Águia-pesqueira. Foto: Skeeze/Pixabay

Águia-pesqueira: Novo censo regista máximo de 216 aves a invernar em Portugal

Conheça os resultados do 6º censo da população invernante da águia-pesqueira (Pandion haliaetus), organizado pelo portal Aves de Portugal e realizado a 13 de Janeiro. 

Entre 188 e 216 águias-pesqueiras foram registadas pelos 170 voluntários que estiveram no terreno a contar estas aves, segundo os organizadores deste Censo. A edição anterior, realizada em Janeiro de 2022, registou entre 168 a 197 águias-pesqueiras.

Segundo Gonçalo Elias, um dos organizadores do Censo e o responsável pelo portal Aves de Portugal, os resultados deste ano “estão em linha com os dos censos anteriores, embora o número global tenha aumentado um pouco. No essencial, diria que a população invernante se encontra estável ou em aumento ligeiro, no entanto quando chegarem os resultados de Espanha (onde o censo se realizou no mesmo dia) poderemos ver se no país vizinho também se registou o mesmo”.

Este ornitólogo salientou à Wilder “o aumento do número de águias no distrito de Setúbal, que foi aquele onde a variação face ao censo anterior foi mas expressiva”.

Na verdade, Setúbal foi o distrito com mais observações, entre 56 e 66 aves, em especial nas zonas da Moita/Alhos Vedras, Mitrena, Mourisca/Pontal dos Musgos e Herdade do Pinheiro/Sachola. A seguir surgem os distritos de Faro (entre 38 e 43) – com mais registos no Estuário do Frade (Portimão/Lagoa) e Ria Formosa – e de Santarém (38 e 41), onde se destacaram zonas como Salvaterra de Magos e Vila Nova da Barquinha.

No distrito de Lisboa foram contabilizadas entre 20 e 21 águias, em especial na região de Vila Franca de Xira; em Aveiro entre 12 e 17 e em Coimbra, entre 9 e 10.

Com menos de 10 registos surgem os distritos de Viana do Castelo (5 e 6), Beja (3 a 5), Évora (3) e Portalegre (1).

Sem registos ficaram os distritos de Bragança, Castelo Branco, Guarda, Leiria, Porto, Vila Real e Viseu.

O melhor e o pior

Gonçalo Elias destaca, do ponto de vista do que correu melhor neste Censo, “o facto de termos conseguido realizar prospecções de barco em pelo menos quatro locais: rio Tejo, estuário do Sado, rio Mira e albufeira do Maranhão, o que de certa forma permitiu garantir uma boa cobertura desses locais; esta opção foi particularmente relevante no caso do estuário do Sado, onde se atingiu um recorde do número de indivíduos contados”.

Além disso, também lembrou “a enorme adesão por parte dos observadores voluntários o que, mais uma vez, permitiu que este censo fosse bem sucedido”.

Quanto ao que correu menos bem, o ornitólogo salientou “o tempo pouco favorável que se fez sentir na zona de Aveiro, o que poderá ter prejudicado um pouco o total desse distrito, e a cobertura deficiente nas albufeiras do Alentejo, devido à dificuldade em conseguir voluntários para visitar esses locais”.

A águia-pesqueira, tal como o nome indica, alimenta-se de peixe. Por esta altura do ano, quando os lagos nos países de origem – Reino Unido, Suécia, Noruega e Alemanha – ficam cobertos de neve e gelo, algumas destas águias migram para Sul e vêm para Portugal em busca de alimento.

De momento, a população europeia parece estar a aumentar, muito graças a projectos de reintrodução realizados em países como Inglaterra, França ou Espanha.

Janeiro é o mês de eleição para censos de aves aquáticas e a águia-pesqueira não é excepção. “É neste mês que as populações invernantes estão estabilizadas, havendo menos movimentos migratórios, e atingem o seu máximo”, explicou anteriormente à Wilder Gonçalo Elias.

Será já neste mês de Fevereiro e em Março que muitas águias-pesqueiras começam a deixar Portugal rumo às suas áreas de reprodução. Ainda assim, “para termos uma noção mais precisa seria necessário analisar os dados obtidos através de seguimento por telemetria (GPS)”, lembrou o naturalista.

“Convém não esquecermos que além das águias-pesqueiras que escolhem o nosso país para invernar, há também outros indivíduos que invernam na África subsariana, em especial no Senegal, e que aparecem por cá durante as suas passagens migratórias, nomeadamente em Março ou Abril. É por isso que este censo é feito em Janeiro: em princípio durante este mês não há aves em passagem.”


Saiba mais.

Além da população invernante de águia-pesqueira em Portugal, em anos mais recentes surgiram registos de nidificação desta espécie, alvo de um projecto de reintrodução. Recorde o que aconteceu, tanto em 2015 como em 2016.


Saiba, com a ajuda de Gonçalo Elias, quais os melhores locais para observar esta ave de rapina e como a identificar:

Características que a distinguem das outras rapinas: esta ave distingue-se pela sua grande dimensão. Tem entre 52 e 60 centímetros de comprimento e uma envergadura de asa entre os 152 e os 167 centímetros. Outras dicas para a identificar são a “máscara” preta em redor dos olhos amarelos e a plumagem muito branca nas partes inferiores, que é geralmente visível em voo.

A águia mais parecida e que pode causar confusão na identificação: a espécie mais parecida em termos de coloração e dimensões é a águia-cobreira (Circaetus gallicus), mas essa espécie é muito invulgar no período de Inverno e além disso não se alimenta de peixe.

Como caça: esta espécie alimenta-se, sobretudo, de peixes como carpas, tainhas, robalos e sargos. Para caçar, peneira sobre a água, com batimentos fortes das asas e mergulha primeiro as patas para apanhar o peixe.

Locais onde é mais fácil de a observar: esta águia aparece quase sempre perto de água e é frequente vê-la a pescar ou pousada num poste, enquanto se alimenta de um peixe que acabou de capturar. Os melhores locais para a observar são a Ria de Aveiro, Estuário do Tejo, Estuário do Sado, Vale do Tejo, Albufeira de Alqueva e Ria Formosa. Aqui pode encontrar cerca de 80% das águias-pesqueiras invernantes em Portugal.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.