Pinguim-rei. Foto: Dfaulder/Wiki Commons

Desapareceu 88% da maior colónia de pinguins-rei do mundo

Ninguém sabe ao certo o que está a acontecer em Aux Cochons, ilha de um arquipélago no Oceano Índico entre a África do Sul e a Antárctida. Nesta reserva natural, a maior colónia de pinguins-rei do planeta, investigadores descobriram um declínio massivo destes animais desde o final dos anos 1990.

 

Este misterioso declínio foi denunciado num artigo publicado a 25 de Julho na revista científica Antarctic Science.

A colónia de pinguins-rei (Aptenodytes patagonicus) da ilha Aux Cochons, no arquipélago de Crozet, é conhecida há quase 60 anos. Com os seus 67 quilómetros quadrados, é famosa por ser a maior colónia desta espécie em todo o mundo e a segunda maior colónia de pinguins no geral.

Mas o facto de estar isolada e de ser pouco acessível explica a falta de estimativas recentes sobre o número de indivíduos da colónia. A última expedição científica à ilha aconteceu em 1982 e registou 500.000 casais reprodutores, ou seja, uma população de mais de dois milhões de pinguins.

Recentemente, investigadores do Centro de Estudos Biológicos de Chizé (CNRS/Universidade de La Rochelle) utilizaram imagens de satélite de alta resolução para medir as alterações no tamanho da colónia, desde essa visita nos anos 80. Analisaram os limites da colónia, ano após ano, e deram-se conta de que o número de pinguins diminuía.

Um voo de helicóptero sobre a ilha, no âmbito de uma expedição científica à Antárctida, permitiu-lhes confirmar a surpreendente redução da colónia.

Em 2017, o número de casais estava reduzido a cerca de 60.000.

 

Vista da colónia em 1982. Foto: Henry Weimerskirch

 

Vista da colónia, a partir de helicóptero, em 2016. Foto: Peter Ryan

 

De acordo com os investigadores, o declínio começou no final dos anos 1990, coincidindo com um episódio climático no Oceano Austral ligado ao fenómeno El Niño. Este poderá ter causado uma diminuição do alimento disponível para os pinguins.

Os cientistas não conseguem explicar ao certo as causas deste declínio tão acentuado. Além das condições ambientais, outra hipótese podem ser as doenças e parasitas. Estas, acrescentam, “podem afectar gravemente as populações de aves marinhas, reduzindo o sucesso reprodutivo, a sobrevivência dos adultos e as taxas de crescimento da população”.

Ainda assim, “todas as hipóteses parecem insuficientes para explicar uma redução a esta escala”, escrevem os investigadores. “A causa deste declínio massivo continua a ser um mistério que precisa ser resolvido”, concluem.

É que apesar de o declínio ter começado há, pelo menos, 20 anos, “parece estar a continuar e as suas causas podem ainda estar activas”.

Para conseguir compreender melhor as causas desta redução, os cientistas defendem ser necessário estudar a colónia no local, a partir da terra e do mar. Entre as prioridades estão o estudo da possível presença de doenças ou parasitas e os efeitos de eventuais predadores.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.