Cravo da espécie Dianthus broteri. Foto: Sergio Chozas

Passeios botânicos: Descubra as plantas fascinantes da Duna de Montalvo, junto a Alcácer do Sal

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Na semana do Dia Internacional do Fascínio das Plantas, que se comemora esta quarta-feira, dia 18, Sergio Chozas, da Sociedade Portuguesa de Botânica, sugere-nos um dos seus lugares favoritos.

Sergio Chozas, que também trabalha como investigador na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, elege a Duna de Montalvo, na estrada que une a Comporta com Alcácer do Sal, como um dos locais que todos os apaixonados por plantas devem conhecer.

Plantas e paisagens da Duna de Montalvo. Fotos: Sergio Chozas

“A paisagem é espectacular: uma duna praticamente isolada, rodeada de pinhais e arrozais e com o Sado ao fundo”, descreve este botânico à Wilder, que explica que a Duna de Montalvo “possui um percurso circular que permite atravessar a duna e conhecer muitas das espécies da flora das dunas estabilizadas de Portugal, chegar aos arrozais e voltar por uma mancha de sobreiros (Quercus suber) muito interessante”.

Duna de Montalvo. Fotos: Adelaide Clemente e Sergio Chozas

E o melhor de tudo é que vale a pena ali regressar todas as estações do ano, uma vez que há sempre novas plantas à espera de serem descobertas.

“Na Primavera florescem a arméria-do-sado (Armeria rouyana), o tojo-manso (Stauracanthus genistoides) e o marcetão-das-areias (Santolina impressa), mas por exemplo, os espectaculares líquenes do género Cladonia e o zimbro-galego (Juniperus navicularis) estão presentes e bonitos grande parte do ano.”

armaria de flores brancas
Arméria-do-sado (Armeria rouyana). Foto: Sergio Chozas
Líquen do género Cladonia. Foto: Sergio Chozas

Quanto ao Inverno, Sergio nota que é possível encontrar uma das suas plantas favoritas, “a belíssima mas discreta cocleária-menor (Jonopsidium acaule)”.

Cocleária-menor (Jonopsidium acaule). Foto: Sergio Chozas

Já o Verão será a altura do ano “em que as espécies apresentam um estado menos exuberante”, mas devido à proximidade das praias da Comporta, “é sem dúvida uma altura aliciante para visitarmos a Duna”, acrescenta o investigador. 

Nesta duna é possível encontrar, aliás, “um número invulgarmente alto de espécies endémicas de Portugal características dos ecossistemas de dunas estabilizadas”, aponta o mesmo especialista:

– a arméria-do-sado

– o marcetão-das-areias

– a cocleária-menor

– a Malcolmia triloba subsp. gracilima

– o tojo Ulex australis subsp. welwitschianus

– o tomilho Thymus capitellatus

Tojo-manso (Stauracanthus genistoides). Foto: Sergio Chozas

“Também encontramos endemismos ibéricos como o zimbro-galego, que ocorre principalmente em Portugal com alguns núcleos presentes no sul de Espanha, e o cravo da espécie Dianthus broteri.

Cravo da espécie Dianthus broteri. Foto: Sergio Chozas
Halimium calcynum. Foto: Sergio Chozas

No entanto, por mais fascinados que os visitantes fiquem ao visitar a Duna de Montalvo, é imprescindível “visitar o local com grande respeito e cuidado”, avisa Sergio Chozas, uma vez que “as comunidades e habitats dunares são dos que se encontram em maior perigo e pior estado de conservação na Europa”.

Foto: Sergio Chozas

“Se seguirmos o percurso marcado, evitaremos danificar a flora mas ao mesmo tempo tiraremos o máximo partido do passeio”, aconselha o investigador, que estudou as comunidades de plantas do Sítio de Interesse Botânico da zona da Comporta (“Areias envolventes do estuário do Sado”), no âmbito do doutoramento. “A Duna de Montalvo foi um dos meus locais de amostragem e também uma das razões pelas quais quis estudar estas maravilhosas formações vegetais.”


Ao longo desta semana, esteja atento às sugestões que a Wilder vai publicar sobre locais de interesse botânico em Portugal. 

Se quiser descobrir ainda mais locais botânicos fascinantes, consulte a obra “Sítios de Interesse Botânico de Portugal Continental” (Volume I e Volume II), da Sociedade Portuguesa de Botânica, disponível de forma gratuita através da editora Imprensa Nacional. E aproveite e conheça toda a Coleção Botânica em Português, de acesso gratuito.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.