Lince-ibérico, cria. Foto: Programa Ex-situ (arquivo)

Centros de reprodução de lince-ibérico esperam cerca de 40 crias em 2019

Este ano deverão nascer entre 36 e 46 crias de lince-ibérico nos cinco centros de reprodução em Portugal e Espanha, segundo dados do Programa de Conservação Ex-situ dedicado a esta espécie Em Perigo de extinção.

 

A época reprodutora do lince-ibérico (Lynx pardinus) já vai adiantada na natureza mas também nos centros de reprodução que, há anos, trabalham para aumentar a população mundial desta espécie.

No Inverno foram estabelecidos os 26 casais reprodutores, “tendo em conta as instalações disponíveis em cada um dos centros de reprodução e as necessidades de animais para serem libertados nas diferentes áreas de reintrodução”, explica o Programa de Conservação Ex-situ.

As crias terão começado a nascer entre final de Fevereiro e final de Março. Está previsto o nascimento de  entre 36 e 46 crias.

Em 2018 nasceram em cativeiro 49 crias, das quais sobreviveram 39 (seis no Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI), em Silves). Destas, 33 estão a ser preparadas para a reintrodução na natureza na Andaluzia, Castela-La Mancha, Extremadura e Sul de Portugal.

À semelhança dos anos anteriores, cerca de 90% das crias que nasçam em 2019 serão preparadas para a sua libertação na natureza. As restantes passarão a fazer parte do grupo reprodutor do Programa de Conservação Ex-situ, “com o objectivo de manter uma adequada diversidade genética e equilíbrio demográfico”.

 

Desafio superado

“O desafio mais difícil para esta temporada reprodutora foi conseguir chegar a tempo de poder realizar todos os emparelhamentos antes do início do cio dos animais”, salientou o Programa. Isto por causa do incêndio que atingiu o centro de Silves (Portugal) no Verão passado e que obrigou à sua evacuação total, tendo os animais sido alojados nos restantes centros do programa ibérico de reprodução em cativeiro.

As obras de recuperação do CNRLI, em Silves, – onde já nasceram mais de 100 crias de lince – foram terminadas antes do começo da temporada de cópulas. “Em Dezembro todos os animais já estavam de volta ao centro português, o que permitiu que todos os centros pudessem realizar os emparelhamentos que tinham programados.”

 

Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

 

Agora, os 26 casais reprodutores deverão conseguir entre 36 e 46 crias, “tendo em conta os parâmetros reprodutivos registados no Programa até hoje (2005-2018)”.

Seis dos 26 casais estão no CNRLI em Silves, dos quais fazem parte as fêmeas Juromenha, Era, Kaida, Jabaluna, Biznaga e Artemisa. Artemisa e Biznaga estão entre o grupo de fêmeas reprodutoras com mais idade, com entre 12 e 14 anos.

Além destes seis casais, o centro português tentou, pelo terceiro ano, a inseminação artificial no lince-ibérico, com as fêmeas Flora e Juncia. “As primeiras tentativas, realizadas em 2017 e 2018, também no centro português, não tiveram êxito e as fêmeas não ficaram gestantes”, segundo o Programa de Conservação Ex-situ. Por isso espera-se com ansiedade o resultado das inseminações desta temporada para “se continuar a aumentar o conhecimento da espécie, com o objectivo de ajudar à sua conservação”.

O lince-ibérico tem tido uma história atribulada. No século XIX a população mundial da espécie estava estimada em cerca de 100.000 animais, distribuídos por Portugal e Espanha. Mas no início do século XXI restavam menos de 100. Então, os dois países juntaram-se para recuperar habitats e reproduzir animais. O programa Ex-Situ de reprodução em cativeiro é uma das peças deste quebra-cabeças conservacionista que ainda hoje não está resolvido.

 

Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

 

Hoje, esta é uma espécie classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Leia a nossa série “Como nasce um lince-ibérico” e conheça os veterinários, video-vigilantes, tratadores e restante equipa do CNRLI em Silves.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.