Cegonha-preta. Foto: Frank Vassen/Wiki Commons

Arranca em Fevereiro monitorização de sete espécies de aves no Douro Internacional

Cegonha-preta, águia-real, grifo e abutre-preto são apenas algumas das aves rupícolas que vão ser monitorizadas em 2022 por uma equipa de 30 peritos portugueses e espanhóis no Douro Internacional e na área protegida espanhola adjacente, Arribes Del Duero.

Os trabalhos começam já em Fevereiro, para acompanhar a época de nidificação, e deverão terminar em Setembro, revela um comunicado do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

As equipas no terreno – que incluem técnicos, Vigilantes da Natureza e Agentes Medioambientales – vão monitorizar sete espécies: cegonha-preta (Ciconia nigra), britango (Neophron percnopterus), grifo (Gyps fulvus), abutre-preto (Aegypius monachus) – incluída no programa, embora não seja rupícola -, águia de Bonelli (Aquila fasciata), águia-real (Aquila chrysaetos) e falcão-peregrino (Falco peregrinus).

Abutre-preto. Foto: Francesco Veronesi / Wiki Commons

Há já 25 anos que técnicos portugueses e espanhóis, concretamente do ICNF e da Junta de Castela e Leão, colaboram neste seguimento de aves selvagens na região. Esta parceria esteve interrompida por causa da pandemia, mas as reuniões de trabalho foram recentemente retomadas.

Graças a este esforço hoje sabemos mais sobre estas espantosas aves. Por exemplo, no ano passado foram registados naquela região 15 casais de cegonha-preta, 14 casais de águia de Bonelli e 104 casais de britango.

Destas três espécies, a águia de Bonelli é a que tem uma evolução mais positiva. “Esta espécie, que entre 1990 e 2010 apresentou uma marcada regressão, tem vindo a manifestar sinais de recuperação nos últimos anos, com a reinstalação de, pelo menos, 3 casais”, salienta o ICNF. As razões são ainda difíceis de apontar, mas este instituto lembra que a Junta de Castela e Leão aprovou e concretizou um Plano de ação específico para a Águia de Bonelli e que em ambos os países foram implementadas medidas de minimização dos riscos de eletrocussão e de colisão em dezenas de quilómetros de linhas elétricas de média tensão, e ainda o aumento da vigilância sobre os ninhos e o melhoramento da disponibilidade de alimento.

A cegonha-preta vive uma situação de “estabilidade, mantendo o número de casais”.

Cegonha-preta. Foto: Frank Vassen/Wiki Commons

O britango é a espécie que revela um declínio, ainda que ligeiro, de entre 10 a 15% desde 2016. Este declínio estará relacionado com “uma redução da disponibilidade trófica na zona envolvente, uma vez que a actividade pecuária e a paisagem têm sofrido alterações importantes, nomeadamente com o quase desaparecimento da pastorícia de percurso e de outras práticas pecuárias tradicionais”.

Estas mudanças implicaram uma “menor abundância de cadáveres de animais de criação, mas também a perda do típico habitat de alimentação “aberto” com consequente redução de alimento “silvestre””.

Há seis anos que aves adultas e juvenis estão a ser seguidas, equipadas com emissores via satélite. “Os estudos com esta tecnologia permitem acompanhar a espécie na sua migração para África, onde pode estar parte da causa do declínio da espécie no Douro Internacional.” No âmbito do projeto Life Rupis – executado entre 2016 e 2020 – foi detetado um número significativo de aves mortas por veneno (cerca de 50% das causas de morte), ou por eletrocussão/colisão em linhas elétricas (18%).

Aves rupícolas em Portugal e o papel do Douro Internacional

Em Portugal ocorrem regularmente mais de 30 espécies de aves rupícolas. O Parque Natural do Douro Internacional é considerado o seu principal santuário.

Espécies estritamente rupícolas como águia-real, grifo, britango, falcão-peregrino, gralha-de-bico-vermelho e andorinhão-real têm densidades de nidificação muito elevadas nos alcantilados fluviais do Douro e afluentes.

grifos num rochedo
Grifos. Foto: Dave Massie/Wiki Commons

Os efetivos dessas e de outras espécies assumem números ainda mais relevantes se adicionarmos a área espanhola homóloga, o Parque Natural de Arribes del Duero.

Para estas aves há uma boa notícia. “Perspectiva-se o alargamento da Zona de Protecção Especial do Douro Internacional e Vale do Rio Águeda, estabelecendo uma área classificada melhor ajustada aos imperativos ecológicos das aves”.

“Passará assim a integrar a quase globalidade das áreas vitais das populações de espécies rupícolas ameaçadas, parte significativa das áreas de alimentação e nidificação de Águia-caçadeira, e das áreas de nidificação, alimentação e invernada de Milhafre-real. Esta nova configuração equilibrará a relação entre as Zonas de Proteção Especial portuguesa e espanhola, englobando habitats, em diversidade e extensão, suficientes para assegurar a conservação das aves.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.