Abutre-preto. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

Abutre-preto seguido por GPS resgatado perto de Nisa

O abutre, de uma das espécies mais ameaçadas de Portugal, foi encontrado ferido a 10 de Abril perto de Nisa, no distrito de Portalegre. Agora está aos cuidados dos veterinários da UTAD.

 

Este abutre, um juvenil, foi encontrado ferido a 10 de Abril a sete quilómetros de Nisa, na área do Parque Natural da Serra de São Mamede, graças ao emissor GPS que trazia consigo. Pensa-se que poderá ter colidido com uma linha eléctrica.

A ave tinha sido marcada com o emissor GPS em Julho de 2018, quando era uma cria, na maior colónia de abutre-preto de Portugal, no Parque Natural do Tejo Internacional. No ano passado nidificaram ali 15 casais.

 

Marcação de abutre-preto no Parque Natural do Tejo Internacional, 2018. Foto: P. Jimenez

 

Na verdade, este abutre é um dos oito da sua espécie (Aegypius monachus) que estão a ser seguidos com emissores GPS, no âmbito de um projecto para estudar o abutre-preto no Parque Natural do Tejo Internacional, promovido pelo Hawk Mountain Sanctuary (EUA) e que conta com o apoio da empresa elétrica Endesa, do Departamento de Toxicologia de Universidade de Murcia (Espanha) e do Instituto de Conservação da Natureza e das Forestas (ICNF), através do Parque Natural do Tejo Internacional.

“Durante a monitorização que está a ser realizada, detetou-se que a informação fornecida pelo emissor indicava que este abutre não tinha um comportamento normal, com escassas deslocações e sempre num espaço muito reduzido”, explicou hoje à Wilder Alfonso Godino, investigador associado do Hawk Mountain Sanctuary.

Por isso, os técnicos e pessoal destas de duas áreas protegidas – os parques naturais do Tejo Internacional e da Serra de São Mamede – accionaram uma operação para tentar encontrar este abutre.

 

Resgate de abutre-preto no Parque Natural de São Mamede, Abril 2019. Foto: O. Urbano

 

O abutre foi depois levado para o Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens (CERAS) de Castelo Branco, gerido pela Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza para uma primeira inspecção.

 

Abutre-preto na caixa de transporte para o CERAS, após a sua captura no Parque Natural da Serra de São Mamede Foto: O. Urbano

 

“A veterinária do CERAS detetou uma luxação”, acrescentou Alfonso Godino. O abutre foi depois levado para o Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) para ser submetido a uma intervenção cirúrgica.

De momento ainda não se sabe se esta ave poderá regressar à natureza.

 

Abutre no CERAS. Foto: CERAS-Quercus

 

Criticamente Em Perigo e confinado a três núcleos reprodutores em Portugal, o abutre-preto é a maior das aves planadoras que ocorrem no país. A envergadura de asa pode atingir os três metros.

Durante 40 anos não nasceram crias de abutre-preto em Portugal. A perda de habitat, envenenamento, colisão e electrocussão em linhas eléctricas e diminuição de alimento disponível ditaram esta ausência, dos anos 1970 a 2010.

Até que no final de Julho de 2010 foram registadas duas crias no Tejo Internacional, a Tejo e Aravil, filhas de casais provenientes de Espanha.

Para ajudar ao regresso desta ave, a Quercus construiu, em 2010, seis plataformas-ninho nas árvores do Tejo Internacional e manteve dois alimentadores de abutres, onde colocava carcaças.

Em Abril de 2011 nasceu Idanha no Tejo Internacional. O ano de 2011 foi o segundo ano consecutivo de reprodução em Portugal e a colónia tinha então três casais. 

Desde 2010, o regresso da maior ave de rapina da Europa ao nosso país tem sido seguido de perto, e apoiado, por dezenas de conservacionistas de várias instituições.

 

um abutre-preto a voar
Abutre-preto. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

 

Em 2018, na época de reprodução que se estende de Janeiro a início de Setembro, nidificaram em Portugal 24 casais – 15 no Tejo Internacional, oito no Baixo Alentejo e um no Douro Internacional – que conseguiram 10 crias.

Este ano estão ocupadas 21 plataformas no Parque Natural do Tejo Internacional, das quais 14 têm fêmeas na fase de incubação, adiantou à Wilder Otília Proença Urbano, técnica do ICNF nesta área protegida que monitoriza os casais de abutre-preto que lá vivem.

Dentro de alguns meses saberemos quantas crias de abutre-preto nasceram e sobreviveram este ano, para ajudar esta espécie selvagem a regressar aos seus territórios.

Entretanto, os conservacionistas continuam a acompanhar a sua evolução. Segundo Alfonso Godino “está prevista a continuação em 2019 do estudo sobre a dispersão de juvenis de abutre-preto no Parque Natural do Tejo Internacional”, mantendo-se o apoio do Hawk Mountain Sanctuary e da Endesa.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.