fazer aumentar o número de observadores”, comentou José Frade. 

Aqui ficam nove perguntas que o poderão ajudar a começar.

WILDER: São necessários conhecimentos básicos sobre as aves para nos iniciarmos na fotografia e observação de aves? Se sim, de que tipo?

Gonçalo Elias: Para começar, não é necessário ter quaisquer conhecimentos e qualquer pessoa pode começar a observar usando apenas um guia de aves e um binóculo. Contudo, a progressão será mais rápida se houver a possibilidade de acompanhar alguém que já tenha alguma experiência na observação e na identificação de aves selvagens.

José Frade: No que diz respeito à fotografia, os conhecimentos baseiam-se principalmente em noções básicas de fotografia, saber utilizar uma câmara e trabalhar a luz, mas evidentemente que conhecer as aves também ajuda. Saber onde as procurar, quando as procurar e como as encontrar para melhor as fotografar é bastante útil. 

W: O que é mais fácil aprender: a identificar as aves visualmente ou pelo som?

Gonçalo Elias: De uma forma geral, a identificação visual é mais fácil, porque a memória visual regista a informação de uma forma mais rápida que a memória auditiva. Contudo, há casos em que nem sempre é assim. Por exemplo, no caso de pessoas invisuais ou com grandes limitações de visão, a identificação auditiva pode ser a melhor ou até a única forma de se aperceberem das aves à sua volta. Embora o guia não se destine especificamente a pessoas com dificuldades visuais, foi incluído um capítulo sobre a identificação auditiva que poderá ser especialmente útil para essas pessoas.

W: Por onde devemos começar, por perto de nós (muitas vezes nas cidades) ou em estado selvagem, nas áreas protegidas, por exemplo, onde há menos pessoas?

Gonçalo Elias: Diria que o melhor local para se começar são as zonas urbanas (vilas e cidades), não só devido à sua acessibilidade, como pelo facto de nestes meios as aves se deixarem geralmente ver a pequena distância, o que permite apreciá-las em detalhe e tirar fotos de muito perto, algo que nem sempre é fácil noutros ambientes.

W: Qual será o habitat mais fácil para começar: planícies, bosques, serras ou meios aquáticos? Porquê? 

Gonçalo Elias: Para além do que já se referiu na questão anterior, penso que as aves aquáticas são geralmente uma boa opção, pois são grandes e, em muitos casos, pousam à vista e deixam-se ver razoavelmente bem. Por outro lado, a observação em campos e planícies também é uma alternativa interessante, pois muitas aves estão pousadas em locais visíveis. Os maiores desafios estão nas áreas florestais e nas serras – no primeiro caso porque a densidade da vegetação torna mais difícil ver as aves e no segundo caso devido às maiores dificuldades de acesso causadas pelo relevo. Mas são meios a não descurar, mesmo que numa fase posterior.

W: Antes de sair de casa para ir ver ou fotografar aves, o que devemos ter em conta? É preciso preparação?

    José Frade: Primeiro, que aves queremos ver? Alguma ave específica? Se sim, é a melhor altura do ano? Onde a procurar? Depois, a meteorologia, qual a melhor maneira de a fotografar? Ou seja, se temos objectivos específicos então há um trabalho de casa a ser feito, se o objectivo é apenas ver aves, bom, a aventura também tem os seus encantos! 

    W: Como registar as espécies que encontrarmos? O que devemos apontar?

    Gonçalo Elias: Depende um pouco dos objectivos de cada um. No meu caso, já passei por diversas fases: inicialmente apenas registava as espécies novas que ia vendo; mais tarde, passei a fazer listas completas das espécies vistas em cada saída, por vezes com indicação do número de aves e com notas adicionais; actualmente registo as quantidades para todas as espécies. Além disso, é essencial registar a data e o local, caso contrário a informação tem pouca utilidade.

    W: Quais as diferenças entre fotografia de assalto e de espera? Para que tipo de pessoa são mais indicadas?

    José Frade: Basicamente a diferença está em: ou nos movimentamos em direcção às aves (fotografia de “assalto”), ou esperamos que as aves venho na nossa direcção (fotografia de “espera”). Qualquer um dos modos é indicado para todos, mas claro, pessoas com mais dificuldade na locomoção, a fotografia de “espera” é mais prática, uma vez que, como o nome indica, basta esperar.

    W: Qual o material que devemos levar connosco, tanto para fotografar como para observar? 

    Gonçalo Elias: Se o objectivo for observar, o objecto mais importante é o binóculo, pois sem isso torna-se quase impossível ver as aves com algum detalhe e muitas serão impossíveis de identificar. Ter ou não ter um binóculo faz toda a diferença. Há quem leve apenas a máquina fotográfica para ir registando tudo aquilo que vê, mesmo sem binóculo, contudo penso que a máquina não substitui o binóculo e acho que ambos os instrumentos são complementares.

    José Frade: Se pretendem principalmente fotografar, a câmara e uma boa objectiva e, dependendo do tipo de fotografia, um tripé pode ser bastante útil, ou mesmo o flash, se forem fotografar de noite.

    W: E se as pessoas não tiverem guias de identificação? Nem grandes objectivas? Ainda assim podem conseguir boas experiências?

    José Frade: Claro que sim, nem todos pretendem obter os mesmos resultados. Enquanto alguns querem saber exactamente o que estão a observar, ou ter fotografias de excelência, outros satisfazem-se apenas em ver aves, não importa quais.


    COMO OBSERVAR E FOTOGRAFAR AVES: GUIA DE INICIAÇÃO

    Por Gonçalo Elias e José Frade

    Editora: ARENA

    Número de páginas: 352

    Data de publicação: 12 de Junho de 2023

    Preço: 31,45€

    À venda tanto em livrarias físicas como em lojas online.

      Helena Geraldes

      Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.