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Sete espectáculos da natureza para procurar este mês nas cidades

O biólogo Nuno Curado sugere sete espectáculos da natureza para procurar durante o mês de Março nas cidades de Portugal. Descubra o que não pode perder.

 

Chamamentos de melros-pretos e chamarizes:

As aves estão todas em alvoroço! Sentem a chegada da Primavera e da abundância de alimento e preparam-se para a época de reprodução. Os melros-pretos (Turdus merula) andam muito agitados, a esvoaçar para trás e para diante. Esta é uma das alturas do ano em que estão mais visíveis, por vezes em pequenos grupos. Fazem ouvir os seus cantos elaborados e os seus chamamentos feitos bem alto. Os machos têm os territórios para defender e fêmeas para conquistar. Os cantos estridentes dos chamarizes (ou milheirinhas Serinus serinus) entoados do topo dos ramos ainda sem folhas parecem multiplicar-se a cada dia que passa. O seu som faz-me lembrar a estática bem aguda de um rádio. Se as ouvirem, olhem para cima e procurem ver umas aves com amarelo bem visível no peito e na cabeça. Também os piscos-de-peito-ruivo, os chapins-azuis e as toutinegras-de-barrete aumentam a sua actividade, tornando-se mais fácil de observar de perto.

Dica: Se quiser saber a que soam algumas destas aves, aqui ficam os cantos de um melro e de um chamariz.

 

Corvos-marinhos-de-faces-brancas com plumagem de reprodução:

Os corvos-marinhos-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo) já adquiriram a sua plumagem de reprodução, com uma mancha branca nítida em ambas as “ancas” e com a cabeça e pescoço muito mais esbranquiçados. Apesar de esta espécie ser invernante no nosso país, muitos indivíduos ainda não começaram a sua migração para o norte da Europa, sendo ainda visíveis a caçar peixes ou a secar as suas asas nas margens de vários rios, até dentro das cidades.

Dica: Aqui estão cinco coisas que importa saber para distinguir as duas espécies de corvos-marinhos que ocorrem no nosso país.

 

As novas cores do guincho-comum:

Também o guincho-comum (Larus ridibundus), outra invernante pouco tímida, já se cobriu o seu capuz castanho, indicativo da época de reprodução, e prepara-se para migrar para norte.

Dica: Saiba mais sobre o guincho-comum e outras espécies que pode encontrar nas praias.

 

O regresso das andorinhas:

Como bom sinal da Primavera que aí vem, as andorinhas migratórias já por cá andam! Desde finais de Fevereiro que as andorinhas-dos-beirais (Delichon urbicum) e as andorinhas-das-chaminés (Hirundo rustica) começaram a chegar às nossas cidades, vilas e aldeias. Vêm-se a voar alto, à caça de insectos, mas também já a arranjar os seus ninhos. Se conhece algum local com ninhos de anos anteriores valerá a pena ir lá espreitar e ver se já têm os seus inquilinos.

Dica: Conheça as espécies de andorinhas que ocorrem em Portugal, com a ajuda do ilustrador Marco Nunes Correia.

 

As viagens dos sapos-comuns e dos sapos-corredores. E das salamandras:

Com estas chuvadas que têm caído em Março é preciso cuidado na estrada, sobretudo nas secundárias. Não apenas porque podem estar escorregadias, mas porque estas chuvas de Primavera dão o mote para a marcha de muitos anfíbios em direcção aos seus locais de reprodução. Os sapos-comuns (Bufo spinosus) e os sapos-corredores (Epidalea calamita) são talvez os mais prováveis de encontrar na estrada, dado que podem percorrer grandes distâncias até aos seus locais habituais de reprodução. Também as salamandras-de-pintas-amarelas (Salamandra salamandra) andam por aí em noites chuvosas, à procura de parceiro/a para acasalar. Como se deslocam muito lentamente, são vítimas fáceis de atropelo.

Dica: Conheça melhor estas espécies de anfíbios e outras que pode encontrar nesta altura do ano.

 

As primeiras borboletas:

Ainda não as vi, mas as primeiras borboletas do ano também já andam por aí. Em ambiente urbano, os descampados com prados, jardins abandonados e outros locais que tradicionalmente associamos a estarem “pouco cuidados” são os mais propícios a terem flores silvestres, muito procuradas por estes insectos. Se quiser aumentar as hipóteses de ver borboletas no seu jardim, experimente plantar alecrim ou alfazema. E deixe um cantinho para as plantas espontâneas crescerem e florirem.

Dica: Aqui está tudo o que precisa saber para procurar as primeiras borboletas de 2018. E ajude o Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal enviando os seus registos e observações. 

 

A grande actividade do abelhão-azul e de outros polinizadores:

As flores atraem muitos insectos. Além das borboletas, são úteis para outros polinizadores, como os abelhões e as abelhas solitárias (como o abelhão-azul Xylocopa violacea), a mosca-das-flores (Episyrphus balteatus), vários escaravelhos coloridos que se alimentam de pólen, e para percevejos verdes, vermelhos ou castanhos. Inclusive agora, quando a chuva dá tréguas e os raios de sol aquecem um pouco a vegetação, já se vê alguma agitação em volta das suas flores.

Dica: Se vir algum insecto que desconhece, já sabe que pode contar com a ajuda da Wilder para a identificar, no âmbito do projecto “Que espécie é esta?”

 

Portanto, desde grandes aves até aos insectos mais pequenos, biodiversidade à porta de casa é o que não falta! É sair lá para fora e procurá-la.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Estas são as sugestões para descobrir este mês, num desafio Wilder. Veja quantos destes espectáculos da natureza consegue encontrar.